sexta-feira, 29 de março, 2024
30.1 C
Natal
sexta-feira, 29 de março, 2024

Nomes de gente

- Publicidade -
Diógenes da Cunha Lima  
Escritor, advogado e presidente da ANL 
O nome é o destino. As pessoas tomam atitudes, adotam um tipo de comportamento, influenciam e são influenciadas em razão do nome que lhe foi imposto.
No Maranhão, José de Ribamar é tão comum quanto já o foi João Maria em Natal. Em São Luiz, mais uma criança foi batizada com esse nome. Acontece que o avô tinha um amigo inglês chamado Ney, Sir Ney. A palavra foi aportuguesada e posta no registro civil como Sarney. Esse José tornou-se presidente da República. 
É possível imaginar que se Carlos Drummond de Andrade ter sido registrado com o brasileiríssimo José Silva. Este José, seria reconhecido como um dos maiores poetas do Brasil?
Na verdade, o nome diz algo sobre a personalidade, o caráter do portador. O nome tem magia, estabelece liame que segue o nominado pela vida. 
O nome próprio prova a existência civil do ser humano. Nele está o direito de cidadania. 
Sobrenombre para os nossos vizinhos de língua espanhola é apelido. Em português, o que eles chamam de apelido é o nosso sobrenome. 
Nas duas línguas, não se estranha o significado do nome de família: Carneiro (e não Ovelha), Pires (e não Xícara), Machado, Delgado e até Aranha, Macaco, Maribondo, Grilo e Barata. Cavalo é sobrenome na França, Espanha. Há no Brasil, mas não no Nordeste. 
Chico-Cavalo era o despertador e carregador de malas para o trem “bacurau” de Nova Cruz. Dorme-Sujo era o cabeceiro que levava pesos maiores. Meu pai considerava ofensivo e pediu aos muitos amigos que mudassem os nomes para Chico-Carneiro e Dorme-Bem. 
Este ano é o centenário do meu saudoso amigo, Vangt-un Rosado. Foi o caçula de uma ilustre família mossoroense, numerada em francês. O Seridó adota nomes de intelectuais: Lacordaire, Renan, Dinarte, Descartes, François Villon, Lamartine. Pery Lamartine disse que conhecia uma pessoa chamada Shakespeare da Nóbrega Zola. 
Em Natal, tivemos o admirável e bem humorado Mozart Romano. Como chefe de Gabinete do governador, recebeu um grupo de orgulhosos paulistas quatrocentões. A conversa girou sobre heráldica e antiguidade familiar. Mozart mostrou-se aos visitantes: “Consta que meus ancestrais mamaram numa loba e fundaram uma cidade chamada Roma”.
O acadêmico cônego Jorge O’Grady de Paiva, autor do “Dicionário de Nomes Próprios”, chamava a atenção para nomes que eram louvor: Pérola, Rosa, Margarida, Flor-de-Lis.
O ator Tyrone Power esteve aqui na época da guerra e fez amizades. Um amigo logo deu ao filho o nome de Tyrone, que veio a ser sogro do juiz Magnos Delgado. 
A nossa excelência está nos hipocorísticos, designação carinhosa. Chamamos painho, mainha, vozinha, Zezé, Fafá, Susie, Lula. Este último foi muito acrescentado ao nome, na tentativa de herdar qualidades. Herdaram?
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas