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Nordeste circense de Rosemberg Cariry

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Ramon Ribeiro
repórter

É por meio da história de um pobre circo mambembe que perambula pelos sertões que o cineasta cearense Rosemberg Cariry faz uma reflexão sobre arte, magia e a luta diária pela sobrevivência no interior nordestino. 12º filme do diretor, “Pobres Diabos” estreia no circuito comercial no próximo dia 6 de julho. O longa-metragem chega às salas de cinema do Brasil quase quatro anos depois de ter sido lançado no Festival de Cinema de Brasília, em 2013 – ocasião em que o filme foi agraciado com os troféus de Melhor Filme pelo Júri Popular e Prêmio TV Brasil.
Como palhaço do Gran Circo Teatro Americano, Chico Diaz mergulha na atmosfera singela e dura dos atores circenses
Como palhaço do Gran Circo Teatro Americano, Chico Diaz mergulha na atmosfera singela e dura dos atores circenses

“Pobres Diabos” chegou a ser divulgado em Natal, em 2014, dentro da programação do Cine Natal, no Mercado de Petrópolis. Quem não viu a obra pode ter a possibilidade de assistir, já que há grande interesse do diretor em colocar o filme em cartaz em alguns dos cinemas de Natal.

Segundo Rosemberg, a demora para entrar no concorrido circuito comercial é natural para filmes independentes. A obra foi rodada com baixo orçamento (R$ 1 milhão oriundos de incentivos fiscais) e chega aos cinemas nacionais com suporte do Fundo Setorial do Audiovisual, BRDE e ANCINE. “É uma luta lançar um filme, conseguir sala, investir em divulgação. Grande parte dos lançamentos são de produções da Globo Filmes. Para o cinema independente é mais difícil. Nós só fomos conseguir agora. Estamos entrando nas principais cidades brasileiras”, diz Rosemberg por telefone, do Rio de Janeiro, onde fará uma pré-estreia do filme na segunda-feira (3).

“Pobres Diabos” narra a perambulação do precário “Gran Circo Teatro Americano” por pequenas cidades dos sertões, até chegar ao município de Aracati (CE), onde monta uma peça teatral. O longa traz crítica social, humor e drama, mostrando referências do universo da literatura de cordel e do romanceiro popular, além de servir como metáfora sobre a condição do artista brasileiro.

No elenco principal participam Silvia Buarque, Chico Diaz, Gero Camilo e Everaldo Pontes. A trupe viveu um mês junta em Aracati para as filmagens. No papel de Zeferino, o cearense Gero Camilo atua pela primeira vez numa produção do conterrâneo Rosemberg. No picadeiro, Zeferino faz o papel de Lúcifer, que ao lado de Luciferina, interpretada por Zezita Matos, formam um casal de diabinhos nas apresentações circenses.

Apesar do nome grandioso, o Gran Circo Teatro Americano é uma pequena e pobre companhia circense, mambembe, cujos artistas batalham diariamente para sobreviver. Segundo Rosemberg, que além da direção, assina o roteiro, foi justamente esse cotidiano que ele buscou mostrar na tela grande, em paralelo com o amor dos artistas pela arte. “Para quem vive num circo, cada dia é uma situação diferente. Você acorda sem sabe o que vai comer no dia seguinte. Você está sujeito a ventanias que prejudicar a lona, acidentes. problemas naqueles carros velhos. E você pode se ver sem recursos para reparar”, conta. “É uma situação muito difícil. Numa analogia com a situação atual no Brasil, é muito parecido com o desmonte que estamos vivendo na cultura. Existem artistas que seguem produzindo na resistência”.

Apesar do nome do circo fazer referência ao Gran Circo Norte-Americano, que pegou fogo em 1961, no Rio de Janeiro, quando centenas de pessoas morreram e ficaram feridas, a proposta do cineasta é prestar uma homenagem a centenária arte circense. “É uma forma de homenagear esses artistas que passam por muitas dificuldades para levar encantamento à população de pequenas cidades do interior do nordeste”, afirma o veterano diretor, que nasceu em 1953, em Farias Brito, no interior do Ceará. “O circo quando chegava na cidade era sempre um grande acontecimento para as crianças. Não tínhamos televisão, cinemas. O filme tem muito dessas memórias de infância. São lembranças bonitas”.

Nordeste no Cinema
No filme, Rosemberg mais uma vez retrata o universo nordestino, algo corrente em sua filmografia. São deles obras como “Corisco e Dadá” (1996), “Patativa do Assaré, Ave Poesia” (documentário, 2007) e “Cego Aderaldo – O Cantador e o Mito” (documentário, 2012). “Vejo o nordeste como um lugar de encontro de mundos. A produção cultural na região sempre foi forte, intensa. Temos também a característica de não sermos fechados. Estamos abertos ao que estão ao nosso redor”, comenta. “Tivemos no Nordeste grandes movimentos de renovação da cultura brasileira”.

Com relação a produção cinematográfica da região, o diretor reconhece os avanços e o contexto de renovação artística. “Hoje a gente vê o nordeste com uma importante produção em cinema. Temos Pernambuco, Ceará, a Bahia, além dos estados vizinhos com aquecidas produções também. Apesar de toda essa crise que estamos vivendo na cultura, uma crise que é de grandes proporções, há uma inquietação artística no cinema nordestino”, argumenta.

Mas para o cineasta, no entanto, fazer com que esses filmes sejam exibidos para o grande público continua a ser um grande desafio. “O Brasil produz cerca de 180 filmes por ano, algo assim. Desse volume, são muito poucos os que conseguem entrar no circuito comercial. São poucos os espaços. Dessa produção, há uma grande quantidades de filmes feitos no nordeste que não conseguem ser exibidos. Acaba que o próprio público nordestino fica sem acesso à produção da sua região”, critica Rosemberg. Para ele, uma saída é a criação de salas com perfil de programação mais autoral. “É preciso que exista na região um circuito alternativo, com cinemas de arte, cineclubes, salas em universidades”.

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