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Nosso primeiro artilheiro

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Alex Medeiros [email protected]

No curta-metragem de 1988, O Dia em que o Brasil perdeu a Copa, dirigido por Jorge Furtado e Ana Luiza Azevedo, baseado no conto de ficção de Paulo Perdigão, o personagem de Antonio Fagundes volta no tempo para tentar curar um trauma. Encarnação do próprio contista, Fagundes viaja 38 anos para trás e entra no Maracanã em 16 de julho de 1950 na intenção de avisar ao goleiro Barbosa sobre a jogada que culminará na corrida de Gigghia e no segundo gol.
Não sou da geração traumatizada da quarta Copa do Mundo. Pelo contrário, sou testemunha ocular da odisseia de 1970, uma experiência que me marcou aos 11 anos, a mesma idade de Perdigão quando sentiu a dor coletiva do Maracanazo. Nasci nove anos depois da fatídica tarde que estigmatizou uma das maiores gerações de craques do Brasil. Li sobre o fúnebre silêncio da multidão estarrecida, o assustador barulho de 200 mil soluços no novo estádio.

Cresci consumindo futebol, perdendo aulas para jogá-lo, ouvindo resenhas no rádio, assistindo jogos na TV, lendo jornais, colecionando livros e revistas, e aprendi a cultuar os craques que eu não vi ao vivo: Zizinho, Heleno, Ademir.

O primeiro era o espelho do rei Pelé, que quando menino brincava de ser o “Mestre Ziza”; o segundo, gênio enlouquecido do Botafogo do meu pai; e o terceiro, o mais feroz goleador que Recife emprestou ao Vasco e ao Brasil.

Ademir Menezes, ou Ademir Queixada, foi a mais exuberante joia do futebol pernambucano, o craque seminal do Sport Club do Recife que foi para o Rio encher o Vasco de glórias e os adversários de gols. Um impetuoso matador.

O craque de grandes mandíbulas, tipo gladiador, a personificação do “Expresso da Vitória” de São Januário, um aríete a desmontar defesas por baixo e por cima. Eram tantos os gols que contemplá-los não era prazer só de vascaínos.

O jornalista Armando Nogueira, mestre dos cronistas esportivos, um apaixonado botafoguense, escreveu: “Se o futebol me quisesse dar um presente, bastava que me desse um domingo inteirinho só de gols de Ademir”.

Protagonista de gols e jornadas épicas no Sport, no Vasco e na Seleção, Ademir gerou narrativas que se misturaram às fábulas. E como no clássico western O Homem que Matou o Facínora, lendas foram publicadas sobre ele.

A mais espetacular e que nenhum historiador teve coragem de desmentir, a não ser supor o imaginário, foi o pedido do técnico Gentil Cardoso à diretoria do Fluminense, em 1946: “Dê-me Ademir e eu lhes darei o campeonato”.

Entre o fato e a lenda, a verdade histórica é que o Flu tirou Ademir do Vasco e conquistou o título daquele ano. Mas em 1948, já estava de volta ao time da colina, devolvendo os gritos de gol à torcida. Em 1950, era o artilheiro da Copa.

A Copa perdida para o Uruguai interrompeu a memória emocional que alimenta os mitos, prejudicando para sempre as carreiras de gênios como ele e outros como Zizinho, Jair da Rosa Pinto e Danilo Alvim, além do goleiro Barbosa.

Ademir é até hoje o quarto maior artilheiro de uma Copa do Mundo e o maior de todos os goleadores brasileiros na competição da FIFA. Marcou 9 gols, dois a mais que Jairzinho na epopeia de 1970. O primeiro a tremer o Maracanã.

Dele veio o “rush”, termo dado à época para as corridas em direção ao gol, deixando para trás zagueiros atônitos. Dele veio a nomenclatura “ponta de lança”, para explicar sua capacidade de jogar em todas as posições do ataque.

O maestro Ary Barroso, flamenguista, compôs Ademir: “O futebol de Ademir é a música da terra, de ritmo marcante e beleza inconfundível. Que faz Ademir a caminho do arco, senão passes do mais puro samba, da mais brasileira das capoeiras…”. Hoje ele faria 98 anos.

Arquibancada As apurações nos EUA este ano seguiram os padrões dos jogos no Frasqueirão em dia de clássico ABC x América. Primeiro contaram os votos de Donald Trump para só depois contarem os de Joe Biden, tudo separadinho.

Datafolha
A nova pesquisa do instituto paulista foi um balde de ácido nos cornos da esquerda em São Paulo e Rio de Janeiro. Além de mostrar Guilherme Boulos estagnado, revelou que a petista Benedita da Silva está sendo atropelada.

Prevendo vitória
James Carville, o estrategista de Bill Clinton que galvanizou a frase “é a economia, estúpido”, disse na MSNBC, na noite de quinta-feira: “Democratas que me ouvem, coloquem lâminas e remédios de dormir de volta no armário”.

Comemorando
Em seguida, Carville ergueu uma garrafa de champanhe “vintage” e diante da câmera acrescentou: “Não me importo de deixá-la dentro gelo até sexta-feira, estou esperando por isso há quatro anos e posso esperar mais quatro dias”.

Vibrante
O gabinete do vice-presidente Hamilton Mourão vai torrar a bagatela de R$ 15 mil na compra de duas poltronas elétricas e giratórias. Deve ser para que o general adquira mais afinidade com uma condição de presidente em exercício.

Estupro
Da deputada Bia Kicis no Twitter: “Rodrigo Constantino lançou uma campanha para castração química de estupradores. Já elaboramos o PL. A castração opcional é uma condição para livramento condicional e progressão de pena”.

Ameaças
Os bandoleiros das facções criminosas já atacaram até um policial federal na vizinha Macaíba, impedindo-o de circular na noite. Pode haver um fato inédito no País: quatro candidatos a prefeito renunciarem por temer tamanha violência.
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