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NE no poder, mas ainda fora de foco

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Antonio Roberto Rocha
Especial para a TN

O Nordeste está no poder no turismo nacional. Pelo menos, o ministro Pedro Novais e o presidente da Embratur, Flávio Dino, são do Maranhão. De quebra, o presidente do Fórum Nacional de Secretários e Dirigentes de Turismo (Fornatur), Domingos Leonelli, é da Bahia. Mas o que isso pode gerar de dividendos para a região? Mais promoções, marketing diferenciado, verba para divulgação? Pode ser. Mas a primeira ação, anunciada no Salão do Turismo na quarta-feira passada, está meio fora de foco. Investir R$ 13,5 milhões (só em veiculação, fora a produção) em mercados como Portugal e Espanha, que atravessam momentos econômicos, digamos, delicados, não parece uma medida eficaz. O Nordeste será divulgado em programas de televisão de 30 minutos nos próximos dois meses. Toda e qualquer divulgação da região na Europa é oportuna, sob qualquer prisma. Mas que os R$ 13,5 milhões poderiam ser melhor aproveitados, disso não há a menor dúvida.

O que o Piauí, por exemplo, pode esperar dessa divulgação na Europa? Sergipe também não costuma receber visitantes portugueses e espanhóis. O perfil do turismo destes dois estados é outro. O Nordeste é extenso, complexo, tem suas peculiaridades. É claro que a região deve se vender como um todo no exterior, mas também é função do Ministério do Turismo, via Embratur, analisar as carências específicas de cada mercado e, radiografia na mão, colaborar em ações que já estejam em desenvolvimento.

Estados têm realidades e carências diferentes

Não custa lembrar que até mesmo Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Ceará, que têm voos da Tap de Lisboa e ligações com Madri (no caso, PE e CE), via Ibéria, já não recebem mais tantos portugueses e espanhóis, como na década passada. É o europeu, em geral, quem usa a Tap e a Ibéria para chegar ao Nordeste, através de conexões em Lisboa e Madri..

O Ceará achou atalhos promissores, que merecem a atenção da Embratur. Está trabalhando mercados emergentes no Leste Europeu, em parceria com a Tap e a Iberia, que voam de Fortaleza para Lisboa e Madri, respectivamente, e dessas capitais para muitas cidades da Europa. Certamente, o Ceará está gastando bem menos do que a Embratur vai desembolsar em Portugal e na Espanha, até porque conta com o apoio das companhias aéreas. E os resultados tendem a ser mais nítidos. Rússia, Polônia, República Tcheca e até mesmo as bálticas Estônia, Lituânia e Letônia já começam a enviar grupos de turistas para o Ceará, como assegura o secretário de Turismo, Bismarck Maia. Logicamente, ainda é um fluxo reduzido. Mas são novos mercados. E toda e qualquer estratégia de marketing busca o novo. Apostar, claro, faz parte do jogo.

Alagoas, cuja infraestrutura hoteleira vem aumentando em quantidade e qualidade, tanto em Maceió como em Maragogi, também atravessa bom momento promocional, com ações pertinentes, sem muita verba (problema comum a quase todo o Nordeste) e com foco no mercado nacional. Merece atenção do poder público. Outro forte destino do Nordeste, Porto de Galinhas também exibe excelentes ocupações e desenvolve um trabalho integrado entre hotelaria e poder público. Porto, como chamam no Nordeste, emplacou no turismo. Mas essa boa fase precisa de sustentação. Não basta criar a imagem. É preciso preservá-la.

Já no Rio Grande do Norte não se pode afirmar o mesmo. Natal é o destino do Nordeste que menos se promove. Não se vende para o consumidor final. Os números ainda não assustam, mas o futuro é incerto. Afinal, a cidade detém uma das maiores ofertas de leitos entre as capitais do Nordeste: mais de 25 mil. O produto é bom, o próprio nome da cidade tem um certo apelo de marketing embutido, mas um fato é inquestionável: se a CVC parar de vender Natal, o turismo potiguar sucumbe. Isso mesmo. O RN está nas mãos da maior operadora do Brasil, que tem Natal como uma de suas locomotivas de venda. A Embratur sabe disso?

Enfim, em meio ao festival de capacitação e qualificação que começa a envolver o Nordeste, nesta fase pré-Copa, seria fundamental, também, achar o melhor mote promocional. Trabalhar o mercado nacional? Investir em polos emissores internacionais? Tradicionais ou emergentes? É preciso falar a mesma língua. O Nordeste, por exemplo, deveria atuar mais na busca do turismo de incentivo, segmento que tem tudo para emplacar na região, mas que ainda é embrionário. Por absoluta falta de visão. A Embratur tem que “descobrir” o Nordeste. Mapear as reais necessidades – e as virtudes – do turismo da região. Só assim poderá partir para ações promocionais efetivas. Investir R$ 13,5 milhões em Portugal e na Espanha no atual momento pode ser um sintoma de, no mínimo, falta de informação.

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