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Nunca mais

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Vicente Serejo
Durante uma dezena ou mais de anos, calmos e felizes, tivemos uma pequena confraria de amigos. Nos reuníamos no almoço, às quintas-feiras, no restaurante de Lula. Era o dia de alguns excessos no prato e no copo, o doce absinto que nos embriagava de conversas e saudades da juventude, lembrada nas pequenas histórias que saltavam da memória. Ou, então, e sem nenhum fulgor, as novidades da vila e do mundo, até que a tarde anunciasse, luminosa, o seu primeiro azul. 
Vivemos assim, anos e anos, sem cuidarmos do perigo. Era como se cada um não tivesse o dia de partir para a viagem do nunca mais. E veio a notícia de que nosso querido amigo Kerubino Procópio havia partido, nos deixado órfãos daquela sua bela inteligência que parecia saber de tudo. Tempos depois, viajou Aécio Emerenciano, entre as cores dos seus pincéis e os risos de sua alma cheia de vida, apagando em nós a alegria de vê-lo brincar e espantar a tristeza a cada quinta-feira.   
Veio a pandemia e no começo não suspeitamos do pior: nunca mais teríamos os mesmos, na mesma mesa, na mesma hora, no mesmo lugar. A pandemia não acabou nunca. Mas com as duas doses da vacina, Genibaldo Barros, o decano, 93 anos, nos reuniu na sua varanda diante do mar. Haroldo Bezerra já não pôde ir, preservado por Selma na intimidade de sua enfermidade. Foi agradável. Mas três já não estavam ali, dois deles na grande viagem, e foi muito bom lembrá-los. 
Há poucos dias, foi José Augusto Delgado que nos deixou. Morava em Brasília, mas tinha escritório também em Natal e, quando estava aqui, reservava a quinta-feira para almoçar com os amigos, levado por Genibaldo Barros ou Diógenes da Cunha Lima. Hoje, justo na quinta-feira do nunca mais, chega a notícia da morte de Álvaro Alberto. Justamente aquele que nos organizava, com sua secretária confirmando, logo cedo, a presença de cada um ou as justificativas da ausência.
Recentemente, Álvaro construiu uma capela na casa de Muriú, lugar de alguns dos nossos almoços no verão, e queria que todos estivessem reunidos numa missa que seria celebrada pelo padre João Medeiros Filho. A capela estava pronta, com os santos no altar. Faltava apenas esperar que a pandemia passasse. Depois da missa, banho de mar ou de piscina, nossas conversas, o almoço, café, licor, e mais conversas, até que a tarde derramasse a noite sobre o mar de Muriú.   
Hoje somos poucos. Com Genibaldo Barros, Ives Bezerra, Daniel Vasconcelos, José Bezerra Marinho, Eduardo Melo e Sávio Hackradt, faríamos uma mesa, sim. Pra quê, se faltariam eles? Da nossa tristeza sabemos nós, com nossas perdas. Sem Álvaro, que organizava e calculava a parcela de cada um na hora de pagar a conta no restaurante, como faremos?  Somos agora aquele verso do poema triste do poeta Carlos Drummond de Andrade: fazemos parte das coisas findas. 

TIRO – Convenhamos: foi certeiro o tiro de rebate do deputado Kelps Lima na resposta dura ao doutor Carlos Gabas. Quem é acosfumado a ser testemnha não deveria demonstrar ter algo a remer.
COVID – A revista ‘Veja’ lançou uma edição especial, na sua  versão ‘Veja-Saúde’, toda dedicada às sequelas, efeitos e consequências do Coronavírus. Os próximos e remotos. Na carne e na alma. 

JOGO – A governadora Fátima Bezerra arma o jogo de 2022 e lança um plano de obras que imagina realizar antes das urnas de 22, suprindo realizações que a pandemia impediu fossem feitas.  

OBRAS – Nesse jogo, uma dezena de institutos de educação profissional, reforma de sessenta escolas e centro de lazer na Via Costeira. Meio bilhão de reais financiados pelo Banco Mundial. 
DESAFIO – Com sua candidatura consolidade – só as urnas julgarão – a tradição vive o pesadelo de enfrentar o PT no poder por mais quatro anos. Os grupos políticos e familiares não suportam. 

AGENDA – Dia 11 de novembro a Academia de Letras tem duas eleições: o subsituto do jornalista João Batista Machado e o novo período de gestão da sua diretoria. Como manda o seu regimento.

VAGO – Uma das escolhas dos imortais será o nome que vai assumir a direção da biblioteca, com a renúncia do poeta Lívio Oliveira. Nome que pode ser proposto por qualquer dos seus confrades. 

IRONIA – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, traçando um quizado de carneiro: “Hoje não se come feijão, arroz, carne e açúcar. Só carboidratos, proteínas, ferro, zinco e glicose”.
SUSPENSA – Natal deve ganhar, nos próximos anos, a primeira experiência arquitetônica da ‘casa suspensa’. Serão inicialmente dez unidades com um pé direito que permita mezaninos, jardins e varandas abertas. Um modelo que já existe em áreas urbanas, em Florianópolis, Santa Catarina. 
CRITÉRIO – Um produtor cultural que prefere não expor seu nome, escreveu a esta coluna para saber o critério do governo na escolha da Casa da Ribeira como a entidade gestora da produção artística do Museu da Rampa. Esta coluna não soube responder. Com a palavra, pois, o governo.  
ALIÁS – Para o governo, pelo visto, obra artística não tem valor patrimonial. Até agora não há uma palavra oficial sobre quantos e quais foram os quadros levados da Pinacoteca do Estado, no Palácio Potengi. O gestor público tem a obrigação de prestar contas. E o MP, não vai apurar nada?     
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