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Navio Hope

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Aurino Araujo

No ano de 1972, em consequência de um projeto entre o Estado do Rio Grande do Norte e o Governo americano atracou no porto de Natal o navio-hospital “HOPE” para uma permanência de uns dez meses. Foi um acontecimento marcante para a vida dos natalenses por diversos motivos sendo o principal, logicamente, um avanço na área de saúde porque durante o tempo em que o barco aqui esteve, houve intenso intercâmbio entre os profissionais de saúde do Tio Sam e a comunidade médica local. É lícito imaginar que tenham trazido mais ensinamentos, do que levado…

Houve um impulso – um “boom”, na linguagem deles – na economia da cidade, haja vista as oportunidades surgidas com aquela “ocupação americana”, ínfima amostragem e com objetivo totalmente diverso do que ocorreu aqui durante a Segunda Guerra. Taxistas e locadoras de automóveis fizeram a festa. Motoristas locais foram contratados porque o navio trouxe em seus porões uma pequena frota de veículos, entre os quais umas peruas da marca Dodge, parecidas com a nossa Kombi mas tão fortes que, certa vez, conversando com colegas da “Autolocadora Dudu” – a mais preferida pelos americanos – o motorista contratado para dirigir uma delas disse em alto e bom tom: “Já fiz de tudo p´ra acabar com essa bicha e não consigo”.Com certeza, tinha sido motorista de carro oficial…

Este velho bairro viveu dias de agito e prosperidade, especialmente na área do entretenimento, porque enquanto os médicos do navio – população flutuante nos dois sentidos porque trabalhavam embarcados e obedeciam a um revezamento durante a estadia dele aqui – e os enfermeiros e enfermeiras, estes, residentes, davam um duro danado, os da tripulação se esbaldavam a valer, pois, como é óbvio, um navio ancorado certamente exige menos trabalho dos tripulantes do que quando navegando. Casos pitorescos ilustraram as aventuras de alguns deles, como o de um enorme operador da casa das máquinas que amigou-se com uma quenga local, cuja casa, nos cafundós do judas, equipou com o que havia de mais moderno na área dos eletrodomésticos, para acentuada inveja dos vizinhos. E a sujeita – que não ficava “quieta” nas ausências dele – contava para plateias embevecidas o desempenho sexual do gringo, repleto de esquisitices nunca vistas por aqui. E reza a lenda que um deles e mais duas colegas do navio, tomaram banho nus na praia dos Artistas, num amanhecer qualquer. E quem viu, nem parou para admirar a nudez das gringas, pois consta que havia pouca simetria na distribuição das respectivas carnes… Porém, entre a parte da tripulação composta por médicos e enfermeiras, o dia-a-dia não era somente de trabalho duro, porque invariavelmente todas as tardes às 16,00 horas, havia um “happy hour” numa espécie de bar interno, onde todos enchiam a cara. E as enfermeiras presentes eram também “boas de copo” e donas de perfis menos assimétricos que as citadas banhistas da praia dos Artistas…

Conheci de perto uma delas, a chefe de equipe Mary Harrigan, que alugou uma tapera que eu tinha na praia do Cotovelo. Pequenina – para os padrões americanos – cujo namorado, do consulado de seu país no Recife e que a visitava nos fins de semana, vindo num carrão com placa do corpo diplomático, tinha bem uns dois metros de altura. Tempos depois, ela me mandou um cartão postal do Sri-Lanka, onde o “Hope” cumpria mais uma missão.

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