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Natalense é refugiado na Austrália

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TUMULTOS - Tropas da Nova Zelândia tentam evitar novos confrontos

Os conflitos no Timor Leste trouxeram preocupação para todo mundo. Mas para um natalense, em especial, a guerra civil daquele país asiático soou como uma grande angústia e temor. O professor Ivanildo Quirino do Nascimento estava no Timor como consultor da Organização das Nações Unidas para o programa de educação.

Com o agravamento da crise política do país e o clima de guerra civil, o professor e os outros 200 estrangeiros da missão da ONU foram levados para a cidade de Darwin, na Austrália. “Aqui está tranqüilo, estamos seguros”, diz o professor. No entanto, ele se mostra muito preocupado com o projeto deixado para trás no Timor e, principalmente, com a população do país que vive o drama da falta de alimentos, água e, principalmente, solidariedade.

Recém saído do Timor Leste, o professor natalense Ivanildo Quirino faz um relato também triste do primeiro mundo. “Estamos no primeiro mundo que está a uma hora de Dili (Timor Leste) e onde a ninguém importa toda essa tragédia. Um mundo artificial, higiênico e sofisticado, frio como todos os anglos”, completou

No relato que fez sobre o drama no Timor Leste, Ivanildo Quirino se mostra revoltado com as ações do Governo local. “Me revolta estes estúpidos membros do governo timorense e a arrogância deles.

A  distância que mantinham do povo e dos seus problemas. Agora o que mais desejamos é a renúncia do Primeiro Ministro e todos os membros do governo timorense”, comenta.

Ele observa que o Governo abandonou a população. “Aliás já havia abandonado há tempos desde que o poder, o luxo e o dinheiro fácil passaram a ser essenciais.”

Fazendo referência a política brasileira, Ivanildo Quirino diz que são flagrantes os desvios de dinheiro público para enriquecimento ilícito no Timor Leste. “Esse filme vemos e ouvimos o Brasil todos os dias.”

Ivanildo Quirino cita que até mesmo os diretores dos ministérios também tiveram que pedir abrigo na embaixada da Indonésia, já que os ministros, para os quais serviam, não atendem nem mesmo os telefones. “Isto é vergonhoso! Onde está a máfia de Mocambique? Onde esta o ladrão de diamantes de Angola? Onde está a Pequena Ministra (pequena no tamanho e na humildade) Ana Pessoa? Que de forma arrogante e autoritária obrigava a todos a participarem de reuniões em Língua Portuguesa onde todo o staff falam somente Tetum (idioma local) e Bahasa indonesio?”, diz em tom de desabafo.

E como ironia, Ivanildo Quirino afirma que só agora, com o conflito instalado, “surgem os Rambos e as Madres Terezas de Calcutá para salvar as posições na ONU. Agora todos querem ser essenciais para não perderem seus

empregos”.

“O governo abandonou a população”

O professor Ivanildo Quirino relatou que semana passada toda equipe das Nações Unidas foi evacuada do Timor Leste e levada para Darwin, na Austrália. “Fomos evacuados de forma dramática, eram 200 estrangeiros, que embarcaram em dois vôos fretados pela ONU”, lembrou o professor.

O professor Ivanildo disse que junto com um amigo tentou resistir para  não deixar o Timor. “Mas fomos obrigados a deixar o país e tudo que conquistamos a nível pessoal e profissional, além dos bens que ficaram nas mãos de Deus”, relatou o natalense, em tom dramático.

A cena protagonizada pelo professor o deixou chocado. Ele disse que quando chegou no aeroporto para embarcar viu muitos refugiados dormindo no chão, famintos e feridos. Segundo ele, o desejo de deixar o país era comum a todos, mas poucos poderiam concretiza-lo. Ivanildo Quirino sentiu muita tristeza ao ver amigos e parentes se despedindo dos que estavam conseguindo partir.

Mesmo estando na Austrália Ivanildo afirma que está se comunicando com amigos brasileiros (não integrantes da missão da ONU) e outros timorenses diariamente. “Eles precisam de muita atenção neste momento, pelo menos um telefonema de apoio e solidariedade. Todos os dias mantenho contato e aparentemente parecem-me que estão em segurança”, relata Ivanildo.

O professor observa que a embaixada brasileira está evacuando todos para Darwin. No entanto, admite que na Austrália as pessoas terão um novo problema, devido ao alto custo de vida daquela cidade australiana. “Aqui é uma cidade super cara e eles (os brasileiros que estão sendo evacuados) estão sem dinheiro porque, apesar dos conselhos que demos para que eles  abrissem conta no banco Australiano, praticamente todos abriram no banco indonésio e, neste momento, não podem sacar um centavo”, completou.

Ivanildo Quirino chegou a detalhar que os brasileiros que estão integrando a missão da CAPES receberão 150 dólares diários para os gastos, mas o valor é insuficiente já que é o preço mínimo para uma simples diária de hotel.

Ivanildo diz que deixou um amigo brasileiro, chamado Marcos Tadeu, cuidando das coisas na casa onde ele mora no Timor Leste. “Disse para ele que todo alimento e água que está na nossa casa poderá ser disponibilizado para ele e para os nossos companheiros. Deixamos muita coisa de alimento e água em casa pois havíamos comprado muito pensando em ficar mais  tempo, mas tivemos que sair praticamente com o básico e de emergência”, detalha.

Demonstrando preocupação com os timorenses que estão sofrendo com a guerra civil, o professor natalense demonstra interesse em realizar um trabalho social para arrecadar alimento e água, em Darwin, e enviar para população do Timor Leste. “Vamos conseguir”, diz ele, em tom de angústia.

Independência foi conquistada em 2000

A guerra civil instalada no Timor Leste traz o drama das grandes tragédias humanitárias. O professor Ivanildo Quirino do Nascimento diz que falta alimento, água, medicamento e mais atuação solidária.

Antes mesmo de se tornar independente, fato que ocorreu em 2000, o Timor Leste foi palco de uma verdadeira guerra civil. A chegada da missão da ONU instalou um clima de otimismo para a reconstrução do país. No entanto, a violência voltou a “explodir” no país. Cerca de 600 soldados —que representam um quarto das forças armadas do Timor — foram expulsos do Exército e se rebelaram, causando confrontos com o governo nas ruas da capital Dili.

Países como Austrália, Nova Zelândia e Portugal enviaram tropas para tentar controlar a situação no Timor. O governo timorense também já declarou que uma ajuda brasileira “seria bem vinda”. No entanto, o Governo Federal ainda não definiu se enviará ou não tropas para aquele país. Integrante do arquipélago da Indonésia, o Timor possui 800 mil habitantes.

Voluntário na área da educação

O bacharel em Comunicação Social Ivanildo Quirino do Nascimento está no Timor Leste desde 2003. Ele chegou no país como voluntário da ONU para uma missão de seis meses. Mas o trabalho do natalense foi muito mais além. Ele participou de outra seleção e foi escolhido para ser consultor da ONU no programa para educação implantado no Timor Leste.

Antes da instalação do atual conflito, o trabalho no setor de educação realizado pela ONU havia recebido o reconhecimento das autoridades locais. Inclusive, ainda em 2003, o ministro da Educação e Cultura daquele país, Amindo Maia, chegou a elogiar a ação dos professores que estavam implantando a Lei de Diretrizes e Base.

Quando esteve em Natal, em abril de 2004, Ivanildo Quirino demonstrava preocupação com a situação do país. Prova é que chegou a fazer uma campanha para arrecadar alimentos e roupas. Em entrevista a TRIBUNA DO NORTE, naquele ano, ele cheogu a dizer: “É gratificante fazer parte da história de um país que teve episódios de colonização e invasão  e ajudar a reconstruir uma nação”, comentou o consultor para Educação não formal da ONU.

A importância do trabalho de educação feito pela missão estrangeira ganha ainda mais destaque pelo índice de que 46% da população é analfabeta. E neste desafio Ivanildo chamava atenção pelo modo peculiar de ensinar. Ele costumava usar a Música Popular Brasileira, já que “fica mais fácil trabalhar a gramática”, costumava justificar.

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