Rubens Lemos Filho
O maior preconceito contra negros no futebol brasileiro está em bani-los dos clubes em nome de uma modernização camuflada. Negro com acumulação de tristeza – miserável financeiramente -, não tem vez na versão “grana é tudo” no esporte.
Em escolinha paga, supremacia é classe média ou alta. Com jeito de ator de cinema americano infantil. Desde que medíocres passaram a imitar o jeito europeu de jogar, após a derrota na Copa do Mundo de 1974, os técnicos, a partir da mais imberbe categoria de base, preferem os fortões aos craques natos.
Dos campeões mundiais de 1994, titulares, Romário, que ganhou o título para nós, resvala para o mulato. Ele, Mauro Silva e Márcio Santos. Aldair e Mazinho são pretos. Chamar de preto não é discriminação. Pior é o rótulo de afrodescendente, imposto por uma convenção militante e cega.
Em 2002, Ronaldinho Gaúcho, o zagueiro Roque Júnior e o reserva, mas nem tanto Edílson, impunham a raça composta de ginga, da dança com a bola, do molejo que derrubava teorias de fanfarra.
O perfil atual do jogador brasileiro é do garoto necessitado ou classe média baixa. Até o Padrão Kaká e Juninho Pernambucano, produtos do poder econômico que se destacaram pelo talento.
Acabou, como regra, nos campos, o pobre visceral, do tipo de Adílio do Flamengo(foto) nos anos 1980, que conseguiu treinar contrariando os vigilantes do clube para maravilhar o mundo com seus toques que pareciam acompanhados de uma bateria de escola de samba.
Também não há moleques iguais a Paulo César Caju, que jogava com bola de meia na favela e se fez gênio no Botafogo, no Flamengo, no Fluminense e no Grêmio. Tricampeão mundial em 1970, PC não cansa de denunciar o preconceito. Ele que, no auge, chocava a burguesia comprando carros caríssimos, usando roupas escandalosas e namorando loiras de fechar o trânsito.
Admirável goleador, Cláudio Adão nunca recebeu convocação à seleção brasileira principal, embora fosse extraclasse reconhecido. “Fui vítima de racismo”, repete desde que parou de jogar. Sem explicar a presença de Coutinho do Santos e até do abominável Serginho Chulapa no escrete.
Faltam negros nas escolinhas. Nas posições fatais: meio-campista e atacante. Onde é preciso subjugar pela malícia o oponente. Tradução: em dribles secos, em movimentos corporais nascidos na Mãe África.
O Brasil tem em Neymar, um (quase) negro artista , driblador, mas criado em modos medonhos. Com atitudes de um eterno deslumbrado e comportamento várias vezes indecente no contato com adversários. Que diferença faz comparar salários de forma desprezível , como o menino dos olhos de Galvão Bueno já fez ou chamar o outro de macaco? Duas cafajestadas indesculpáveis.
Estabelecer cotas é carimbar o desprezo. Quem vence, no campo da bola ou no campeonato da vida, independe de impor ou se opor a cor do outro. Ganha o melhor. Cresce o mais competente. Para superar o ódio que enfrenta na meninice desigual, na sala de aula, no exercício profissional, seja qual for.
O Brasil foi dos últimos a abolir a escravidão. A Inglaterra com sua armada poderosa prometeu invadir o país e fuzilar colonizadores se não libertassem os escravos. A ameaça funcionou.
O preconceito merece um caderno de punições severas, até mesmo cadeia para quem é racista por vocação e, pior, por opção. Pisoteia a moral do fraco. E oprime a empregada de casa ou da empresa para forçá-la ao sexo repugnante. É estupro social. Episódica é nossa indignação, atiçada pelo esganamento de um norte-americano negro por um policial sádico.
Voltando às quatro linhas, sempre que alguém lhe dirigir uma ofensa, nem responda. Você, de melanina pura e bela, pronuncie quatro letras demolidoras para qualquer porcaria verbal venha de quem vier. Diga Pelé. Rei de todas as peles.
Teses
Algumas teses chegam a apontar vitórias por WxO(alguns clubes pararam atividades por completo e dispensaram jogadores), no Campeonato Potiguar até que se chegue a uma decisão de turno entre ABC e América.
Testes
Custam, por mês , na faixa de R$ 160 mil os testes obrigatórios, por time, incluindo jogadores e todos os envolvidos.É proibitivo. Muita gente querendo desistir da Série D.
Vida ou retorno
Na altura do macabro campeonato do Covid-19, está claro um jogo que não dá empate de forma alguma: ou se preserva seres humanos ou se joga as pessoas ao risco da morte, em nome da economia. No caso, economia de vidas, contas enormes de cadáveres.
Novo incêndio
A pandemia do Coronavírus salvou garotos do Cruzeiro(MG) de um incêndio no Centro de Treinamento das categorias de base na Toca da Raposa. Em quarentena, os meninos escaparam e o fogo foi debelado.
Flamengo
Enquanto alardeia a renovação de contrato do técnico Jorge Jesus, o Flamengo cala o silêncio dos omissos quanto à indenização das famílias dos 10 garotos mortos no incêndio do Ninho do Urubu, onde dormiam em contêineres como se mercadorias portuárias fossem.