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Novos modelos para a cultura

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Yuno Silva – repórter

O que moda, música, design, cinema, artesanato, arquitetura, manifestações populares, criação de conteúdos digitais, jogos eletrônicos e publicidade têm em comum? Além das atividades listadas acima estarem diretamente ligadas, de alguma maneira, à arte e a Cultura, todas são exemplos da chamada Economia Criativa (EC) – um novo conceito de interações comerciais onde o capital não está no topo da pirâmide. Nesse tipo de negócio, a lista de commodities ressalta a inovação, a adaptação e a criatividade, e tem como característica o modo diferenciado de produção e de circulação de bens e serviços.
Diretora de empreendedorismo do MinC, Luciana Guilherme, fala sobre o plano Brasil Criativo.
Essa nova forma de negócio ainda é uma grande incógnita para grande parte dos artistas, empresários e gestores públicos, tanto quanto ao perfil transversal bem como sua implementação e funcionamento, e para tentar dissipar a nuvem que paira sobre o assunto entra em cena o 2º Fórum Potiguar de Cultura. A iniciativa, articulada por artistas e produtores culturais do RN, acontece nesta terça-feira, durante todo o dia, no auditório do IFRN-Cidade Alta a partir das 8h30. A programação é aberta a qualquer pessoas interessada e o acesso é gratuito. Informações através dos telefones 9606-1926, 8855 4059 e 8855 2600, ou na página eletrônica  forumpotiguardecultura.blogspot.com.

Entre os debates agendados pela manhã, o tema “A Economia Criativa e sua importância na esfera cultural” será esmiuçado pelos palestrantes Fábio Lima, representante do MinC para o Nordeste; Cátia Lopes, gestora de cultura do Sebrae-RN; e Luciana Lima Guilherme, diretora de empreendedorismo, gestão e inovação da Secretaria de Economia Criativa do Ministério da Cultura.

Posta em prática de maneira involuntária desde os tempos do escambo, a Economia Criativa vem ganhando cada vez mais atenção dos gestores públicos ao redor do mundo. Como há uma tendência global em curso, somada ao potencial criativo e a pluralidade artística brasileira, o Ministério da Cultura resolveu criar no final do ano passado a Secretaria de Economia Criativa – SEC/MinC.

Ainda em fase de implantação, a SEC/MinC trabalha na elaboração do “Plano Brasil Criativo”, iniciativa do Poder Executivo que envolve onze ministérios e pretende consolidar a indústria criativa e o mercado cultural no país através de ações alinhadas de fomento, incentivo, capacitação, articulação e formalização. Ultrapassando o mero objetivo econômico, o Plano pretende conferir maior autonomia ao segmento criativo.

A nova forma de negócio proposta pela EC ainda é uma grande incógnita para grande parte dos artistas, empresários e gestores públicos, tanto quanto ao perfil transversal como sua implementação e funcionamento, e Luciana Lima Guilherme conversou por telefone com a reportagem do VIVER para tentar esclarecer alguns pontos do Plano.

ENTREVISTA

LUCIANA GUILHERME, diretora de empreendedorismo do Minc

Luciana, qual será o tema abordado durante sua palestra no Fórum Potiguar de Cultura?

A intenção é apresentar aos participantes do Fórum o perfil das políticas públicas que estão sendo elaboradas pela Secretaria de Economia Criativa. No momento trabalhamos na definição dos marcos conceituais, dos eixos temáticos, quais as ações estruturantes terão prioridade, como será o desenvolvimento das atividades e como se dará a abordagem a partir da identificação dos contextos local e regional.

Como a SEC/MinC pretende disseminar esse modelo?
Primeiro precisamos encarar a Economia Criativa como um vetor de desenvolvimento capaz de gerar negócios e renda, de estimular a qualificação e ampliar possibilidades de trabalho. A partir desse entendimento, elaboramos projetos para atender uma demanda ainda reprimida, e entre eles destaco a criação dos ‘Criativa Birôs’, escritórios estaduais montados especialmente para oferecer consultoria e capacitação ao segmento criativo. Temos muito trabalho até 2014, e para potencializar o acesso e a distribuição dos recursos precisamos compartilhar informações e incentivar a organização, a formalização.

Quanto de recurso será investido até 2014 e como serão distribuídos e utilizados?

O montante de recursos ainda não está definido. O ‘Plano Brasil Criativo’ está em fase final de formatação pela SEC/MinC e será apresentado até o final de março à Casa Civil da Presidência da República, pois trata-se de uma iniciativa direta do Poder Executivo. Quanto ao acesso e distribuição, temos várias maneiras de financiar atividades criativas, seja através de editais e/ou de linhas de crédito, carros chefes do projeto. Os ‘Criativa Birôs’ funcionam como um pool de instituições que envolve o Sistema S (Senac, Sesc, Sesi), o BNDES, as secretarias estaduais de cultura, parceiros que já atuam junto ao segmento cultural.

Quantos Birôs estão previstos neste primeiro momento?

Inicialmente estão previstos a criação de 14 núcleos, destes doze estão localizados nas cidades sede da Copa do Mundo 2014.

E quantos já estão funcionando?

Por enquanto nenhum, pois não basta apenas alocar recursos. Precisamos treinar a equipe que irá trabalhar nesses núcleos, tem que haver a articulação dos segmentos. Como também teremos que montar espaços físicos, é necessário licitar compra de equipamento e mobiliário, contratação de pessoal. O processo leva tempo, cerca de dez meses até se estruturar um Criativa Birô, e os cinco primeiros devem começar a funcionar em setembro ou outubro deste ano.

Quais as cidades-sedes já contempladas?

Neste primeira fase temos Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte, e até o fim de 2012, devemos chegar às outras nove cidades sedes. É um equipamento completo, complexo, que precisa estar muito bem azeitado para funcionar a contento.

Apesar de ser tida como novidade, a Economia Criativa já vem sendo praticada há tempos…

Exatamente. Além da Cultura temos que envolver os ministérios do Turismo, Esporte, Trabalho, Educação, Desenvolvimento Nacional, Cidades, entre outros. São onze ministérios ao todo e por isso não tenho como quantificar o volume de recursos antes de fechar o ‘Plano Criativo Brasil’, cujo perfil é transversal e requer uma atuação conjunta. O país tem uma riqueza cultural enorme que não gera renda suficiente, cujo resultado está bem inferior ao tamanho do potencial. Como cada ministério trata o mesmo objeto com olhares diferentes, o Plano vem para alinhar ações. O momento é de estabelecer esse recorte (político, cultural, social e econômico) e colocar em prática um projeto com começo, meio e fim, inclusive prevendo mecanismo de acompanhamento e fiscalização.

O Plano Nacional de Cultura e o Sistema Nacional de Cultura tem alguma coisa a ver com isso tudo?

Totalmente, está tudo interligado! O Plano funciona sobre o tripé: simbólico, cidadania e economia, sendo está última a mais defasada que as demais. Então é imprescindível a elaboração dos Planos Estadual e Municipal para estar inserido.

Tirando gestões públicas, pois muitas ainda não traçaram esses planos em nível local e regional, a SEC/MinC tem encontrado resistência ao longo do percurso?

Não diria resistência, faz parte do processo vencer o desafio para quebrar alguns paradigmas que engessam a próprio desenvolvimento dessa cadeia econômica em torno da Cultura. É importante frisar que a intenção não é promover a mercantilização da arte e sim buscar sentido para estabelecer um planejamento de crescimento. Sabemos que editais são insuficientes para atender toda a produção, por isso as linhas de crédito.

E como abarcar os mestres de cultura popular, herdeiros de saberes e tradições que estão se perdendo por falta de incentivo e retorno financeiro?

As culturas tradicionais são as mais delicadas em termos econômicos, por isso a necessidade de envolver outros segmentos como o Turismo. Não temos como querer transformar mestres em gestores culturais, mas através da formação de redes podemos compensar essa deficiência ao atender pessoas que atuam junto a esses grupos, por exemplo. O trabalho é de formiguinha.

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