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“Natal não pode desperdiçar a vinda da Copa”

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O português Mário Augusto Carvalho, diretora para América Latina da Tap, tem uma estreita relação com o Nordeste e uma participação importante no mercado de turismo da região. Ainda trabalhando na extinta Vasp ele começou a prospectar o mercado nordestino para o turista europeu. Uma aposta, há 20 anos, que surgiu como alternativa ao Rio de Janeiro, principal destino da época e que enfrentava (como ainda enfrenta) problemas de segurança.

Aposta feita, aposta ganha.  O projeto Nordeste deu certo. Mas, hoje, as preocupações são mais intensas, principalmente com o vender desse destino. Com a autoridade de quem é diretor de uma grande companhia aérea européia, Mário Carvalho observa que é preciso vender o destino especificamente para o cliente final. A mensagem é uma lição direta para Natal, que chegou a ter cinco vôos semanais regulares da Tap e hoje tem apenas três.

E o português ainda alerta para um grande problema brasileiro: a qualidade dos serviços. Paga-se caro por um serviço ruim, sentencia Mário Carvalho.

O diretor da Tap, que recentemente esteve em Natal para receber o título de cidadão natalense conferido por proposição do vereador Júlio Protásio, é o convidado do 3 por 4.
Mário Augusto Carvalho é português e atua como diretor internacional da Tap
O senhor tem mais de três décadas atuando no mercado de turismo. O que foi determinante para essa sobrevivência e chegar ao cargo de diretor da Tap?
Na realidade eu tive a sorte de trabalhar em diversos mercados e diversas companhias, na verdade. Eu comecei na Tap quando tinha aproximadamente 20 anos, em São Paulo. Na Tap eu trabalhei em São Paulo mesmo. Depois fui para o interior de São Paulo, em Campinas, e posteriormente eu fui para Argentina, daí eu fui para o Canadá. São sempre mercados que vão lhe puxando muito. Enquanto o mercado brasileiro tem suas características, os outros têm algumas diferentes. Na verdade, os mercados são muito parecidos, mas cada um tem suas peculiaridades. Então eu trabalhei nesses três mercados na Tap, no Brasil, Argentina e Canadá. Mas no Canadá eu saí da Tap, pedi demissão, voltei para o Brasil e fui trabalhar em uma empresa canadense que não existe mais. Nessa empresa eu era baseado no Rio de Janeiro e em São Paulo. Depois eu fui para Vasp. Lá (na Vasp) trabalhei sempre na área internacional, nos mercados exteriores. Baseado em São Paulo eu fiz o mundo todo, praticamente, Estados Unidos, Ásia, Europa. E posteriormente fui ficar baseado em Bruxelas, na Bélgica. De lá começamos a colocar voos para o Nordeste até porque na altura o Rio de Janeiro ainda era o mais conhecido, mas passava por uma fase muito complicada de insegurança. Então, o povo europeu não queria vir muito para o Brasil que era o Rio de Janeiro. E aí criamos esse produto que é o Nordeste. E estamos falando de 20 anos atrás. O nosso projeto era o europeu vir diretamente para o Nordeste, sem passar pelo Rio de Janeiro.

O senhor criou o produto chamado Nordeste no mercado europeu. O que lhe motivou a isso?

Justamente por causa da imagem que o Rio de Janeiro tinha. No Nordeste não havia violência. Era uma coisa que o operador, o agente de viagem não conhecia bem o Nordeste. Aí nós começamos a trazer os operadores para o Nordeste. Isso eu ainda fiz quando estava trabalhando na Vasp.

Hoje como o senhor vê esse produto Nordeste, com o problema da insegurança? O senhor teme pela inviabilidade desse produto para o turismo internacional?
Não. Acho que não. Se as autoridades responsáveis pelo turismo nos Estados ou o próprio Governo Federal começarem a ter uma atitude mais proativa, mais de investimento na divulgação do produto, o Nordeste tem tudo para ser um dos melhores destinos do mundo. Tem é que melhorar muita coisa e divulgar mais o Nordeste.  As pessoas, os turistas, não gostam de ver sujeira e nem pobreza. Ele quer alguma coisa mais limpa. É preciso melhorar  a qualidade o serviço. Que as pessoas que atuam no segmento falem línguas, pelo menos inglês. O que o Nordeste precisa é melhorar a qualidade do serviço. O que eu tenho dito muito é que praia todo mundo tem. existem muitas praias no mundo. Se você atrair apenas pelo sol e pelo mar não resolve. Precisa ter mais serviço, agregar ao produto.

Nesse contexto que o senhor relata agora, como se enquadra a cidade de Natal neste momento?

Neste momento acho que nos últimos anos Natal tem perdido muito tráfico aéreo. Isso não só devido a esse pouco investimento em relação a divulgação do destino, mas também por conta de uma crise econômica na Europa forte. Claro que a Europa vai se recuperar, disso eu não tenho dúvida. Então é um momento, até oportunizando os eventos mundiais que o Brasil vai sediar, Natal é uma das sedes da Copa (Copa do Mundo de 2014). Mas isso (a Copa, os eventos mundiais que o Brasil vai sediar) precisa ser usado como vitrine, como alavanca para criar a vontade do turista vir para Natal. Isso não pode ser desperdiçado. Mas só que o turista não pode vir só para Copa. Ela (a Copa) é apenas o motivo. A Copa são 15 dias ou um mês. E o que acontecerá no resto do ano?

O senhor fala em divulgação. Neste foco, como tornar, como fazer uma divulgação efetiva e eficiente do turismo?

Acho que precisa atingir o público final. O que tem sido feito nos últimos anos é falar só com agente de viagem ou só com operador. Tem que partir para o público consumidor. Precisa ser mostrado o que Natal tem, quais são as atrações e convencê-lo (o cliente final) a pedir para o agente de viagem a programar uma viagem para Natal.

Comparando o mercado brasileiro com o de outros países da América do Sul, onde o senhor atua, qual a principal distinção do mercado brasileiro? O que há de fator mais delicado neste nosso mercado?
Eu diria que o serviço. A qualidade do serviço realmente preocupa. É preciso melhorar a qualidade do serviço. O Brasil é considerado caro, por conta do câmbio, mas a qualidade, o preço essa história de dizer que o Brasil é caro, digo que é caro face o serviço que presta. Com essa falta de qualidade do serviço o Brasil fica mais caro ainda. Se o serviço é ruim e você ainda paga caro. Agora se você paga caro e tem um ótimo serviço fica mais barato. É por aí. Os outros países têm uma atividade tão específica no sentido de atrair é mais o habitante que sai daqui para ir para Europa.

Como o senhor avalia a peculiaridade do Brasil, onde tem um preço mais baixo viajar para outro país do que fazer o turismo nacional?
Isso é por conta do câmbio e do custo Brasil.

Na sua visão, isso (o custo do turismo internacional ser mais barato do que o turismo nacional) é maléfico?
Acho que é sim. Você tem economias como a de Natal, que vive praticamente o turismo, tem toda uma cadeia. Se não atentar para esses detalhes, se não dedicar atenção aos serviços, não se dedicar a criar atrações, a pessoa que vem para cá por causa do mar e sol se está chovendo faz o que? Vai para o shopping? O Europeu não vem para ver shopping.

O que esperar da Tap nos próximos anos?
A Tap é uma empresa que está há mais de 40 anos no Nordeste, em Natal está há 14 anos se não estou enganado. Já tivemos mais vôos semanais para Natal. Hoje temos três vôos, chegamos a ter cinco vôos. E obviamente uma transportadora, como é o nosso caso, vive de ter passageiros. Se a demanda, se o trade todo, o Governo aumenta a demanda do europeu para vir para cá, mais vôos colocaremos.

A médio prazo corremos o risco, com essa queda no número de passageiros, da Tap reduzir ainda mais o número de voos?
Se a demanda aparecer vamos colocar mais. Mas não há planejamento sobre isso neste momento.

Depois de três décadas no mercado de turismo, qual o planejamento profissional do senhor?

Continuar nessa batida, nessa linha. Operamos em dez cidades do Brasil e o país ainda não está todo coberto. É um continente e acho que ainda há espaço no futuro próximo de crescer mais alguns destinos no Brasil.

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