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Nos braços de São Paulo

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THIAGO COSTACKZ -

Como retirantes, muitos artistas que nunca tiveram reconhecimento na cidade do sol colocaram a arte na sacola e foram tentar a vida nos braços da grande mãe de ossos largos, São Paulo.

No trajeto da retirada, quando o tempo faz estrada, tintas, traços e telas se confundem e revelam um novo artista, mas sempre com a essência potiguar. Esse é o caso de Thiago Costackz, 23 anos, artista plástico. Nascido e criado em Natal, sua arte chegou este ano para as ruas, avenidas e veias da cidade de São Paulo. Uma de suas obras chamada “Política Louca” está hoje eternizada na avenida mais movimentada do Brasil, a Paulista.

 Representando a bandeira do Brasil, a obra foi confeccionada em madeira proveniente de áreas reflorestadas, sem a utilização de pregos ou cola, feita com tinta à base de água como se fosse um brinquedo de criança, na forma de encaixe. “A obra é uma crítica à passividade do país diante do controle ambiental”. Instalada entre diversos bancos economicamente importantes, a obra representa um manifesto contra o descuido em relação às florestas, à ganância do homem em querer sempre mais dinheiro esquecendo de preservar a vida e o meio ambiente e ao aquecimento global.

Acreditando que a arte precisa transformar o ser humano criando uma consciência crítica, Thiago criou a mostra “Elogios à Loucura”, que acontece até o dia 30 de dezembro na biblioteca Alceu Amoroso Lima em São Paulo.

Patrocinada pela prefeitura da grande metrópole, a exposição está montada utilizando todos os espaços da biblioteca. Na entrada, o artista proporcionou através da instalação de um mesa de acrílico com manequins prateados, um encontro do escritor Fiódor Dostoiévski, Franz Kafka, Platão, Erasmo de Roterdã e Rita Lee, como se fosse um chá da tarde surreal e futurista.

A exposição abriga ainda uma tela, que é um paredão com 22 metros de comprimento representando um túnel do tempo que liga a mitologia egípcia à atualidade. “A obra reflete os 3 mil anos do pensamento ocidental, quando une em um só espaço Platão, Sócrates, Rita Lee, Frida Kahlo, Olga Benário e todo o nosso imaginário”.

Criada em parceria com Karim Akl, a obra está no trânsito entre poesias escritas no chão e em painéis sobrepostos com textos que proporcionam uma releitura do livro de “O Elogio da Loucura”, escrito por Erasmo de Roterdã em 1511.

Crítica social

 Traçando uma crítica ferrenha às sociedades contemporâneas, o conjunto de criações sugere um questionamento sobre quem somos nós humanos nos dias de hoje. “Estamos vivendo um momento de dor e evolução que mexe com as estruturas humanas. Acredito que a arte possa trazer a reflexão mais profunda sobre nossa condição de humano hoje”.

Nesses traços que desejam pontes entre a loucura e a genialidade, obras como “A Rainha Mab ou Elizabeth I” e “Miss Virgínia Woolf” dialogam com a poesia cotidiana. Thiago acredita ainda na inclusão social através da arte e também a massa precisa ter oportunidade de assistir a bons filmes, ter acesso a obras de arte que levem à reflexão, assim como todas as linguagens artísticas. “Em meus trabalhos, penso sempre na democratização da arte em todos os sentidos. Na arte, o mundo pode se olhar e assim refletir sobre os problemas sociais, financeiros, culturais e toda a complexidade que nos envolve”.

Crítica a Natal

Tendo apoio financeiro da Prefeitura de São Paulo e espaço para suas obras, revelando sua arte em reportagens para Tv Cultura, Band e os jornais Folha de São Paulo, O Globo e Estadão, Thiago se diz triste por não conseguir reconhecimento em sua própria cidade. “Estou morando há 9 meses em São Paulo e estou conseguindo fazer meu trabalho com dignidade aqui. Sempre fui tratado como um menino em Natal e isso sempre me deixou angustiado. Não entendo por que os artistas em Natal não conseguem alçar vôos dentro da cidade. No meu pensamento a cidade é uma ilha que está isolada do resto do Brasil e do mundo. Existe uma aparência que é um molde de vida e isso perturba a criação e a pureza artística. Arte não é só decorar apartamento, mas estimular o pensamento”, enfatiza.

Além das obras citadas na matéria, Thiago está com uma obra no metrô, na primeira estação da Avenida Paulista, inserida no projeto de democratização da arte chamado “Corredor Literário”. “A minha obra, que é a representação da letra O, está próxima à obra do Gabriel o Pensador. É muito importante que a arte chegue às ruas e quebre as paredes de concreto que existem, dando acesso e vida a muitos que pouco têm”, finaliza.

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