O homem se supera em cada momento, circunstância e desafio de sua existência. Avança, inova, amplia, descobre e renasce. Tudo na vida é um novo passo. Uma etapa que agrega e move, individual e coletivamente, a ascensão da condição humana. Há retrocessos, contradições, iniqüidades, misérias, injustiças, desencantos, atos insanos de violência e estupidez. Essa torrente de negação do sentido da vida não inviabiliza a ascensão espiritual, cultural, ética e moral do gênero humano.
Não voltamos ao passado que se perdeu. Mas ao passado que se converteu em presente para apontar, delinear e entrever os caminhos de sublimação da condição humana. O gênio de Goethe vislumbrou, no último momento de sua vida, a dimensão da identidade entre Deus e os homens; entre a origem e a destinação da humanidade. Proclamou que toda e qualquer solução para os conflitos e antagonismos à vida humana revela a supremacia da luz sobre as trevas, da luminosidade sobre a escuridão, da vida sobre a morte, da paz sobre a guerra, do amor sobre egoísmos, da fraternidade às violências. Essa consciência universal ensejaria melhor utilização das inovações científicas e tecnológicas. Sedimentaria na humanidade, irreversivelmente, o verdadeiro discernimento dos desafios existenciais: o primado da lucidez e da serenidade. Jamais o mal alçará o homem às alturas. Uma das lições destes tempos de pandemia, é o clamor do homem comum por paz, serenidade, equilíbrio, sensatez e fraternidade. Eis a verdade para o homem, alçando-o às alturas sem fim.
É um dever. Dever de gratidão, mas essencialmente mister de dar continuidade às aspirações da alma coletiva, pelas convicções que se irradiam dessas atitudes e desses exemplos. André Malraux, na oração fúnebre de Charles de Gaulle, intitulada “Quando os carvalhos se abatem”, disse que a civilização se perpetua por atitudes e sonhos de pessoas incomuns, cujas vidas inspiram o caminhar das novas gerações. Essas reflexões foram precedidas, anos antes, em dois romances geniais do autor: “A condição humana” e “A Esperança”.
O primeiro transcorre em ambiente de degradantes misérias e injustiças no Vietnã sob domínio colonial da França. O outro em cerco da cidade de Toledo, na Guerra Civil da Espanha (1936/39). Mergulha em motivações, ansiedades, angústias e esperanças dos combatentes, especialmente dos republicanos, que defendiam, brava e estoicamente, aquela cidade histórica, milenar e patrimônio da civilização. Passado e presente nem sempre se contrapõem. No âmbito cultural, estritamente antropológico, vinculam-se um ao outro. Convertem o transcurso do tempo pretérito num legado vigoroso de sonhos, ideais, hábitos, costumes, experiências, tradições e instituições.
É uma vertente, que transpõe circunstâncias e tempos em amplitude planetária. É o rumar da humanidade. Incertezas, perplexidades, desânimos, temores, inseguranças, medos e decepções, que se alastram mundo afora, são circunstanciais, efêmeros, fugazes e insuscetíveis de lastrear hábitos, costumes e tradições. Pelo contrário. Deverão esgarçar-se como folhas mortas sacudidas pelo vento. É o epicentro da crise que, de tempos em tempos, assola a humanidade. O terror, a violência, a loucura frenética de certos governantes e as ameaças de rupturas, que disseminam desassossego aos cidadãos comuns, independentemente do seu status social, são estertores do mal. Mas nada extingue a substância e o sentido do bem e da vida.