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Nilton Santos: louvado seja

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Alex Medeiros

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No cinema, o diretor Roland Emmerich mostrou o fim do mundo em 2012 e destacou a imagem da catástrofe no Rio de Janeiro com a estátua do Cristo Redentor se despedaçando, frágil e à mercê das forças apocalípticas da natureza. Desde então, imaginei a rebentação da estátua carioca e em seu lugar, como sinal de uma nova era e novos deuses, uma escultura maior para um santo da Estrela Solitária do Botafogo. 
Nada mais legítimo e mais divino do que um gigantesco Nilton Santos, braços abertos sobre a Guanabara, no gesto eterno das mãos aos céus e um passo adiante, ludibriando o juízo final após fazer o pênalti no ponteiro espanhol Collar. Nilton merece a louvação perpétua, não pela pluralidade sacra do sobrenome e sim pela divindade superior que foi nos gramados do mundo e do Rio. E se foi a “enciclopédia” na arte de jogar, foi também um astro-rei nos poderes dos deuses.
Começou a tocar na bola como ponta esquerda das peladas juvenis, até que lhe mandaram para a lateral, tornando-se para sempre o ser absoluto da posição. Impôs e desenhou sua onipotência no Botafogo e na seleção.
Sobrou tanto futebol em Nilton Santos na lateral que ele acabou acumulando a função de ponta esquerda, inventando e ousando dribles e cruzamentos mortais para a conclusão dos companheiros de ataque.
A liderança e categoria de Nilton eram tão enormes que nem precisou ser capitão em campo. A função nas copas de 54, 58 e 62 foram de Bauer, Bellini e Mauro, mas todos reverenciavam o talento e a experiência do grande lateral.
Depois da conquista na Suécia, ele não tinha certeza de ir ao Chile. A própria imprensa brasileira vomitava preconceito contra os seus 37 anos. A Copa foi vencida com Garrincha, mas será que ganharíamos sem Nilton Santos?
Sua liderança foi fundamental no fator emocional. Foi ele quem garantiu à comissão técnica que “o papagaio é bom, eu garanto”, avalizando a entrada de Amarildo no lugar do rei Pelé, machucado em definitivo contra os tchecos.
Na difícil partida contra a Espanha, foi ele o escalado para aplacar a raiva de Didi contra Di Stefano, o desafeto do Real Madrid. “Esqueça o argentino, ele nem vai jogar. Não faça de um fato pessoal uma questão nacional”. 
O poeta Tiago de Melo, que acompanhou a Copa de 1962 intercalando com grandes papos com o amigo Pablo Neruda, gritava “Mestre, meu velho mestre” a cada toque de Nilton Santos. Na escuridão do nervosismo cantava o craque.
Garrincha procurou o compadre, preocupado com o jogo diante da Inglaterra. Um dirigente brasileiro, para emular o camisa 7, dissera que o britânico Flowers prometeu anular suas jogadas, e até disse que ele não era de nada.
– Chiado (era assim que Mané chamava Nilton), tu conhece esse tal de Fralda? Será que é bom mesmo? Espécie de mentor do amigo, Nilton Santos usou de novo da sabedoria enciclopédica e apelou para uma artimanha fabulosa.
– Mané, não tem marcador no mundo para você. O “Fralda” é bom mesmo, mas eu nunca o vi, então é melhor você driblar esses ingleses todos, pois o cara vai estar entre eles. E Mané saiu enfileirando os branquelos, felicíssimo da vida.
Gênio de um clube só, jogou o mais fino futebol do planeta, com arte nos pés e poesia no coração. Armando Nogueira, seu dileto amigo, cantou “tu, em campo, parecias tantos / e no entanto, que encanto / eras um só, Nilton Santos”.
Só os deuses do futebol, senhores do princípio e do fim, sabem que na gravidade da bola em movimento, apenas uma lei é determinante para a graça eterna do esporte maior: a Lei de Nilton. Na segunda-feira, ele faria 97  anos.
Transparência 
Eu vivi para ver as maiores autoridades da justiça brasileira reagirem contra a transparência no serviço público do TSE e tecerem os mais cínicos comentários e teses para nos convencer que a transparência não é necessária.
Militares 
Não é fácil para as vaidades políticas, para as castas do serviço público e para a velha imprensa assimilar desde os anos 1980 o nível de credibilidade das Forças Armadas junto à sociedade brasileira. A melhor avaliação entre todos.
Censura 
O jornalista Allan dos Santos está tirando o sossego do ministro Alexandre de Moraes. Poucas horas após ter seus canais e perfis nas redes cancelados, o cara ressurgiu com novos endereços e de novo recheados de seguidores.
Recessão 
O Google Trends registra que as buscas pela palavra “recessão” dobraram no último mês nos EUA. Por dois fatores: o grande interesse do público pelo assunto e o impacto da invasão russa na Ucrânia que deve atingir o tesouro.
Decadência 
É triste ver a realidade do velho jornal Tribuna da Imprensa, que exatos 60 anos foi assumido pelo jornalista Hélio Fernandes e que nele imprimiu sua rebeldia anárquica. Hoje virou mais um boletim da pauta do PT e similares.
Maquiagem 
Além do pôster da quarta temporada divulgado pela Netflix, a série Stranger Things vai ganhar também uma coleção da marca MAC Cosmetics, que lança dia 27 itens para boca, olhos e pele inspirados nos dois universos do seriado.
Adeus 
Em 12 de dezembro do ano passado escrevi a crônica “O adeus de um gênio”, sobre a despedida de George Perez, um ícone das HQ, vítima de um câncer. No último dia 6 deste maio, ele partiu deixando um vácuo impreenchível.
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