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Novo olhar sobre a escravidão

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POLÊMICA - Carlos Gentili compara escravidão ao Holocausto

A igreja e o escravo, o holocausto e os judeus. À primeira vista, para os mais moralistas, a relação pode parecer descabida, classificada até como uma afronta aos princípios do cristianismo tradicional.

Mas é uma constatação de dois anos de uma pesquisa minuciosa realizada em vários arquivos de cidades conhecidas pela violência praticada contra os que a igreja e a aristocracia consideravam “diferentes”, como a ilha de Gorée.   

O escritor gaúcho radicado em Natal, José Carlos Gentili, lança hoje, a partir das 19h, no Solar Bela Vista, o polêmico livro “A igreja e os Escravos”, pela editora RN Econômico.

Na ocasião, como parte das comemorações nacionais pelos 116 anos da abolição da escravatura, assinada em 13 de maio de 1888, além de um coquetel o público poderá prestigiar a apresentação  dos grupos Coco de Roda e Coco de Zambulê, do quilombola localizado no município de Sibaúma. Após o evento em Natal, ele segue com o livro debaixo do braço para Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.

A obra tem o prefácio do professor e ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque, possui 306 páginas e será vendido na livraria Siciliano dos shoppings Midway Mall e Natal Shopping ao preço de 30 reais. Através de documentos históricos e de forma didática, o autor faz um relato do grau de inserção da instituição na vida dos escravos. No entanto, Gentili ressalta que não é um livro contra a igreja católica, mas admite que os fatos históricos presentes nele deverão aumentar a coleção de obras do Index (relação de livros proibidos pela igreja). “É antes de tudo um livro de pesquisa. Não é uma crítica à instituição igreja. Mas o que foi sendo apurado me leva à comparar a relação da igreja com os negros com o holocausto e o que fizeram com os judeus. É polêmico porque traz à tona um tabu. Acho que vai entrar no Index sim. Mas não estou preocupado com isso”, afirmou.  

Ele divide o livro em 25 capítulos, mas acredita que em cada um deles poderiam nascer novas obras. A escravidão na antigüidade, o preço dos escravos, os jesuítas e a religião são alguns dos assuntos abordados por ele de forma aprofundada.     

Entre os registros mais graves da obra está o “Termo de Segredo”, assinado pelos escravos, que se comprometiam a ficar em silêncio e não contar o que viam e ouviam nas senzalas. O documento foi encontrado por ele no acervo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. 

O autor explica no posfácio que a idéia da obra nasceu ainda quando menino na Porto Alegre de antigamente. “Tinha vários amigos judeus, negros, protestantes. E íamos à missa juntos. Uma vez o padre começou a falar para que nos afastássemos dessas pessoas que, segundo ele, eram ligadas ao satanás. A partir daí, optei pelos meus amigos e coloquei na cabeça que um dia iria escrever sobre essa relação”, revela.

Gentili coloca em xeque a cor da pele como característica humana. E conta que mesmo sendo descendente de alemão e italiano, não pode ser dado como branco. “Minha avó era negra. Como é que vão dizer que não sou também. Será que a gente vai ter que ficar tirando sangue para checar isso?”, questiona.

Ele ainda ressalta o lado contemporâneo da obra quando indagado sobre a polêmica o presente da relação. “Olha, acho que isso foi mudando com o tempo. Acho que o marco foi a revolução francesa, que mesmo sendo feita pela burguesia no início quebrou tabus no mundo inteiro. Mas é preciso que pensemos tudo isso profundamente. Hoje, a gente nota que não houve libertação dos escravos. Abriram a porta da senzala, mas jogaram os negros nas favelas. E quem tem a chave é o traficante”, analisa.

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