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Nasce um centro cultural na Ribeira

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Ramon Ribeiro
Repórter
Colaborou: Cinthia Lopes (Editora)

Via que marcou época na Natal da primeira metade do século XIX, a Rua Dr. Barata, na Ribeira, chegou a abrigar as mais chiques lojas de roupa e tecido da cidade. Hoje o perfil dos estabelecimentos é outro bem menos refinado, com oficinas e armazéns de maquinários. Durante o dia, muito movimento de carros. À noite, um completo vazio. Dos antigos prédios e fachadas, alguns ainda resistem de pé, outros, se desmanchando aos olhos dos passantes. Mas um sopro de revitalização pode surgir com a chegada da Galeria de Arte B-612, mais novo empreendimento cultural do empresário potiguar Anchieta Miranda – proprietário da antiga galeria Anjo Azul, no Tirol.

O prédio foi construído em 1934, originalmente para ser um banco, a Caixa Rural. Nas décadas de 70 e 80 deu lugar à livraria Clima, onde Jorge Amado autografou o best seller “Tieta do Agreste”. A fachada ainda guarda um  alto-relevo em cimento, do artista Jordão
A fachada do prédio ainda guarda um alto-relevo em cimento, do artista Jordão

A nova galeria vai funcionar no número 216 da rua Dr. Barata, quase em frente a dois antiquários. O prédio foi construído em 1934, originalmente para ser um banco: a Caixa Rural. Nas décadas de 70 e 80 deu lugar à Livraria Clima, onde Jorge Amado chegou a lançar o best seller “Tieta do Agreste”. Posteriormente veio a abrigar a Gráfica Offset. Na fachada há uma grande escultura em cimento do artista potiguar Jordão – autor do Anjo Azul, obra de concreto que ocupava o jardim da antiga galeria de Anchieta.

A aquisição do imóvel pelo empresário se deu há 15 anos, num leilão. Mas na ocasião não existia a ideia de montar uma galeria. Este plano surgiu recentemente e foi colocado em prática somente em dezembro de 2016, quando as obras de reforma do espaço foram iniciadas. “É um imóvel com características de um prédio antigo. Essa estrutura favoreceu nosso trabalho, se enquadra na nossa proposta. O que foi possível restaurar foi restaurado”, conta o proprietário em visita da reportagem ao espaço em obras. A previsão de abertura da galeria ainda não tem data definida.

“Asteroide B-612”
O novo da galeria faz referência ao asteróide onde vivia o Pequeno Príncipe, personagem criado pelo escritor Antoine de Saint-Exupéry, e, coincidentemente, é o número do imóvel ao contrário. Segundo Anchieta, a nova empreitada não tem como foco desenvolver um ambiente com foco comercial. “Estou numa certa idade e não quero mais fazer coisas convencionais. Penso nesse lugar como um espaço de convivência, onde se vai discutir arte, principalmente a arte potiguar”, explica o potiguar. Discreto, ele não se define como colecionador nem como marchand: é simplesmente um amante das artes. “Desejo com a galeria aproximar o artista do público local”, ressalta.

Empresário quer contribuir para revalorização do bairro que já foi centro comercial e social

Empresário quer contribuir para revalorização do bairro que já foi centro comercial e social

Sua maior preocupação, diz, não é causa impacto com a inauguração, mas sim tornar o espaço pulsante dia a dia. Nesse sentido, o perfil da galera será construído em sua dinâmica. Mas um linha mestra deverá guiar os trabalhos que ficarão expostos. “Na importa a linguagem, se a obra é antiga ou contemporânea, todo trabalho terá espaço, desde que que se enquadre no que eu chamo de bem, bom e belo”, conta.

Escadarias, café e dois elevadores
Para não gerar tanta expectativa, Anchieta não permitiu fotos no interior do prédio. Mas as obras de restauração e reforma estão bem adiantadas. O espaço é amplo e compreende três ambientes. O primeiro é onde ficarão as obras em exposição, no posterior vai funcionar um café e o último ambiente será um ateliê em que futuramente serão realizados cursos e oficinas. Os três ambientes também são interligados pelo primeiro andar. 

No térreo, o cofre original foi preservado e deve receber obras de artes. As duas escadas em espiral que levam ao primeiro andar também foram mantidas. Para chegar ao piso superior ainda foi construída uma escada central no hall de entrada e instalados dois elevadores. As telas e esculturas ocuparão as paredes de baixo e de cima. Algumas obras pesadas já foram instaladas. São azulejos de Francisco Brennand e esculturas de Jordão e Índio.

Espaço terá galeria no perfil da Anjo Azul, que funcionou no Tirol
Galeria Anjo Azul, que funcionou no Tirol há alguns anos, pertenceu ao Anchieta Miranda. Foto: Arquivo TN 

No hall de entrada haverá um espaço de leitura com biblioteca focada em livros de artes. Também haverá um memorial com peças antigas, como máquinas de escrever, mata borrão, dentre outros apetrechos para que as gerações mais novas tenham conhecimento de como as coisas funcionavam no passado.

O espaço é repleto de detalhes carregados de histórias. São pedaços de ferros, madeiras e cerâmicas, que foram incorporados a arquitetura. As peças são garimpadas por Anchieta em sucatas e entulhos de demolição. “Gosto dessas coisas, imagino o quanto foram usadas. Guardo as peças e procuro o momento certo de reutilizá-las”, diz o empresário. Empolgado com o trabalho, ele conta que vai encontrando soluções para as suas peças garimpadas a medida que as obras de reforma avançam. “É um trabalho lento, de paciência e dedicação. Como diz aquela música, ando devagar porque já tive pressa”.

Sobre a escolha do bairro da Ribeira para abrigar a nova galeria, Anchieta têm duas explicação. Uma afetiva e outra estratégica. “A rua Dr. Barata tem um potencial muito grande. Grande parte do tráfego de carros que vem da ponte passa por aqui. É um caminho natural”, argumenta com sua visão de comerciante.

A outra justificativa se refere a preocupação que sente com o estado em que se encontra o bairro. Mas ele não é de lamentações. Quer agir e por isso veio para a área. “Mas isso não é filantropia. A meta é tornar a galeria sustentável”, reforça. “Nas principais cidades do mundo os bairros de importância histórica são valorizados. Em Natal ainda precisamos fazer a nossa parte com relação a Ribeira”.

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