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Noite

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Dácio Galvão
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Estava deitado num recanto confortável quando ela se aproximou e falou sorridente. Estatura mediana cabelos encaralcolados. Encontro casual pintando entre o teatro e o museu de cultura popular. Convidou para conversar com seu parceiro, pai, marido, irmão, amigo…

Também meu ídolo. Não hesitei. Saímos ao encontro dele ali pertinho. Logo, logo o cumprimentei e caminhamos. Fomos-nos falando comentando situações ligadas aos debates do fazer literário. Também composições sobre mesas literárias e participações onde muitas vezes não se atinge a dinâmica necessária. Seja por timidez, ou por outros fatores emocionais e ou intelectuais.

De repente adentramos num hotel luxuoso cuja sobriedade era tanta que a simplicidade sofisticava indescritivelmente os interiores. Vãos enormes, corredores largos e muito compridos. Era cedo da noite. Na Ribeira não havia tráfegos de veículos. Portanto silenciosa. E no hotel não sei por quantas só se falava em italiano. O recepcionista senhor elegante fala alto e apressado. Eu não entendia nada. Muitas lâmpadas acesas enquanto meu interlocutor caminhava em direção ao seu apartamento.

Olhava a cena. Se moldavaa numa perspectiva hiper-realista tal qual tela de Marco Grassi. Involuntariamente buscava na própria narrativa que estávamos inseridos certa linearidade. Sem explicação o fluxo contínuo impedia de ser atingida. Sim. Eram recortes ou cortes bruscos. Onírica montagem descontínua. Dialética eisensteiniana.

Depois, já fora da hospedaria terminara de me convencer através de lúcidos argumentos sobre a coerência do nosso amigo comum participante de anterior conversa conosco. Ocorrera num contexto onde escritores discorriam sobre suas vidas e obras. Estava certo quanto recitara poemas seus e ele poesias dele.

Rapidamente reciclado concordaria. Estava eu enciumado ou frustrado por não ter aproveitado o momento para mediar melhor o bate-papo e por conseguinte a récita que pintara? Olhar para frente! Perdi. Mas claro com outros ganhos contabilizados. Decerto minha timidez diante de representações de personagens tão conscientes militantes do processo cultural evolutivo e reconhecidamente carregadores braçais de pesados fardos de história nas costas… Dentro de um universo cultural tão contraditório… Fosse fator determinante para meu desempenho. Foi. Foi isso mesmo.

Ah! Que valeu, valeu! E não devo olhar para trás. Ainda mais diante da estatura de tais figuras. Indiscutivelmente inteligentes e conscientes dos seus chãos. Enquanto a grande maioria plana nos desvãos ou se devoram nos vãos das bocas eles seguem por vias transversas as costuras e cerzimentos de ações a favor de sociedades mais justas igualitárias sem a excludente concentração de renda que colabora para a desumanização no Brasil e no planeta. Sim e antiglobalização remando incessante sob o leito e correntes do rio heraclitiano.

Na parte baixa da cidade nesta noite onde não encontramos ninguém. Os habitantes soturnos e noturnos estavam inexplicavelmente ausentes. Talvez estivessem amando outro espaço-lugar. Num quarto qualquer, numa beira de rua ausente o amor presente. Ou concessivamente nos emprestaram o cenário não solicitado. Quem saberá? Estranhamente no bairro onde seus mitos vadios se apropriam se convocam e transitam diariamente alimentando seus delírios dores e desenganos sem ostentação de grifes da moda consumista inócua e alienadora. Optam por uma indumentária-ruptura. Esse espaço nessa noite era nosso.

Andamos sobre as pedras ladrilhadas no melhor estilo português. O colégio Salesiano fechado em si dormindo na liturgia católica e sem abrir mão do slinpeng bag ou da cápsula-hotel nipônica ou mais da cama palete do primeiro momento do encontro detonador constatamos agora que sonho acabou. Que pena!

Não vejo mais a pequena. Nem os dois colegas grandes!  Ela no início de tudo se chegou entre dentes á amostra e me encontrou deitado tateando estrelas com humor receptivo. Embarcara na viagem sem veículo algum. A nave fora sensorial trazendo linguagens e códigos armazenados no inconsciente. O sonho acabou. Final abrupto e sem explicação.

 Quem não deitou ou dormiu e acordou na cama palete sequer sonhou. Eu…

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