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Natal registrou dois linchamentos em 48 horas

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Dois linchamentos  aconteceram em Natal em menos de 48 horas, nas noites da última quinta-feira, 11, e sexta-feira, 12. A primeira vítima, não identificada, foi espancada e baleada depois de assaltar um ônibus. A segunda foi Matheus Miranda, um jovem de 18 anos que também foi espancado e vítima de facadas depois de ter atropelado uma criança de cerca de dois anos no bairro Dix-Sept Rosado ao perder o controle da moto em que pilotava. Segundo dados do Observatório da Violência Letal Intencional do Rio Grande do Norte (Obvio/RN), foram 2 casos de linchamento e 11 casos de reação de cidadão a delitos no RN este ano.

Após assalto a ônibus, um homem foi perseguido por populares, espancado e morto a tiros no bairro da Ribeira
Após assalto a ônibus, um homem foi perseguido por populares, espancado e morto a tiros no bairro da Ribeira

A Polícia Civil investiga os casos de linchamento, mas ainda não sabe o número exato de participantes em cada um, nem o nome. Os dois foram os primeiros que tiveram a participação coletiva da população. Desde 2015, o Obvio registrou 125 casos, em três situações: justiça popular, quando a ação é coletiva; reação de um cidadão a um delito e reação de um policial de folga a um delito, quando os casos são feitos por uma pessoa. A situação mais comum foi reação de um cidadão a um delito, com 11 casos em 2018 e 72 entre 2015 e 2018.

Os casos não tiveram ligações, mas, para especialistas, são resultados de omissão do Estado em punir os crimes e da perpetuação da violência. Isso resulta de uma falta de confiança nas instituições. Na avaliação de Ivênio Hermes, coordenador do Obvio e especialista em segurança pública, essa reação é “fruto direto da ausência do Estado em punir e coibir o crime ou não sendo célere nessa ação”. “Isso leva o cidadão a se sentir abandonado por aqueles que deveriam lhe proporcionar a segurança, e despertando nele o senso de justiça que ele não percebe no estado”, acrescenta.

O linchamento é, geralmente, feito depois de um delito ser cometido e o responsável ser pego em flagrante. Ambos casos do último fim de semana foram nessas situações. A primeira ocorreu depois de um assalto a ônibus, depois do criminoso fugir para o bairro das Rocas. Lá, foi pego e arrastado por dois quarteirões por algumas pessoas. Acabou sendo morto na rua General Glicério. O corpo apresentou sinais de espancamento e perfurações de bala.

Já o caso que vitimou Matheus Miranda aconteceu depois que ele perdeu o controle da moto em que estava, na avenida dos Caicós, subiu na calçada e atingiu uma criança, que faleceu logo após o choque, próximo à casa onde morava.  Matheus tentou fugir do local, mas foi alcançado por populares, que o espancaram e o esfaquearam. Segundo os relatos, o jovem de 18 anos perdeu o controle depois de tentar empinar a motocicleta.

Psicóloga Taciana Chiquetti afirma que “projeção da agressividade” contribui para linchamentos
Psicóloga Taciana Chiquetti afirma que “projeção da agressividade” contribui para linchamentos

De acordo com a psicóloga Taciana Chiquetti, outro fator que contribui para os linchamentos, além do citado por Ivênio Hermes, é o “efeito manada” e a projeção da agressividade no outro. “A agressividade é uma energia que todos nós temos, mas podemos canalizar ela para o positivo, como a disposição de ir buscar as coisas, ou para a violência”, explica. “Nesses casos de linchamento, o que acontece é que a pessoa projeta no outro que ele é o agressivo e desconta a raiva nele”.

A disseminação dos símbolos da violência, como vídeos de assassinatos, linchamentos e outros, com a facilidade de veiculação em aplicativos de smartphones, também são um fator que provocam o comportamento violento. “Isso atiça a nossa energia para a violência, e, a medida que você vai vendo isso, você vai despertando essa violência interior”, acrescenta.

Não são novos os casos de linchamento no Rio Grande do Norte, nem no Brasil. Alguns casos tiveram destaque nacional porque as vítimas foram confundidas com criminosos.  Em 2014, Fabiane Maria de Jesus foi linchada por moradores do Guarujá, litoral de São Paulo, até a morte, após acharem que ela se tratava de uma suposta sequestradora de crianças, cujo retrato falado havia sido feito dois anos antes e estava circulando nas redes sociais. A mulher tinha 33 anos, era dona de casa casada e mãe de duas crianças.

Números
Justiçamento popular

2015 –  0

2016 – 5

2017 – 8

2018 – 2

Reação de um cidadão a um delito

2015 -11

2016 – 27

2017 – 23

2018 – 11

Reação de um policial de folga a um delito

2015 – 6

2016 – 5

2017  – 20

2018 –  7

Fonte: Observatório da Violência Letal Intencional do Rio Grande do Norte (Obvio/RN)

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