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Nos escombros do Reis Magos surge a base para construir a velha nova Natal

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Cassiano Arruda

Agora, que o destino dos escombros do Hotel dos Reis Magos está selado, em matéria de hotel do Governo em Natal, parece ter chegado a hora e a vez do velho Grande Hotel, construído pelo governador Rafael Fernandes, em 1939, que continua a não merecer  atenção e cuidado.

O Grande Hotel tem salvação como meio de hospedagem, principalmente porque nunca foi abandonado como aconteceu com o Reis Magos, tendo recebido uma razoável manutenção desde que foi cedido para o Poder Judiciário instalar uma de suas repartições e depois de servir de depósito de documentos.

Além de ter reinado absoluto por quase 40 anos, no riquíssimo período da Segunda Guerra Mundial, quando funcionou como verdadeira sala de visitas de Natal, na época ponto estratégico no roteiro dos aliados, o Grande Hotel além de um passado rico ainda pode contribuir para o futuro desta cidade, hipótese levantada por Vicente Serejo nas páginas desta Tribuna e que poderia preencher o vazio deixado pelo Reis Magos – pelo menos em termos midiáticos, sem se tratar de uma causa perdida.  – Pelo contrário.
PASSADO E FUTURO
Nos últimos 20 anos, o Reis Magos tornou-se uma verdadeira usina geradora de notícias (e inúmeras fake news), embora já não fosse um bem governamental, mas legítima propriedade de um grupo empresarial pernambucano, submetido, portanto, aos seus legítimos interesses. Assim mesmo não faltaram opiniões, sugestões, propostas, pitacos sobre o seu futuro, a maioria preservando sua destinação anterior, por menor que fosse a preocupação com sua viabilidade numa economia de mercado.

No momento atual existe um clima favorável para Natal salvar a sobreposição da sua história, com a história da Segunda Guerra Mundial, que foi a grande alavanca de progresso capaz de transformar uma acanhada cidade numa verdadeira metrópole em curto espaço de tempo.

Situação modificada agora com a entrada em funcionamento de dois equipamentos que deverão se transformar em grandes atrativos turísticos: o Museu da Guerra, na Rampa, e o Centro Cultural Trampolim da Vitória, na estação de passageiros do antigo Aeroporto de Parnamirim. São equipamentos que vão exigir complementação, por determinarem a mudança do próprio direcionamento mercadológico do produto turístico. Num embalo que tem o sonho que vem se repetindo de revitalizar o bairro da Ribeira, que mantém o cenário de uma Natal  muito aproximado dos anos da Guerra.

A HORA É AGORA
Nos últimos vinte anos, foram inúmeras as tentativas de se provocar a chamada revitalização da Ribeira, primeiro bairro de Natal a ter concluída sua infraestrutura urbana completa, reclamada durante anos, mas que só se completou quando a maioria dos investidores já havia desistindo do velho bairro – o plano de drenagem que conseguiu superar um sério problema determinado pelo fato das maiores áreas estarem situadas abaixo do nível do mar, provocando sua inundação por qualquer chuva durante a maré cheia.

Em matéria de revitalização foram aplicados inúmeros estímulos ao longo de vários mandatos por diferentes prefeitos, inclusive o de renúncia fiscal que atraiu uma dúzia de projetos de edifícios, que, depois que foram concluídos  em nada contribuíram para  a tal revitalização. Edifícios residenciais estrategicamente localizados nos limites do bairro, para moradores que optaram pelo bairro de Petropólis, sem usar os serviços  (supermercado, padaria, farmácia…) usando da Ribeira só o CEP para garantir os benefícios fiscais…

Nenhuma dessas iniciativas contribuiu para criar vida nova na Ribeira decadente, sem gente na rua, movimento, espírito comunitário, identidade própria. Permaneceram os inúmeros prédios fechados, comércio decadente e algumas repartições públicas se preparando para buscar outro pouso, continuando um movimento de migração interna que se mantém há 50 anos. Enquanto aumentava sua decadência, a Ribeira viveu da lembrança de quando foi o grande bairro comercial e financeiro, endereço da elite social e política

BAIRRO DOS JOVENS
São inúmeros exemplos de como a juventude, depois de assumir a área antiga de algumas cidades, conseguiu realizar tudo aquilo que esperamos que vá acontecer na Ribeira Velha de Guerra com agregação de artistas, intelectuais, começando por retribuir a preferência de algumas dessas iniciativas.

Uma ideia antiga é a transformação de Grande Hotel num Albergue de Juventude, que chegou a ganhar um ante projeto desenvolvido pela Emproturn, nos anos 1970, quando o Governo atendeu à solicitação do Judiciário para ficar com o hotel. Embora exista uma outra alternativa ainda mais interessante, que será a renovação do hotel, pelo sistema “retrofit”, mantendo as suas linhas inalteradas e modernizando a sua área de hospedagem como existe em inúmeros lugares em todo o mundo.

É possível listar um conjunto de fatores, a partir de sua localização, que asseguram o êxito desta iniciativa, que tem de se encaixar com muitas outras que estão prontas para serem deflagradas, fazendo renascer o bairro do charme.

MOMENTO OPORTUNO
Está na hora de discutir o futuro do Grande Hotel (que pertence ao Governo do Estado) e se encontra cedido ao Poder Judiciário, que está para inaugurar, ainda este ano, a sua nova  sede, podendo abrir mão de um prédio histórico que está servindo de depósito para parte do arquivo morto do Judiciário.

Na verdade, o Grande Hotel pode – e deve – ser parte de um processo de reintegração  do  bairro que serviu de berço para Natal e que tem forças para lhe dar uma nova trajetória capaz de preservar o seu passado e projetar o futuro.

Como se vê, nesta jornada não falta espaço para quem  desejar  demonstrar seu amor pela Natal de todos nós. Sobretudo, aproveitando um  momento favorável, que pode não voltar de se repetir em razão das circunstâncias e do próprio tempo. – Nessa campanha ainda existe muito lugar na janela para quem chegar primeiro.

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