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Netos e Futebol

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Daladier Pessoa Cunha Lima
Reitor do UNI-RN

Dos meus seis netos, três, quando eram meninos pequenos, tinham grande apego a uma bola de futebol. Dois deles, já rapazes, ainda praticam o esporte e são destaques dos seus times nas escolas. Os outros três, desde os primeiros anos de vida, mostraram seus prendores por veículos motorizados, carros, tratores, caminhões, e até aviões. Hoje, o mais novinho de todos, com idade em volta dos dois anos, quando vê uma bola ele chuta, mas sua façanha é conhecer os carros de todas as pessoas da família, e nominar os donos de cada um. Outro neto, avesso ao futebol, certa vez me disse: “Vovô, se eu fosse Deus teria feito o mundo sem futebol, porque não vejo nenhuma vantagem de se gastar tanto para nada, é uma perda de tempo e de dinheiro”. Esse mesmo neto, quando tinha 10 anos – é atual aluno do Curso de Direito –, durante uma viagem com o avô, a avó e um primo, no momento de um lanche no aeroporto de São Paulo, saiu-se com essa: “Já sei o que vou fazer no futuro para ganhar dinheiro. Vou ser dono de aeroporto, pois lojas como essas aqui irão me pagar aluguel, além do lucro com cada avião que pousa e decola”. Essa conversa ocorreu antes de se falar em privatização de aeroportos. Enquanto isso, o outro neto, devoto da bola no pé, procurava nas vitrines uma camisa do seu time do coração.

Comecei esta crônica expondo lembranças dos meus netos no tocante ao futebol. É uma espécie de “nariz de cera”, pois o que pretendo mesmo é falar do recente jogo Brasil x Alemanha, 1 x 0, muito melhor do que o fatídico 1×7. Não sou a pessoa certa para abordar tal assunto, mas também não pertenço ao grupo daquele meu querido neto que, se fosse Deus, teria feito um mundo sem futebol. Levo uma vantagem, porquanto vivi momentos de grandes emoções, nas Copas do Mundo, uns de grandes alegrias, e outros de intensas frustrações, desde 1950, quando o Brasil perdeu de 2 a 1 para o Uruguai, em pleno Maracanã, no jogo final do torneio.

Depois de cinco sucessos em Copas do Mundo, fato que apagou o famoso “Complexo de vira-latas”, criado por Nelson Rodrigues, diante da derrota de 1950, veio o desastre de 2014, com o Brasil 1 x Alemanha 7, que abalou os brios da equipe verde-amarela, e, por extensão, os brios da nação que se vê na sua seleção de futebol, conforme a sentença “ A Pátria de chuteiras”, também criação genial de Nelson Rodrigues. Agora, o Brasil 1 x Alemanha 0 não apaga o vexame do 1×7, mas redime a altivez e a autoestima da única seleção  pentacampeã do mundo.

Não convence a desculpa de que o time alemão estava com desfalques de alguns titulares, pois o estilo dessa equipe – símbolo de organização coletiva – independe de talentos individuais, assim como não devemos, com essas duas vitórias – Rússia e Alemanha –, cair no ufanismo tolo. Porém, há motivos para deduções otimistas, pois o nosso escrete canarinho está no páreo, entre os mais prováveis de ser o campeão dessa Copa 2018. O Brasil é um celeiro de grandes craques, muito deles em times da Europa e de outras regiões. Mas os craques da seleção devem atuar conforme um time, como ensina o grande técnico Tite. Vejam o que diz Milly Lacombe, em recente crônica na Folha: “Não é mais tal poesia, como um dia sugeriu o cineasta italiano Pier Paolo Pasolini, comparando nosso futebol à prosa do futebol europeu, mas é agora uma prosa bem escrita”.

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