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Nordeste universal em cantoria

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Ramon Ribeiro
Repórter

Três grandes bandas pernambucanas que marcaram os anos 70 juntos no mesmo palco para revisitar sucessos dos 40 anos de carreira. Lançado em abril deste ano, o espetáculo musical “Encontro de Gigantes”, com Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda e Som da Terra, chega a capital potiguar para uma apresentação única no sábado (16), a partir das 20h, no Teatro Riachuelo.

‘Free Nordeste’: Surgido em 1943, o Quinteto Violado mistura jazz com a poética e a sonoridade de raízes regionais

‘Free Nordeste’: Surgido em 1943, o Quinteto Violado mistura jazz com a poética e a sonoridade de raízes regionais

Quinteto Violado, Banda de Pau e Corda e Som da Terra surgiram no Recife em meio a efervescente cena musical nordestina da década de 70, quando artistas como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho e Zé Ramalho despontavam nacionalmente.

Mas para além das influências fortes da época, como os Beatles, a Jovem Guarda e o Tropicalismo, esses três grupos buscaram suas referências na poética e sonoridade própria da região, aliando ritmos populares como frevo, ciranda, xote, baião, folguedos e maracatu à arranjos de outras partes do mundo, em especial o jazz. E foi com essa proposta de dar um caráter universal a música nordestina que a tríade se mantém em atividade até os dias de hoje, com shows pelo Brasil e no exterior.

No show “Encontro de Gigantes” será mostrado o trabalho individual de cada grupo, bem como a forte relação entre os músicos, que se influenciavam mutuamente. Segundo o tecladista e cantor Dudu Alves, do Quinteto Violado, a ideia do montar esse show nasceu justamente da vontade de levar para o palco essa ligação tão grande entre todos. “A ideia partiu do Rominho, do Som da Terra. Ele viu que era o momento de contar essa história desses grupos tão próximos e de repertório que marcou gerações”, comenta o instrumentista.

A primeira das três bandas a surgir foi o Quinteto Violado, por iniciativa do músico Toinho Alves (1943-2008), pai de Dudu Alves. Inspirado pelo Quinteto, foi criada a Banda de Pau e Corda, cujo nome foi sugerido por Toinho, o que revela, além da admiração pelo trabalho um do outro, uma relação de amizade. O Som da Terra é formada alguns anos mais tarde, a partir da saída de Paulinho, do Pau e Corda.

Banda de Pau e Corda surgiu em 1972, mas hoje traz componentes da nova geração

Banda de Pau e Corda surgiu em 1972, mas hoje traz componentes da nova geração

Nesta entrevista com Dudu Alves, ele dá detalhes de como será a apresentação, conta as circunstâncias em que as bandas surgiram e comenta um pouco da trajetória do Quinteto Violado.

Como está montado o show? O público terá a oportunidade de assistir todas as bandas juntas no palco?
O roteiro foi construído em cima da cronologia das bandas. O Quinteto Violado se apresenta primeiro, depois é a vez do Pau e Corda e na sequência sobe ao palco o Som da Terra. Na parte final, os três grupos tocam juntos um repertório que marcou todos.

A direção artística também ajuda a contar essa história dos grupos?
O cenário está belíssimo, foi criados em cima de rendas brancas. E a iluminação ajuda a contar a nossa história com tonalidades diferentes de luz para cada banda até chegar numa mistura de cores no encerramento. É um momento bonito, principalmente se pensarmos nessa situação do Brasil, com tanta intolerância. O show acaba servindo como exemplo de união, mostrando a importância de darmos as mãos uns aos outros.

A música dos três grupos está muito próxima. Mas você poderia citar as particularidades de cada um?
Trabalhar a música nordestina, frevo, ciranda, folguedos populares, maracatu, tudo isso está no nosso DNA. Mas realmente cada um tem suas especificidades. No Quinteto Violado a gente valoriza demais os arranjos. No Pau e Corda se percebe uma linha vocal muito forte. E o Som da Terra, dos três, é que consegue dar uma tonalidade de alegria. A musicalidade deles está em ritmos sempre pra cima.

Concerto segue a partir da cronologia das bandas: Som da Terra é a mais nova

Concerto segue a partir da cronologia das bandas: Som da Terra é a mais nova

Nos anos 70, em meio a tantas outras referências musicais, como Beatles, Jovem Guarda, psicodelismo, o Quinteto Violado encontrou inspiração justamente na própria região, com a cultura popular nordestina. Foi difícil do público da época assimilar?
Naquela época havia uma ebulição cultural muito grande no Nordeste. Mas a imagem da região ainda era muito marcada pela música do Luiz Gonzaga, com sanfona. E quando aparecemos com arranjos novos, valorizando a harmonia e aliando a cultura nordestina com a música do mundo, as pessoas apontaram nosso trabalho como um divisor de águas para mudar essa imagem da região. No nosso começo, um artista que deu força pra gente foi o Gilberto Gil. Quando ele voltou do exílio lhe perguntaram o que ele enxergava de novo na música brasileira e ele nos citou.

Legal esse gesto dele. Vocês chegaram a se apresentar juntos?
Sim, chegamos a fazer várias apresentações com o Gil. Também já tivemos shows que ele estava na plateia, como num Festival de Cinema de Brasília, e que ele subiu no palco para cantar com a gente. Foi o Gil que melhor definiu a nossa música. Ele chamou de Free Nordestino. Isso representou muito pra gente. Porque o nosso trabalho era muito isso, tinha essa liberdade de se conectar com a música feita no mundo,  não ficar dentro da caixa, dentro de rótulos.

Como era a relação de vocês com a música de Luiz Gonzaga?
Nos anos 70 rodamos muito no circuito universitário. Foi um período que marcou o retorno de Luiz Gonzaga aos shows. Fizemos um temporada com ele e o Gonzaguinha. Viajávamos juntos no ônibus. Era muito legal. Até hoje o Gonzagão é uma estrela guia pra gente.

E a relação do Quinteto Violado com os outros artistas como Fagner, Alceu Valença, Zé Ramalho?
Temos muito carinho pela Elba Ramalho. Ela nos tem como seus padrinhos. No início dos anos 70 ela era atriz, estava pelo Recife. E a gente estava atrás de uma atriz para o espetáculo que estávamos montado, o “A Feira”. Convidamos ela e funcionou muito bem. Fizemos temporada no Rio de Janeiro e a repercussão foi muito boa. Ela fez contatos com músicos de lá e decidiu ficar no Rio para mostrar seu trabalho. É uma cantora muito querida pra gente.

Vocês conseguiram valorizar a música nordestina em meio a tantas influências dos anos 70. Hoje, você sente que as novas gerações de artistas têm essa preocupação?
Depois de 40 anos de atividades, continuamos descobrindo talentos em vários lugares. Como a Lucy Alves, uma artista incrível. A primeira apresentação dela no Recife foi com a gente, no Galo da Madrugada. Outro grande talento é a Carol Benigno, sanfoneira ai de Natal. Conhecemos ela quando tinha 14 anos. Tocou com a gente. Temos um carinho especial por ela. Soubemos que está na faculdade de Música na Paraíba, estudando sanfona. É uma grande promessa da música nordestina.

O Quinteto Violado está trabalhando em algum disco ou show novo?
Todo ano a gente monta algo novo a partir de algum tema, que pode se desdobrar num show, livro ou disco. Em 2018 tivemos a oportunidade de fazer a abertura do Carnaval de Recife, com uma homenagem ao Frevo. Contamos a história do frevo desde o início do século passado, com as bandas marciais, os dobrados, até os dias de hoje. Agora estamos com esse espetáculo rodando o Brasil. Estamos finalizando também a montagem de um novo show, chamada Free Nordestino. Vai estrear no próximo mês. Serão arranjos e composições inéditas, tudo dentro da nosso estilo de aliar a cultura nordestina com influências do mundo.

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