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Nos passos de Henry Koster

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Quanto do passado de nossos ancestrais circula em nossas veias? A memória, essa menina que ora se esconde, ora se anuncia, e que passeia sob os trilhos das nossas lembranças nunca deixa esse sangue esfriar. Fato é que enquanto estamos vivos, estamos construindo nosso passado. O cirurgião dentista, pesquisador e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Flávio Gameleira, decidiu manter essa “menina” viva e saltitante ao revisitar a obra do escritor inglês, Henry Koster, que viajou pelo Brasil e publicou na Inglaterra, em 1816, o livro Travels in Brazil – uma obra bastante respeitada por grandes mestres como Câmara Cascudo e Oswaldo Lamartine, esse primeiro tendo sido o tradutor do livro original nos anos 1940 – e lança na próxima semana o livro “200 Anos da Viagem de Henry Koster pelo RN – Aspectos Ambientais, Históricos e Culturais” (Caravela Selo Cultural).

Capela dos Mártires de Cunhaú, em Canguaretama, foi o ponto de partida do autor para rever o cenário registrado por Koster
Capela dos Mártires de Cunhaú, em Canguaretama, foi o ponto de partida
do autor para rever o cenário registrado por Koster

A sessão de autógrafos será próxima terça-feira, 5 de setembro, na Cooperativa Cultural Universitária, na UFRN, a partir das 11h. O livro será vendido ao preço de R$ 40.

A relação com a região que seu pai, Francisco Gameleira Sobrinho, o “seu Gama” – nascido em Pau dos Ferros, mas fixado em Pium e da mãe, Núbia Sulamita, professora de Geografia, tinham com suas histórias pessoais, foi um dos pontos de partida para a paixão que Flávio Gameleira cultua pelos temas ligados à terra e à história do Rio Grande do Norte, especialmente de personagens como o extinto vaqueiro, descrito em obras de regionalistas.

“Com os ouvidos sempre atentos às estórias contadas pelo meu avô paterno (viveu em Pau dos Ferros/RN) e do meu avô materno (viveu em Extremoz e Natal) eu já tinha desde criança verdadeiras fontes de informações contadas por quem realmente viveu a história ao longo do século XX. Depois, com a facilidade atual do acesso a arquivos eletrônicos, como fotografias, filmes antigos, livros digitalizados ou relançados, tenho tido oportunidades de reencontrar situações ou fatos que estavam guardados na memória e, como tento fazer nesta obra que estou publicando, lançar um olhar atual sobre algumas destas questões”, explica Gameleira que, digamos, fez uma verdadeira nova expedição, seguindo os passos de Koster, com foco nas terras potiguares.

Foram muitos anos acalentando o sonho dessa expedição até que em 2016 a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) lançou um edital de projetos de extensão e Gameleira conseguiu aprovar o sonho antigo com o nome de: “Projeto K200: a viagem de Henry Koster pelo Rio Grande do Norte, sob o olhar socioambiental contemporâneo”. A partir disso, ele foi convidando amigos com objetivos afins, antigos companheiros de viagens e também colocou em murais pela UFRN, convocando para a etapa de viagens, que contou com o seguinte trajeto: a Capela dos Mártires, em Cunhaú (Canguaretama), Nísia Floresta, Natal, Poço Branco, Açu, Mossoró e Tibau. Sem contar com viagens extraoficiais de Flávio Gameleira por outras cidades de outros Estados como, Recife (PE), João Pessoa (PB), Aracati e Fortaleza (ambas no Ceará).

“Alguns integrantes do projeto estavam nos primeiros períodos de seus cursos universitários. Estes pareciam interessados em conhecer realidades diferentes, agregar novos saberes e aproveitar a oportunidade de participar de um projeto de extensão pela primeira vez. Outros integrantes, já estando em cursos de pós-graduação, tinham uma visão teórica mais embasada e apresentavam interesse em uma vivência prática que possibilitasse, além da agregação de saberes, a produção de conteúdos científicos”, diz ele, acrescentando que existiram também integrantes externos ao ambiente acadêmico. Inicialmente interessados em uma fonte de boas experiências e aventuras pelo estado do RN, e acabaram interagindo de forma a incrementarem a troca de conhecimentos entre as diversas vertentes do Projeto K200.

Pontos marcantes
O fato de que as descrições da seca do Nordeste de Koster não tiveram grandes mudanças duzentos anos depois, chamaram a atenção e Gameleira destaca algumas situações marcantes dessa viagem: “Cunhaú, pelo grande encontro entre Koster e André de Albuquerque Maranhão, líder da Revolução de 1817 no RN, onde foi recebido com um banquete. E também a impressionante paisagem desértica da Lagoa do Piató, em Assu. Em setembro de 2016, a citada lagoa, com 18 quilômetros de extensão, estava completamente seca. Um cenário realmente desolador”, relembra.

Alguns planos de viagem acabaram por não ocorrer, como o encontro com um vaqueiro vestido a caráter, com sua indumentária tradicional, tal qual descrita 200 anos atrás. “Confirmamos na véspera da viagem, mas, infelizmente não deu certo a missão de reconstituir este encontro. Até poderíamos ter realizado em outro local, em outra oportunidade, mas não teria a mesma emoção de fazê-lo no âmbito da viagem do projeto”, lamenta ele.

Indagado sobre qual a importância de se buscar o passado e de como ele reflete no nosso presente, o pesquisador aponta para a importância de se conhecer a própria região, suas raízes e identidades, em paralelo ao conhecimento de outros mundos e vivências. “Qual o momento mais interessante da abertura de uma olimpíada? O desfile das diferentes culturas, dos diferentes países, com seus trajes típicos! Se todos os atletas se portassem da mesma forma, com a mesma roupa, etcétera. Não teria a menor graça em assistir a abertura”, argumenta.

Lançamento de livro
200 Anos da Viagem de Henry Koster pelo RN. Dia: 5 de setembro (terça-feira). Hora: 11h. Local: Cooperativa Cultural Universitária, Centro de Convivência da UFRN. Preço: R4 40.

o que
Henry Koster viajou pelo Brasil e publicou na Inglaterra, em 1816, o livro Travels in Brazil – uma obra bastante respeitada por grandes mestres como Câmara Cascudo, que traduziu o livro original nos anos 1940, e Oswaldo Lamartine. O relato do viajante inglês, que foi proprietário de engenho e terras no Brasil entre 1809 e 1820, contém valiosas descrições da estrutura sócioeconômica do Nordeste no início do século XIX, ocupando-se da escravidão, das relações entre as etnias, da família, da religião e das mentalidades. Uma curiosidade narrada no livro de Koster foi em sua passagem por Mossoró, na época chamada de Arraial de Santa Luzia. O autor conta que foi praticamente expulso pela população, que não via com bons olhos um estrangeiro em suas terras.

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