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Natal tem a isca certa, mas precisa acertar a pontaria

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Andrielle Mendes – repórter

Captar 100 eventos para Natal e gerar com isso cerca de R$ 300 milhões em negócios. A meta do Natal Convention Visitors Bureau (Natal CVB) para os próximos dois anos é bastante ousada. A entidade, que tem como principal objetivo gerar negócios em Natal através da captação de congressos e feiras, conseguiu captar 100 eventos entre 2001 e 2009. Agora George Costa, diretor executivo, quer repetir a marca, em dois anos. “Acredito que vamos alcançá-la”. Há espaço e argumentos para isso. Segundo pesquisa encomendada pela Natal CVB à Fecomercio em 2010, cada turista de eventos que vem a Natal deixa em média R$ 500 por dia na cidade. O valor sobe de acordo com o poder aquisitivo do público convidado. Em 2010, chegou a R$ 2 mil por congressista. Além disso, o turista de eventos chega antes, traz acompanhante, passeia na cidade, vai ao supermercado, pede nota fiscal. É um turista que precisa ser fisgado. Natal, segundo George, reconduzido ao cargo após dois anos à frente da diretoria executiva, tem as iscas certas, mas precisa acertar a pontaria. “Quando a gente diz que Natal vai concorrer, outras cidades começam a retirar sua candidatura. Eles sabem que não tem o apelo nem a estrutura que nós temos”. George teme, porém, que descaso com a cidade atrapalhe os planos.

George Costa, diretor executivo do Natal Convention Visitors BureauVocê acaba de ser reconduzido à Diretoria Executiva do Natal Convention Visitors Bureau. Quais os planos?

Nossa meta é captar 100 eventos para Natal nos próximos dois anos. É uma meta ousada. Desde que foi criado (em 2001) até agora, o Natal Convention Bureau captou 100 eventos. A gente quer fazer isso até 2014. A cidade tem potencial para isso. Tem bons equipamentos, bons hotéis, um centro de convenções funcional, bem localizado. Além disso, tem uma capacidade ociosa muito grande, o que é um ponto a favor na hora da captação. Com isso, a gente consegue melhores preços e menores tarifas.

Quantos eventos o Natal CVB captou nos últimos três anos?

Em 2009, captamos 18. Em 2010, 27 (mais de 50% a mais). Em 2011, 40. Entre 2010 e 2011, o crescimento foi superior a 100%. Os 40 eventos que captamos no ano passado vão trazer para Natal nos próximos quatro anos mais de 60 mil pessoas. Essas 60 mil pessoas vão injetar na economia local mais de R$120 milhões. Este dinheiro não entraria aqui, se o evento não viesse para cá. Iria para o Estado que captasse o evento. O RN dificilmente compensaria esta perda.

O Natal CVB quer captar 100 eventos para Natal nos próximos dois anos. Vocês já calcularam quantas pessoas virão e quanto elas injetarão na economia?

O número de visitantes e o valor injetado na economia variam de acordo com o porte dos eventos. Considerando a média obtida com os 40 eventos captados no ano passado, os 100 eventos poderão trazer 150 mil visitantes que injetarão R$ 300 milhões na economia local nos próximos quatro anos.

O valor é alto. Sabe-se quanto cada turista de eventos, foco do Natal CVB, deixa em Natal?

Procuramos a Fecomercio e pesquisamos o perfil do turista que participou de quatro eventos em Natal em 2010. Essa pesquisa mostrou que o visitante que participou do evento de menor poder aquisitivo gastou, em média, R$ 500 por dia. O de lazer gasta em torno de R$ 180. O turista de eventos gasta no mínimo três vezes mais. Sabe por quê? Oitenta por cento deste gasto é bancado ou pela empresa onde ele trabalha ou por um patrocinador que mandou o congressista para cá ou pelo governo através de bolsas. Se ele não precisa pagar hospedagem, passagens, deslocamento, irá aos melhores restaurantes, à praia, ao shopping. É natural que isso aconteça. E ainda gasta de forma oficial, o que é muito bom para o governo. Ele pede nota fiscal, porque precisa prestar contas quando voltar. Isto gera imposto. Com o turista de lazer muitas vezes isso não acontece. É por isso que este segmento é explorado no mundo inteiro. É o tipo de turismo que deixa mais receita no estado. E isso foi comprovado por pesquisa local. Estes números bateram exatamente com os levantados pela Embratur há dez anos. Segundo a Embratur, um turista de evento gasta em média U$ 220 no Brasil. Antes de fazer a pesquisa em Natal, eu dizia: ‘esses caras devem ter feito esta pesquisa em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, onde tudo é mais caro. Essa não é a nossa realidade’. Mas foi batata. O valor gasto aqui variou entre R$ 501 e R$ 2 mil. Natal tem este potencial.

Que outros dados fazem com que este visitante se diferencie dos demais?

Cinquenta por cento dos turistas de eventos que vêm a Natal ou chegam um dia antes ou vão um dia depois, ampliando sua permanência na cidade; se tornando, portanto, também um turista de lazer. Além disso, 15% deles trazem acompanhantes. Pessoas que não assistem a nenhuma palestra, que só vem para passear. Tudo isto aumenta o valor gasto. 86% deles também querem trazer a família depois. Além disso, 18% visitam feiras de artesanato; 22% visitam as praias; 25% vão a restaurantes; 26% vão a shoppings e 33% compram em supermercados. A cadeia é muito ampla.

Ainda é difícil convencer o Governo com estes números?

Se o Governo fizer a conta, bota dinheiro aqui para trazer mais gente. Se o governo considerar apenas os efeitos na cadeia do turismo, não vai se convencer, apesar dos números serem fortes. Eles precisam compreender que incentivar a captação de eventos científicos é contribuir para a formação de cientistas, técnicos, professores e estudantes potiguares.

Qual a participação do turismo de eventos no total?

O turista de eventos representa apenas 10% de todos os turistas que vêm a Natal. De 100%, só 10% vem para participar de um congresso. Temos um campo muito grande para crescer. Natal só despertou para esta modalidade de turismo a partir da reforma do Centro de Convenções, em 2007. Queremos elevar esta participação para 20%. Como a gente estava adormecido há muito tempo os caras (os estados vizinhos) deitaram e rolaram em cima da gente.

Em quanto tempo será possível atingir esta meta?

A gente quer atingi-la até o final de 2014. Serão três anos de muito trabalho. Mas acredito que vamos conseguir.

Qual o impacto disso?

Se alcançarmos 20% do total, digo com toda convicção que 50% da receita do turismo em Natal vai vir de eventos. Vinte porcento equivale a muito mais dinheiro.

O Convention trabalha sempre a médio e longo prazo. É isso o que falta às secretarias de turismo?

É. A Secretaria de Turismo não é executora. Não é uma secretaria-fim. Não é atribuição dela solucionar problemas pontuais, mas é sua responsabilidade ver adiante. Este é um papel muito importante. A secretaria também precisa trabalhar as estatísticas. Não ter números confiáveis sobre o setor é um erro muito grave. A gente sabe que São Paulo é o principal emissor dentro do Brasil. Tudo bem. Mas quem é o paulista que vem a Natal? Qual o seu perfil? Não custa nada fazer uma pesquisa. Basta conversar com ele no aeroporto, na rodoviária, na praia. Desta forma, você vai descobrir quem ele é e como ele avalia a cidade. Assim, conseguirá aplicar de forma mais eficiente os recursos. Vamos supor que 90% deles estão satisfeitos com as praias. Ótimo. Mantém-se as ações nesta área. Mas vamos supor que 20% deles não estão satisfeitos com os bares e restaurantes. Cabe a secretaria chamar a entidade que representa o setor e corrigir as possíveis falhas. Este é o papel regulador da secretaria. 

Até porque para obter recursos junto ao Ministério do Turismo, precisa-se apresentar números…

Como vão provar que o setor precisa de mais investimento? Como não há dados, as secretarias não conseguem enxergar um palmo a frente. “Preciso ir na secretaria de planejamento pedir diárias para o evento que será realizado em fevereiro”. Este é o máximo de visão que o pessoal consegue ter. É muito difícil trabalhar assim. Todo dia apagando incêndio.

Trabalhando de forma emergencial e paliativa…

Não funciona. Se você trabalhar assim, principalmente a nível de governo, onde as coisas são lentas e difíceis pela burocracia, não vai dar certo. É uma pena. Como a secretaria de turismo não é executora, ela deveria pensar ações a médio e longo prazo.

Como você avalia o momento vivido pelo turismo potiguar?

O Turismo está vivendo uma crise. Principalmente o de lazer. O de eventos está conseguindo gerar bons negócios, mas não vai resolver a situação, porque só representa 10% do total. A queda no turismo de lazer reflete uma desatenção com o setor. As pessoas vem a Natal, gostam e recomendam para outras. Durante muito tempo Natal surfou sozinha nesta onda, mas não houve investimento em promoção. A onda agora diminuiu. Somos o primeiro a sentir. É preciso  reverter esta situação. Se não mudarmos este quadro neste semestre, haverá demissões. Ninguém segura. Muita gente acha que o turismo em Natal está muito bem. Mas não é bem assim. É preciso investir em divulgação.

É por isso que Estados vizinhos, como Ceará e Pernambuco, conseguem avançar e a gente não?

É. Precisamos divulgar o destino entre a Classe C. O Rio de Janeiro ainda é o destino turístico mais procurado. Mas o Nordeste tem um apelo muito forte. Por ser uma das sedes da Copa, Natal será divulgada internacionalmente até 2014. É preciso aproveitar esta exposição. Para isso, precisamos manter a cidade limpa e segura. Manter a marca da cidade conquistada nos últimos 20 anos. Não podemos perdê-la. Nosso receio é que Natal perca a sua marca com todo este descaso. Uma cidade não perde turistas em um mês, a não ser que ocorra algo pontual e grave. Mas se não cuidar de seu produto, perderá gradativamente os turistas.

Aproveitando a resposta, a exposição que Natal conquistará durante a Copa pode ser negativa, se a cidade não estiver bem cuidada, segura e limpa?

Se a Copa fosse amanhã e só o estádio estivesse pronto, acredito que Natal não enfrentaria graves problemas. Nossa hotelaria suportaria, nossa malha rodoviária suportaria, nossos corredores turísticos suportariam. É óbvio que se a copa fosse agora em fevereiro, prefeitura e governo realizariam um mutirão para deixar tudo organizado. Isso é óbvio. Se não der certo nenhuma obra no Brasil, vai ser feriado no dia do jogo. Isso por si só já resolve a questão do trânsito. Natal é uma das poucas sedes que já tem uma infraestrutura que suporta o evento. É por isso que esta questão não me preocupa. Acho que perderíamos uma ótima oportunidade de crescimento para nós cidadãos. A gente quer que as coisas aconteçam. São mais de 5 mil municípios com inveja de 12. O dinheiro está sendo canalizado para cá. Conseguir recursos federais é muito difícil.

As pessoas dizem que os jogos que sediaremos não serão expressivos. Mas sorteio é sorteio. Vai ter um cabeça de chave jogando aqui. Pode vir uma Espanha. Uma Alemanha. Uma Inglaterra. Vai ter um Japão também? Vai. Não se pode levar quatro jogos de primeira linha. Mas também ninguém leva. A gente tem certeza que a exposição será  positiva. O turista vai escolher Natal. A última copa que reuniu futebol e praia tropical foi em 86. A gente conversa com o pessoal do Convention Bureau de todo o Brasil e o pessoal diz: ‘vocês do Nordeste vão se dar muito bem’. O turista vai assistir o jogo em Porto Alegre, mas vai querer passar as férias dele na praia. O Nordeste reúne tudo o que os turistas querem. Natal também. Tomara que não passe 15 dias chovendo. Vamos torcer para que isso não ocorra (risos).

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