sexta-feira, 29 de março, 2024
30.1 C
Natal
sexta-feira, 29 de março, 2024

Natalense desaparece na cratera

- Publicidade -

MULHER E MÃE - Thaís, grávida de Wescley, e a sogra, Elenilda da SilvaHá praticamente quatro dias uma família potiguar não tira os olhos da televisão, à espera de novas informações sobre os trabalhos de resgate dos veículos que foram tragados pela cratera que se abriu no canteiro de obras da Estação Pinheiro, em São Paulo. Toda a expectativa é porque o natalense Wescley Adriano da Silva, de 22 anos, estava no microônibus que caiu no buraco de 30 metros de profundidade. 

A maior parte da família do jovem mora em Natal e desde que soube da notícia, na madrugada de sábado (13/01), vive a angústia da espera por notícias de Wescley, que até ontem continuava desaparecido.

Tios e primos do rapaz estão todos reunidos na casa da avó paterna Floriza Monteiro da Silva, no bairro das Quintas, em Natal. O abatimento é visível. Uma das tias, Josileide Monteiro da Silva, disse que Wescley foi para São Paulo ainda criança com a mãe, Elenilda Adriano da Silva, mas visitava Natal com freqüência nas férias. A última vez que esteve na cidade foi em 2004.

Em São Paulo, trabalhava ultimamente como cobrador de microônibus da empresa Transcooper. “Ele tem duas irmãs que moram lá, Aline, de 17 anos, e Amanda, de 14, e uma mulher que está grávida de oito meses”, disse Josileide.

O deslizamento de terra que abriu a cratera aconteceu na tarde de sexta-feira. Às 3 horas da madrugada de sábado, a mãe de Wescley ligou para a família em Natal, dando a notícia. O pai dele, Jailson Ferreira da Silva, que mora em Natal, viajou a São Paulo no mesmo dia. No domingo, com os custos pagos pela empresa Transcooper, o avô paterno de Wescley, José Ferreira, também seguiu para São Paulo.

Na casa em que os familiares de Natal estão reunidos, a televisão fica ligada direto. O clima é de muita angústia e apreensão. “Estamos acompanhando os jornais pela tv desde que a triste notícia chegou. Também acessamos constantemente a internet para saber alguma informação. E tem o pessoal que está lá com quem a gente fica sempre em contato por telefone. A empresa de Wescley forneceu um celular ao pai dele pra gente poder se comunicar sem custos”, falou Josileide.

Ontem à tarde ela e os outros familiares ainda estavam com esperanças de que Wescley estivesse vivo. “Tem que manter a esperança”, disseram Janilson e Joseni, tios do rapaz. Os dois, que moram em São Paulo mas estão na capital potiguar de férias, contaram ter passado o natal com o sobrinho.  “Com esse acontecimento trágico, as férias foram interrompidas pela metade”, lamentou Joseni.

Mãe de cobrador espera encontrar o filho vivo

São Paulo (AE) – “Não vou sair daqui até encontrarem meu filho”, disse ontem Elenilda Adriano da Silva, de 40 anos, sentada à beira da cratera aberta com o desmoronamento na Linha Amarela do Metrô. Elenilda é mãe de Wescley da Silva, de 22 anos, cobrador da van soterrada no acidente. Desesperada com as inúmeras tentativas sem sucesso de resgate do coletivo e com o descrédito geral de que seu filho ainda estivesse vivo, ela fez a única coisa que lhe restou: mostrou a todos que não perderia a esperança. “Sei que ele está vivo”, dizia, 72 horas depois do acidente. Elenilda ficou sentada na margem do buraco das 17 horas de domingo até as 16 horas de segunda-feira.

Psicólogos, assistentes sociais e mesmo a família tentaram, por várias vezes, tirá-la de lá. Ela não quis. No fim da tarde de ontem, quando os bombeiros confirmaram que haviam localizado um corpo dentro da van, Elenilda resolveu ir até o hotel para tomar um banho. Disse que precisava se arrumar para receber o filho. O corpo encontrado, porém, era de uma mulher. “Minha irmã não aceita a idéia de que meu sobrinho esteja morto”, disse Margarete Araújo, de 47 anos, irmã de Elenilda.

O pai de Wescley, Jailson Ferreira da Silva, de 43 anos, que mora em Natal, chegou à cidade e já apareceu na tenda. Por volta das 20h30, o padre Carlos Eduardo dos Santos, da Paróquia de Nossa Senhora de Mont Serrat, também se juntou aos familiares de desaparecidos. Santos é o mesmo que rezou a missa da abertura dos trabalhos de construção da Linha 4, no Largo da Batata, em 2005.  

Enquanto os esforços dos bombeiros estão focados no resgate da van, os familiares do motorista de caminhão Francisco Sabino Torres, de 46 anos, ficam a cada dia mais desolados. “O caminhão do meu pai caiu no outro lado do buraco e ninguém procura”, diz Kely Torres, filha de Francisco. O motorista era casado havia 20 anos com a dona de casa Maria Sinhazinha Torres, com quem teve três filhos. O caçula tem14 anos.

Equipes localizam dois corpos

São Paulo (AE) – No quarto dia de buscas, o Corpo de Bombeiros conseguiu localizar as duas primeiras vítimas do desmoronamento do canteiro de obras da Estação Pinheiros, da Linha 4 do metrô paulistano, ocorrido na sexta-feira. Mas resgatou apenas a aposentada Abigail Azevedo, de 75 anos, enterrada ontem. A outra pessoa morta estava no microônibus tragado pela cratera. Um deslizamento de terra impediu a remoção do veículo. As buscas foram retomadas às 21 horas. Mais cinco pessoas estão desaparecidas.

O corpo de Abigail, que estava passando a pé pela rua Capri quando a cratera se abriu, foi localizado às 4h50. A segunda vítima estava no banco na parte traseira do microônibus. A suspeita é de que seja o da advogada Valéria Marmit, cliente regular da linha.

O filho da aposentada, Sílvio Antônio Azevedo, acompanhou o trabalho de resgate, mas preferiu não ver a retirada para “guardar a imagem dela viva”. A identificação foi feita por documentos achados ao lado do corpo. Os bombeiros conseguiram chegar à van da empresa Transcooper por volta das 15 horas, mas tiveram de interromper as buscas por cima da cratera porque havia risco de um barranco desmoronar.

Segundo o comandante metropolitano do Corpo de Bombeiros, coronel João dos Santos, quando o microônibus foi encontrado estava sem o vidro traseiro e visivelmente “comprimido” pela terra.

Os bombeiros observaram que o desabamento da cratera aconteceu em formato de funil – o que estava na superfície foi para o fundo do buraco e depois as paredes caíram -, o que também dificultou os trabalhos. As operações foram interrompidas às 17h30 porque geólogos notaram a formação de fissuras nas paredes do buraco. “Havia risco de um novo deslizamento”, afirmou Santos.

Defesa Civil libera cinco residências

São Paulo (AE) – Somente cinco das 55 casas evacuadas na sexta-feira, nas ruas Capri e Gilberto Sabino, foram liberadas ontem depois do início das vistorias da Defesa Civil, que são acompanhadas pelos proprietários. Até as 21 horas, além dos cinco imóveis comerciais liberados, dois foram interditados e dois estavam demolidos. “Esperamos que as vistorias das 55 casas terminem em até 72 horas. Só iremos liberar a entrada se os imóveis estiverem seguros, com água, luz e gás”, disse coronel da Defesa Civil Jair Paca de Lima.

Os proprietários ou inquilinos dos imóveis foram obrigados a deixar as casas após o acidente, pois havia risco de desmoronamentos e também da queda da grua instalada na obra. “Meu imóvel foi interditado e não posso mais utilizá-lo. A casa está cheia de rachaduras. Ainda não sei o que vou fazer”, disse o analista de sistemas Rene Castilho, de 47 anos, dono da casa interditada na Rua Capri, 195, que estava alugada. “Acho que eles vão demolir a casa.”

O coronel Lima disse que houve uma reunião com os moradores e foi decidido que a prioridade da vistoria seria nos imóveis comerciais. Cinco deles foram liberados e a entrada está autorizada para os proprietários ou locatários, mas as ruas continuam interditadas. Até ontem só houve uma demolição completa de casa na rua Capri, onde também funcionava um estacionamento.

Indenização pode demorar até dez anos

São Paulo (AE) – No que depender da Justiça, os familiares das vítimas soterradas pelo desabamento das obras da Estação Pinheiros do Metrô Linha 4-Amarela podem esperar até mais de dez anos para receber suas indenizações, caso a iniciativa da indenização não parta da seguradora da obra, o Unibanco AIG. A avaliação é da advogada Sylvia Maria Mendonça do Amaral, do escritório Mendonça do Amaral Advocacia, em entrevista à Agência Estado.

“Se eles (familiares) tiverem que entrar com ação no (poder) Judiciário, caso não sejam indenizados espontaneamente ou estiverem insatisfeitos com o valor, o pagamento (da indenização) pode demorar mais de 10 anos” complementou, lembrando que no caso do acidente com o Fokker-100 da TAM, em outubro de 1996, em que 99 passageiros morreram, há ações que correm na Justiça até hoje.

Os valores da indenização, segundo a advogada, são inestimáveis. “Há indenização por danos morais em decorrência de falecimento que pode variar de R$ 5 mil até R$ 1 milhão. O juiz é quem deve fixar (o valor), de acordo com seus critérios”. Ela disse também que o governo não tem interferência no caso. “O Consórcio (Via Amarela) da obra tem um contrato que se chama turn key. Nessa forma de contratação, as empresas ficam com toda a responsabilidade sobre a obra”, afirma.

A advogada afirma, também, que neste caso devem ser indenizados moradores e comerciantes que tiveram seus imóveis afetados pelo desmoronamento. Estes casos serão julgados por danos materiais. Em relação aos comerciantes, devem ser avaliados ainda os prejuízos por dia perdido, em razão da interdição da área.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas