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“Nunca vivemos uma situação tão boa”, diz Flávio Azevedo

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ENTREVISTA -

Presidente da Fiern pela segunda vez, o empreiteiro Flávio Azevedo é dono de opiniões firmes sobre o desenvolvimento do Rio Grande do Norte. Um dos mediadores do seminário Infra-estrutura do projeto Motores do desenvolvimento do RN, ele defende a criação de Zonas de Processamento de Exportação (ZPE) para o Estado. E não tem dúvida: a grande saída é ajustar os ponteiros das obras prioritárias, tendo em vista os projetos estratégicos.  Um aeroporto intermodal capaz de receber cargueiros de grande capacidade, aliado a um terminal porta-container pequeno, mas eficiente e ligações por rodovias e ferrovias que sirvam melhor aos interesses econômicos são caminhos clássicos que devem obedecer às peculiaridades do desenvolvimento de cada estado.  Nessa entrevista, Flávio Azevedo fala um pouco de todos esses temas e comenta a importância da série de seminários promovidos pela TRIBUNA, em parceria com o governo do estado, prefeitura de Natal, Fiern, Fecomércio, Banco do Brasil, Assembléia Legislativa, UnP, com apoio da consultoria Rgarcia.

Qual a importância de um seminário sobre infra-estrutura do RN neste momento?
Eu diria que a importância desse seminário reflete a importância do momento. O País nunca viveu uma situação tão boa como a atual, tanto do ponto de vista social como economicamente. Ao mesmo tempo, temos grandes problemas de infra-estrutura que ameaçam as conquistas presentes – o que confere ao seminário “Os Motores do Desenvolvimento do RN” uma importância realmente singular.

O senhor considera os gargalos gerados pela falta de infra-estrutura problemas comuns a todo o país?
Em parte sim, fazendo a ressalva de que cada Estado desta imensa Federação tem suas peculiaridades. É forçoso reconhecer que cada uma dessas unidades federadas exercita fórmulas diferentes de se conduzir dentro dessa mesma questão. As fórmulas encaminhadas dentro do Rio Grande do Norte para tratar de suas questões de infra-estrutura não obedecem o mesmo padrão nem a nível de Nordeste, o que dizer em relação ao resto do País. E isso acontece, muito compreensivelmente, em função da especificidade de cada economia – da pernambucana, da potiguar, da paraíbana, da cearense.

Na sua opinião, enquanto dirigente do segmento empresarial, é urgente o debate sobre infra-estrutura?
Não só urgente como estamos atrasados nisso. Nossa infra-estrutura é muito pequena, pobre, e não está totalmente contemplada nos novos planos do Governo Federal. Por exemplo, não estamos contemplados nos planos da ferrovia Transnordestina, que entrará apenas no Ceará, Pernambuco e Maranhão.

Há setores do governo do estado achando que a Transnordestina não é prioritária porque apenas facilitaria o escoamento de nosso produtos para os Portos de Pecem e Suape. O senhor concorda?
Não concordo e explico a partir do projeto do aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Ele não pode ser encarado como mais um grande aeroporto do Nordeste, considerando que será um aeroporto intermodal. Ele será a porta de entrada não só para o Brasil, mas para a América Latina, tanto de passageiros como de cargas aéreas. Faz parte do conceito de intermodalidade um escoamento através de vários sistemas de transportes – rodoviário, ferroviário, marítimo e aéreo. É possível que o transporte ferroviário neste momento não tenha a importância de um transporte marítimo, mas no futuro ele certamente terá. Pricipalmente em se tratando de um país de dimensões continentais como o nosso.

Como fica então o Porto de Natal? Há setores que não acreditam mais na eficiência desse terminal para as demandas futuras…
Uma produção como a do Rio Grande do Norte não necessita de um grande porto como Pecém ou Suape…

O senhor acha que o Porto de Natal remodelado, com mais espaço para acomodar containers e um calado (profundidade) maior funciona?
Funciona. O nosso porto necessita justamente de um terminal porta-containers. Não precisamos de um porto que, a exemplo de Suape e de Pecém, foi projetado para transportar tudo – líquidos, grãos -, enfim, um porto completo. Precisamos apenas de um porto que cumpra sua função de carregar e descarregar containers – e obviamente uma área maior para movimentá-los. O que não pode acontecer é não descer um container por falta de guindaste na eventualidade do equipamento do navio estar avariado. E isso já aconteceu. E, é claro, precisamos urgentemente de uma retroárea para o porto, implicando na desapropriação da favela do Maruim e na realocação de seus habitantes.

O surgimento de um aeroporto como o de São Gonçalo, capaz de receber grandes cargueiros, sinaliza mudanças no modal aéreo?
Acho que fundamentalmente a presença de grandes aeronaves sinaliza uma necessidade das companhias aéreas. Nos últimos anos, muitas empresas ou quebraram ou tiveram que readequar suas operações. No Brasil temos acompanhado a mesma coisa acontecer. Acho que essas mudanças estão sendo ditadas principalmente pelo transporte de cargas. Trata-se de problemas ligados a custos de operação que quebraram muitas companhias aéreas. Com um detalhe: quebraram abarrotadas de cargas e passageiros. Portanto, não quebararam por causa de mercado, não. No futuro teremos no mundo, talvez uma dúzia de grandes aeroportos interligando continentes.

Quer dizer que, na sua opinião, esta seria a função no futuro do aeroporto de São Gonçalo?
Olha, um aeroporto para a América do Sul tinha mesmo que ser no Nordeste – não necessariamente em Natal. Poderia ser em João Pessoa, Fortaleza – agora, tinha que ser no Nordeste. Um terminal desse tipo em São Paulo, nem pensar. Porque três horas de viagem a mais num trajeto para a Europa, dependendo da carga e do contrato, inviabiliza ou, no mínimo, prejudica a operação. Três horas de vôo em termos de custo de combustível, custo de tripulação, custo de manutenção, depreciação da aeronave representa uma tonelada de dinheiro. Portanto, é impossível que esse aeroporto fosse em Confins (MG) ou no Rio de Janeiro ou em Campinas (SP). Tinha que ser por aqui mesmo. Por sorte esse nosso aeroporto (São Gonçalo) já estava em construção…

O senhor atribui sua escolha a isso?
Quando o de São Gonçalo começou a ser construído ele não tinha o conceito de um aeroporto intermodal. Nasceu apenas para liberar o Augusto Severo para uso militar e ficaríamos apenas com outro terminal de passageiros. Mas no fim das contas ganhamos essa condição em função de uma compensação por causa da refinaria perdida para Pernambuco. É bom que se frise: resultado de uma articulação bem sucedida da governadora, com o apoio do senador Garibaldi e do deputado Henrique Eduardo, que pressionaram o governo para ganharmos esse aeroporto. Foi, portanto, o resultado de uma negociação política.

Então, o senhor qualifica de oportuna a série de seminários “Os Motores do Desenvolvimento do RN”…
Oportuna para dizer pouco. Depois desse primeiro sobre infra-estrutura, previsto para o próximo dia 2 de junho, teremos o de Energia e um terceiro sobre Turismo. Todos para este segundo semestre.

O senhor diria que todos esses temas equivalem-se em importância?
Certamente. Até porque guardam uma evidente interdependência entre sí. No caso do turismo, temos uma situação bastante pecualiar no RN graças aos pesados investimentos que têm ingressado no Estado. No caso do tema Energia, mais ainda, na medida em que 50% do potencial de energia eólica a ser gerada no País está no Nordeste do Brasil. E, pelo menos metade dessa capacidade, está no RN. Por outro lado, o Nordeste não tem mais capacidade de produção de energia hidráulica. Por isso mesmo acho um erro o Governo federal querer aplicar aqui a mesma política de energia de outras regiões do País. Energia termoelétrica também a meu ver não é mais uma opção viável depois que entrar em operação a Termoaçu. Depois dela não se poderá mais pensar em gás como alternativa. Termoelétricas movidas à óleo, além de poluidoras, são caras. E,  biomassa, parece estar resumida em algumas poucas usinas, principalmente no Rio Grande do Norte. Portanto, resta-nos, como grande potencial, a energia eólica. Porque temos as duas melhores condições nesse campo: a constância e a velocidade dos ventos.

Na sua opinião, aeroporto de São Gonçalo será determinante para viabilizar a Zona de Processamento de Exportação no RN?
Eu prefiro separar uma coisa da outra. Ambos os projetos, embora se complementem e se alavanquem, são absolutamente distintos. Com relação ao aeroporto, o primeiro grande passo foi dado com a elaboração do Plano Diretor do município de São Gonçalo. Não para evitar especulação imobiliária no entorno do aeroporto, isso é impossível, é regra de mercado.  Mas se presta bem a evitar construções verticais na área. O passo seguido pelo município, com a orientação da Infraero, foi absolutamente fundamental. Na verdade, tudo isso é a regulamentação do uso do solo. Agora, é bom que se diga o seguinte: quem estiver pensando que a Zona de Processamento de Exportação deve estar colada ao aeroporto está redondamente enganado. ZPE pode ser em qualquer lugar perto do aeroporto, mas não necessariamente colado nele. Até porque uma distância de 100 km não altera substancialmente o custo de frete.

O senhor apontaria uma prioridade quando se fala em aeroporto de São Gonçalo?
Mão de obra – isso é absolutamente fundamental. Não nos preparamos, por exemplo, para receber a Petrobras na sua evolução a curto, médio e longo prazo no Estado. O resultado é o que se viu: a empresa importando pessoal. Não podemos cometer o mesmo erro em São Gonçalo. E nisso o papel do “Sistema S” é fundamental, através do sistema Fiern – Senai e do Senac, cuja missão fundamental é justamente qualificar mão-de-obra. Para isso, temos que correr, até para que não haja um apagão de recursos humanos. Ou que grande parte da mão-de-obra acabe vindo de outros estados.

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