A criação da cintilografia cerebral lançou uma nova luz para a psiquiatria no que se refere à precisão de diagnósticos. Não existia até então um exame que revelasse de forma precisa o transtorno investigado — tal qual o raio-x para ortopedia, por exemplo.
“Qual era o exame que o psiquiatra pedia? Aqui e acolá pedia um eletro para ver se era uma epilepsia, mas era muito pobre. Os psiquiatras não dispunham disso. Pedia-se uma ressonância para ver se tinha uma atrofia cerebral em alguns casos de Alzheimer… muito pouco. Uma imagem típica não existia”, avalia Roberto Jales.
Ele comenta o fato de o diagnóstico de certas doenças psiquiátricas levar anos para ser firmado, por existir uma simulação, altos e baixos, vários fatores geradores de imprecisão. “Esse exame pode antecipar esse tempo.”
Mesmo sendo saudada como algo pioneiro e bastante eficaz, a cintilografia cerebral, porém, não substitui a figura do psiquiatra ou psicólogo. Ela, na verdade, auxilia esses profissionais na hora de diagnosticar e de decidir quais tratamentos devem ser adotados, num espaço de tempo bem menor. “Costumamos dizer que a clínica é soberana”, afirma Jales.
Em sua rotina de consultório, o médico diz receber pacientes encaminhados por psiquiatras, psicólogos, geriatras, para a realização do exame. “Muitas vezes o doente vem com queixas inespecíficas; irritabilidade, insônias, dificuldade de relação com as pessoas, e aí o exame sinaliza para uma hipótese diagnóstica”, relata o médico.
#SAIBAMAIS#
Os exames começaram a ser realizados uma vez por mês, mas os pedidos foram aumentando e os procedimentos passaram a ser quinzenais. Hoje são semanais. “Geralmente a gente faz entre cinco e seis pacientes cada vez dessa. É preciso juntar os pacientes porque trabalhamos com uns kits importados. Uma psicóloga faz uma avaliação inicial, a gente dirige e logo depois imite um laudo.”
O exame propriamente dito dura trinta minutos em média, co o paciente na máquina. Mas há o tempo de espera após a substância radioativa ser injetada.
Roberto Jales esclarece que todos os planos de saúde cobrem a realização do procedimento. E que ele pode ser feito através do Sistema Único de Saúde (SUS), dependo de cada caso, da solicitação específica de um médico ou no caso de pessoas carentes.
Parkinson e crianças
Outra novidade sobre cintilografia em Natal é o seu uso para a detecção precoce do Mal de Parkinson. Ele pode revelar a doença antes mesmo que surjam os tremores característicos. Isso acontece quando há uma falta de 70% do neurotransmissor dopamina no núcleo base do cérebro. O exame aponta quando o dano ainda está nos 30%, de acordo com o médico. “Se for constatada a doença, dá para tratá-la desde o início, podendo cortar sua evolução”, comenta Roberto Jales. A Medicina Nuclear também vem sendo usada em Natal para auxiliar a pediatria, em casos psiquiátricos. O pediatra solicita a cintilografia quando há queixas familiares ou vindas da escola sobre comportamentos diferenciados, como diagnósticos de autismo ou déficit de atenção. “Entre cada dez pacientes, um é criança”, conta Jales.