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Novo estatuto provoca controvérsia no ABC

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Preparando-se para enfrentar uma temporada difícil, por aquilo que deixou de fazer em 2009, o ABC se apronta para discutir a modernização do Estatuto do clube — a Carta Magna Alvinegra. A minuta do novo documento, preparada pelos conselheiros Ivis Bezerra, Augusto Azevedo, Ricardo Furtado e Paiva Torres entre outros, levou cinco meses para ficar pronta e  será apreciada amanhã.  Ela  propõe um novo modelo de gestão, fazendo o ABC deixar de ser regido por um sistema presidencialista para entrar na era da administração colegiada, onde os poderes serão divididos igualmente por cinco membros eleitos pelo Conselho Deliberativo.
Integrante do grupo que está lançando a nova proposta, Augusto Azevedo acredita que a reforma na gestão vai modernizar o clube
A reunião extraordinária dos conselheiros, cujo início está previsto para as 19 horas, em primeira convocação, pode selar a entrada da agremiação numa nova era e por isso mesmo a “reforma estatutária no clube” deve provocar debates acalorados, visto que para alguns antigos membros da cúpula diretiva, a verdadeira finalidade na aprovação desse novo documento é a de transformar a figura do presidente numa espécie de “rainha da Inglaterra”, um agente meramente figurativo.

Ideia essa rechaçada por Augusto Azevedo, que acompanha o processo de elaboração do novo estatuto desde o princípio e que refuta qualquer argumento neste sentido. “Quem pensa dessa forma está redondamente enganado, a figura do presidente vai continuar existindo já que ele fará parte desse grupo de administração colegiada. A única coisa que vai mudar é que a partir de agora as decisões finais não caberão apenas a figura do presidente, elas terão de ser aprovadas por maioria de votos nesse colegiado”, explica Augusto.

Por outro lado, o grupo formulador da nova proposta nega que esse novo modelo de gestão tenha sido pensado para favorecer a permanência de Judas Tadeu na presidência do clube, uma vez que alguns nomes que estavam sendo cogitados para essa sucessão declinaram ao chamamento, caso específico do ex-presidente Paiva Torres.

“Nós não vamos sugerir essa alteração do estatuto visando favorecer ninguém, não estamos querendo proteger a figura de Judas Tadeu, que é uma pessoa com serviços prestados ao clube e possui direito, assim como todos os demais conselheiros, de postular uma vaga no novo conselho administrativo. Outra coisa é que Paiva Torres quando disse que não queria assumir o ABC, ele tratava da questão sob o sistema presidencialista, onde a figura do dirigente máximo quase sempre fica um tanto solitária. Nesse novo modelo não haverá perigo de abandono, porque os cinco escolhidos terão a mesma parcela de responsabilidade no comando da instituição”, ressaltou Azevedo.

O conselheiro reforça que o novo modelo de gestão foi pensado exclusivamente para se encaixar dentro das necessidades do ABC, embora o Atlético Paranaense e outros clubes do Brasil adotem modelo idêntico. “Se você pode contar com um elenco de cabeças pensantes para decidir sobre os destinos do clube, quem é que vai abdicar dessa oportunidade para jogar a responsabilidade de gestão apenas nas costas de um presidente? Voltando o olhar para dentro do próprio ABC, quem é que vai querer abrir mão da participação de um Ivis Bezerra, Paiva Torres e muitas outras cabeças que já estiveram ou estão à frente de grandes grupos gestores na iniciativa privada? Pessoas altamente respeitadas e competentes. Se nós temos a chance de juntar esse pessoal, porque vamos abdicar disso? Iremos colocar as maiores inteligências a serviço do clube dessa forma”, salientou.

A base para formatação dessa nova proposta nasceu da experiência empresarial, mas o grupo responsável pelo documento também descarta que o processo de modernização vise fazer do novo ABC o paraíso da terceirização. “Não vai haver nada disso, todos nós sabemos da importância das nossas divisões de base e todos que trabalharam na formulação dessa proposta são homens de bem, que só querem o melhor para o ABC. Toda sociedade natalense me conhece e sabe que nunca procurei tirar qualquer tipo de vantagem desse clube. Nem eu, nem aqueles que por várias horas se debruçaram para ajudar na formulação desse trabalho. Do ABC eu tiro apenas boas lembranças, muitos momentos de alegria e alguns de tristeza, o que é normal. Nossa intenção sempre foi a melhor possível”, disse Augusto, frisando ainda que apesar da proposta ser baseada na administração das empresas atuais, existe um fosso separando os dois lados. “Sabemos que o clube não pode ser gerido apenas como empresa, a nossa finalidade não é lucro e sim a conquista de títulos”, exclamou.

É inspirado no mais nobre espírito democrático, que o conselheiro diz que vai comparecer a reunião pronto e aberto para o debate e aguarda que o documento seja analisado e aprovado o mais rápido possível, para que o pleito eleitoral da segunda quinzena de dezembro já seja regido pelas novas regras, que criará também a figura dos supervisores remunerados: profissionais escolhidos para tocar os trabalhos no campo esportivo e administrativo obedecendo as determinações do conselho gestor. Este, por sinal, terá de prestar contas da administração sempre que necessário aos Conselheiros do Clube, que após a Assembléia Geral será a segunda força de comando no ABC, com poderes suficientes, inclusive, para destituir o grupo gestor. “Quem quiser debater os pontos, qualquer um deles, dessa minuta de estatuto que será apresentada será ótimo. Agora nessa reunião não haverá espaços para discussões mesquinhas. Volto a frisar, o bom debate sempre será salutar e o mais importante é que se procure privilegiar as idéias e o conteúdo expresso no documento evitando os ranços pessoais e a fulanização das discussões”, advertiu o conselheiro Augusto Azevedo.

Leonardo adverte sobre “armadilhas”

A proposta de reformulação   do estatuto do ABC não deve ser aprovada na íntegra e sem alterações. Pelo menos se depender do pensamento do ex-presidente do clube, Leonardo Arruda, um daqueles conselheiros radicalmente contra a ideia de alteração do modelo de gestão proposto. Ele faz oposição a partes da reformulação por acreditar que o mesmo irá transformar o futuro presidente numa espécie de “rainha da Inglaterra”. Outro aspecto negativo apontado foi o fato de tirar dos conselheiros o poder de eleger o seu representante máximo, repassando a responsabilidade para uma pequena casta.

“Não vejo isso como modernidade e acredito que estão querendo implantar uma espécie de parlamentarismo dentro do ABC. O clube que deu certo e cresceu durante oitenta anos na gestão presidencialista não pode ter sua estrutura de comando alterada no embalo do insucesso desse ano. Acredito que o Conselho Deliberativo deve continuar com o poder de eleger o presidente do ABC e deixar que este defina o resto de sua diretoria”, ressalta.

Leonardo vai de encontro também a uma clausula do artigo quatro da nova proposta, que abre espaço para terceirização do futebol, abrindo um precedente perigoso na ótica do ex-presidente e que se não for bem discutido, poderá transformar o Alvinegro numa espécie de barriga de aluguel dos empresários que atuam dentro do futebol.

“Temos de tomar muito cuidado com aquilo que vamos aprovar. Um clube de massa como o ABC tem que possuir compromisso com a sua história quase centenária, com a conquista de títulos e buscar espaços cada vez mais altos no mundo do futebol. Como ex-presidente e conselheiro não vou ficar contente se o ABC sofrer o risco de se transformar numa espécie de Uniclinic, do Ceará, que possui um compromisso apenas comercial, onde os dirigentes se preocupam só em revelar e vender jogadores”, salientou Arruda.

O atual estatuto já permite a terceirização do futebol, mas a um grupo formado por conselheiros. Isso já ocorreu no clube em 1994, durante a gestão do presidente José Wilson e foi uma experiência de sucesso, segundo Leonardo. 

Diretoria quer tempo para o debate

Dentro da atual diretoria do ABC, que não possuía representante na comissão que formulou a minuta para o novo estatuto do clube, ainda não existe uma definição em relação ao assunto. O diretor Jurídico, José Wilson, afirmou que teve acesso ao conteúdo do documento apenas na tarde de quinta-feira e vai aproveitar o final de semana para discutir as propostas com o presidente Judas Tadeu. De certo só existe a certeza de que a nova carta magna abecedista não deverá ser aprovada numa única reunião.

“Já conversei com algumas figuras de proa do nosso Conselho Deliberativo e nós combinamos isso. Apesar de não saber o conteúdo do documento, por isso mesmo não posso atribuir juízo, acredito que um projeto de tal importância para o futuro do clube deve ser muito bem debatido antes de aprovado”, disse. “Minha sugestão é que essa reunião de amanhã fique em aberto para que o novo estatuto possa ser debatido a exaustão. Acredito que o processo poderia estar mais adiantado se o grupo tivesse disponibilizado a cópia do documento antes para os conselheiros. Eu mesmo só tive acesso no final da tarde de quinta-feira e vou analisar”, argumentou José Wilson.

O presidente Judas Tadeu, que passou a semana no Recife resolvendo assuntos pessoais, sabe por alto de algumas propostas e se mostrou receptivo ao novo modelo de gestão sugerido. “Sempre fui favorável a chegada de novos membros com poderes de decisão na diretoria”, disse Tadeu.

Principais alterações

– A nova concepção de gestão prioriza o que há de mais moderno e  democrático no futebol. Trata-se de um conselho administrativo,   composto por cinco membros, como órgão definidor e mandatário da  política de gestão do clube, como um todo, e não apenas do futebol.

– Os conselheiros terão suas decisões tomadas coletivamente, posto   que, não há hierarquia nenhuma entre eles. Decisões por maioria ou por  unanimidade. Um presidente será eleito entre eles mesmos, única e tão-somente, para representar o clube politicamente e para ser o   coordenador do grupo. Este pode ser considerado o presidente do clube,    mas, não com uma visão presidencialista.

– Para implementar esta política de gestão, haverá, sob o comando  deste colegiado administrativo, dois superintendentes executivos: um de   futebol, inclusive categorias de base, e outro   administrativo-financeiro. Pode, a critério do conselho administrativo   ser criada mais uma ou duas superintendências, se entenderem necessário.

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