sexta-feira, 19 de abril, 2024
26.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

No tempo das confrarias

- Publicidade -

Ramon Ribeiro
Repórter

No Brasil da primeira República (1889-1930) vivia-se um ambiente de florescimento de ideias novas no campo da cultura. Nesse período os intelectuais costumavam se reunir em círculos de discussão sobre os mais diversos temas, em espaços como cafés e livrarias. Era o tempo das confrarias, dos clubes literários e conferências, espaços de sociabilidade e debate que aqueceram as cenas culturais de várias cidades do país. Natal não ficou alheia a esse movimento.

Leitor faz um passeio por livrarias e cafés da cidade, acompanhando várias gerações de intelectuais

Leitor faz um passeio por livrarias e cafés da cidade, acompanhando várias gerações de intelectuais

Num trabalho de revisita àquela época – mas vindo até os dias de hoje –, o escritor, poeta e advogado Carlos Roberto de Miranda Gomes reuniu em livro histórias de famosas confrarias que marcaram a vida social da capital potiguar. Com o título “As confrarias e o tempo”, a obra, publicada pela editora Sebo Vermelho com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico do RN (IHGRN), será lançada na próxima quinta-feira (19), a partir das 19h, na sede do IHGRN (Cidade Alta).

No livro o leitor faz um passeio pelas antigas livrarias e cafés da cidade, acompanhando várias gerações de intelectuais potiguares em seus locais de encontro. São lembradas, por exemplo, confrarias como a Diocésia, que existiu entre 1919-1930 e tinha cunho literário, com os bate papos acontecendo no Café Majestic – um dos mais frequentados de Natal na época. Também são citadas a “República de Filopança” e a “República dos Pintos”, cujos divertidos encontros aconteciam na casa dos integrantes.

Ainda na atmosfera bem humorada tinha o Clube do Picado, com suas reuniões nas noites de sexta-feira, na Feira do Alecrim, para comer sarapatel e jogar conversa fora. A “Cocadas”, outra roda de conversa que aparece no livro, existiu na Praça Kennedy e chegou a render até jornal, o “The Cocadas Time”. Dos espaços, o Café São Luiz foi um dos pontos mais duradouros, vigorando desde sua criação em 1937 até pouco tempo atrás.

Mas muitas outras confrarias aparecem ao longo do texto. A mais especial para Carlos Miranda Gomes é sem dúvida a que acontecia na Livraria Universitária, do proprietário Walter Pereira. Foi lá onde o autor se iniciou nesses grupos. “Na livraria tinha dois ambientes. O alto e o baixo clero. Eu era do baixo, a gente se reunia numa mesa no primeiro andar, subindo pela escada. O alto, que contava com o próprio Walter, o Alvamar Furtado, o Humberto Nesi, também acontecia no andar de cima, mas a subida era por uma plataforma elevatória nos fundos da loja”, recorda Carlos. “Durou muitos anos, até a morte do Walter. Ele era um homem genial”.

No lançamento do livro, o autor vai exibir um vídeo raro, gravado no último encontro da turma na Livraria Universitária. Na ocasião, ele também fará uma curta palestra. “Antes do filme falarei um pouco sobre aquele espaço e sobre esses ambientes de confraria que existiram em Natal. Mas será rápido. Odeio palestras, principalmente as minhas”, diz em tom bem humorado o escritor, que é membro de diversas congregações oficiais, como OAB-RN, Academia Norte-Riograndense de Letras, Academia de Letras Jurídicas e IHGRN. “As academias são muito fechadas. Uns querem saber mais que os outros. Sou de três academias, sei o que estou dizendo. As vezes se volta chateado dos encontros”.

Carlos Gomes lembra que com o fim da Livraria Universitária a confraria migrou para a Poty Livros, na rua Felipe Camarão, depois passaram para a Livraria Câmara Cascudo, na Rio Branco. Outros pontos também serviram de abrigo para o grupo, que atualmente se encontra na Café Avenida, na avenida Deodoro da Fonseca, sempre nas segundas e sextas-feiras de manhã. “A gente conversa sobre tudo. Política, cultura, ciências, coisas sérias mas também fofocas e putaria”, diz o autor. “Confraria é uma coisa sadia. É algo autêntico e divertido”.

Segundo Carlos, seu objetivo com o livro é “replantar a semente das confrarias” na cidade. “São espaços de reunião espontânea de pessoas com o mesmo interesse, dispostos a discutir tudo, com liberdade e num clima amistoso. Sempre volto leve desses encontros”, explica. “O mundo hoje está desagregado. Quando se compreender que a vida não é só trabalho, que esses encontros são importantes, talvez a gente volte a ter mais desses ambientes”.

Serviço
Lançamento do livro “As confrarias e o tempo”, de Carlos Roberto de Miranda Gomes

Dia 19 de julho, às 19h

Sede do IHGRN (Rua da Conceição 622, Cidade Alta)

Entrada franca

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas