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Natalenses redoscobrem o remo no Rio Potengi

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Tádzio França
Repórter

Remar faz bem para o corpo e para a mente. No começo do século passado, em Natal, muita gente já sabia disso. O Sport Club de Natal e o Centro Náutico Potengi surgiram em 1915, formando atletas e um animado público que enchia a Ribeira para vê-los singrar o rio Potengi em glamourosas e competitivas regatas. Um século depois, mesmo sem glamour e precisando de apoio, o remo sobrevive e suas qualidades têm sido redescobertas por um novo público. Uma atividade física que oferece benefícios fisiológicos e psicológicos, e que tem feito muita gente trocar exercícios convencionais por boas remadas.

O professor Luiz Felipe e a administradora Carla Muniz, nova adepta do esporte. A aula é iniciada num tanque, similar a uma piscina, localizado dentro do próprio Sport Club, onde é possível simular a remada e aprender os fundamentos técnicos básicos. Para ela, “treinar no Potengi, no final da tarde relaxa qualquer pessoa. Eu sinto benefícios espirituais e também físicos”
O centenário Sport Club de Natal, uma das jóias antigas da rua Chile, na Ribeira, recebe alunos de todas as idades e ainda desenvolve um projeto social de formação de atletas. Os grupos formados hoje em dia são bastante heterogêneos, conforme diz o treinador Luiz Felipe da Silva. “Há gente em situação vulnerável, que foi convidada para remar a partir de palestras em escolas públicas; outros vieram pelos pais que são ou foram atletas, e há também adultos que buscam no remo uma alternativa de lazer e qualidade de vida”, diz.

A parcela dos praticantes que busca saúde e relaxamento no remo é a que tem chamado mais atenção no novo perfil. “Por ser uma modalidade muito acolhedora e democrática, é possível fazer aulas de remo até para o público de meia idade, mais velho. O que contribui para um processo de envelhecimento saudável”, afirma Luiz Felipe, ressaltando que por isso o Sport Club atua de forma polivalente, formando pessoas melhores através dos projetos com os jovens, e contribuindo para a saúde de grupos adultos que necessitam do exercício físico para a manutenção da saúde e também como forma de desopilar do dia-a-dia.

Primeiras remadas

As aulas são iniciadas num tanque, similar a uma piscina, localizado dentro do próprio clube, onde é possível simular a remada e aprender os fundamentos técnicos básicos. Há um barco fixo dentro do tanque em que se trabalha a primeira experiência da prática. Após esse processo de fundamento, o aluno passa para um barco mais estável chamado ‘canoe’, feito especialmente para a iniciação ao remo.

O remo é uma modalidade acolhedora e democrática. No Sport Club a turma é heterogênea, com jovens de escolas e público adulto

Para dar as primeiras remadas, o aluno iniciante passa por algumas exigências: primeiro, é necessário saber nadar. Segundo o professor, não precisa ser um grande nadador, mas ao menos saber flutuar, nadar estilo cachorrinho. E é fundamental, especialmente para o público de meia idade, uma entrevista prévia (anamnese) sobre possíveis patologias e doenças metabólicas, para que em casos como esse, o professor possa adaptar as aulas à individualidade biológica do praticante.

Os benefícios para quem pratica o remo são muitos. Entre eles há o controle arterial da pressão; a previne doenças cardiorrespiratórias; retarda a sarcopenia (a perda de massa muscular no envelhecimento); não tem impacto articular, e até atua como prevenção à depressão.  Não à toa, há muita gente aderindo com o objetivo de melhorar fisicamente. “Há alunos com sobrepeso que encontraram no remo uma possibilidade de controle de peso, assim como uma forma de ressignificar a vida. Sair da rotina de trabalho e ter um novo meio de lazer”, explica.

A circulação das canoas de remo no velho Potengi é tranquila, segundo o professor. “O tráfego de barcos é mínimo no espaço onde o clube está inserido. Ele fica depois dos locais onde transitam os barcos de pesca e navios cargueiros”, diz. Luiz Felipe também ressalta que as águas não são poluídas, apenas maltratadas por pessoas sem consciência ambiental. “Há quem jogue marmitas e garrafas pet no rio. A maioria vem de locais onde há trabalhadores informais, em áreas de desembarque de pescados. Cabe às autoridades competentes conscientizar e multar”. Segundo ele, quem treina no rio passar a querer cuidar de seu local de treino.

O professor lamenta a falta de atenção do poder público. A iniciativa do projeto social de formação de atletas é realizada “aos trancos e barrancos”, segundo ele. Luiz Felipe considera isso um exemplo de falta de memória sobre a história esportiva do estado. “O remo foi uma das modalidades olímpicas que mais trouxe resultados a níveis nacional e internacional para o Rio Grande do Norte. Se antigamente ele era algo elitizado, hoje é uma atividade democrática, para todos”, diz. No dia 17 de maio terá a primeira regata do estadual de remo 2020 – como nos velhos tempos. Uma chance de ver os atletas em ação.

Remos relaxantes

Foi amor à primeira remada para a administradora e professora Carla Muniz. E ela tem menos de um mês de prática. Carla ficou sabendo do esporte através de uma postagem no Facebook, na pagina de um grupo de pessoas que pedalam à noite. A sugestão do professor Luiz Felipe a deixou curiosa. “Eu na ocasião nem sabia que mulheres remavam. E ainda tinha uma imagem estereotipada de remo como um esporte masculino, que deixa a mulher ‘musculosa demais’. Mas conversei com o professor e ele derrubou meus preconceitos”, explica. Decidida a conhecer, a primeira providência foi arranjar uma companhia pra ir junto. Um amigo, que joga futebol, topou.

As primeiras remadas no tanque do Sport Club deu a Carla  a noção de que é preciso coordenação motora dos braços e pernas. Mesmo se considerando “um tanto sedentária”, a professora afirma que não foi difícil. “Os exercícios são simples. Quem faz pilates e ginástica vai se sentir muito à vontade com os exercícios do remo. A maior dificuldade que encontrei foi realmente a coordenação motora necessária pra movimentar ao mesmo tempo pernas, braços e  mãos, pra fazer o tipo de rolamento necessário com o remo”, explica.

A professora afirma que, mesmo em fase inicial, já sentiu os efeitos das remadas no corpo – e na mente. “Eu me sentia muito estressada, muito impaciente no meu dia a dia, portanto o lance de treinar no Potengi, no final da tarde com aquele visual incrível, relaxa qualquer pessoa. Eu sinto benefícios espirituais e também  físicos. Me sinto mais disposta após os exercícios”. As dores vêm principalmente no tronco e nas pernas, por serem as partes que exigem mais do treino.  “Mas não nada perto dos benefícios que a gente tem. A gente sai de lá mais elevado pelo contato com a natureza”, afirma.

Adepta do remo como lazer, Carla Muniz ressalta que vai continuar com os remos bem firmes no rio. “Eu não sei se vou conseguir evoluir a ponto de competir, mas existem categorias ‘master’ e vou me esforçar pra chegar nesse nível, mas não estou com essa preocupação. O que me faz ter disciplina pra treinar é a alegria que eu sinto ao ver o pôr do sol, de estar em contato com a água, de conhecer um pouco mais Natal, pois a gente vê a região do porto, uma área linda que não temos muita oportunidade de ver”.

Colaborou: Cinthia Lopes, editora

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