sexta-feira, 19 de abril, 2024
29.1 C
Natal
sexta-feira, 19 de abril, 2024

Núpcias Reais

- Publicidade -

É um grande entre os grandes musicais da Metro? Não. É um grande entre os grandes filmes do diretor Stanley Donen? Não. A dançarina-atriz Jane Powell é talentosa como Ginger Rogers e sensual como Cyd Charisse? Não. Pois bem. Apesar das desvantagens em relação as comparações, “Núpcias Reais” (Royal Widding)é um ótimo filme.

As desvantagens enumeradas não são um defeito, apenas a constatação, tal qual acontece com inúmeros filmes, que não alcançaram o patamar das obras-primas do gênero, como “Sinfonia de Paris”, “Cantando na Chuva”, “A Roda da Fortuna”.

Somente agora, sob a perspectiva do tempo e a revisão da cópia em DVD, podemos avaliar o equivoco crítico cometido no passado.

Até os anos 50, a convivência com a excepcionalidade artística do cinema americano espelhada em todos os gêneros, gerou um grau de exigência descabida, que, junto com o hábito da comparação, agravou o equivoco crítico. Todos os cronistas do passado, inclusive Moniz Vianna, o maior de todos, viu-se obrigado a fazer uma mea culpa diante das injustiças reveladas pela revisão, proporcionada pelo vídeo.

É claro que também temos os casos dos filmes supervalorizados. Existem filmes que (inexplicavelmente) o critico deveria ter gostado e não gostou. É incrível o que Moniz disse na estréia de “Paixão dos Fortes” – ele, porém, se redimiu desse pecado mortal na reprise.

A cada revisão, uma nova surpresa – e, na maioria das vezes, a surpresa é agradável.

“Núpcias Reais”, produção da MGM de 1952, é muito superior ao filme que estava arquivado em nossa memória cinematográfica. A lembrança de Fred Astaire era a imagem mais marcante e presente. E, entre os números, pelo seu inedetismo e pela engenhosa criatividade, era impossível esquecer aquele em que Fred dança nas paredes e no teto do quarto do hotel.

O filme, porém, excedendo, mas não superando, a individualidade de Astaire é bom, por vários motivos.

Tudo nele é agradável, simpático, bom de ser ver, bom para ouvir. Há, outro número musical notável, é o executado por Fred & Jane sobre o salão de dança do navio, que, por causa da tempestade, oscila e provoca escorregos, quedas provocadas por objetos que surgem na pista, atropelando os dançarinos.

A trama é simples. Uma dupla de dançarinos, Tom & Ellen, vão se apresentar em Londres durante as comemorações do casamento da princesa. Eles, que são irmãos, vivem uma dupla paixão, que põe em risco o futuro profissional da dupla. Ela, habituada a descartar namorados, rende-se ao charme e a beleza de Lord John Brindale, papel interpretado por Peter Lawford, um dos jovens galas da Metro.

Tom, que sempre evitou casar-se para não comprometer a carreira, muda (hesitante) de idéia ao conhecer uma inglesa típica, Anne Ashmond, vivida por Sarah Churchill, filha (na vida real) de Winston. O papel não exigia uma atriz, mas uma presença marcante, com seu porte físico e cabelos ruivos Sarah Churchill corresponde fisicamente à personagem.

Era previsível – e até inevitável – que o clima do romantismo vivido pelos londrinos com o casamento real fosse transportado para a tela. A substituição do pragmatismo americano pela opção romântica é coerente com o irrealismo do gênero e o clima da história, assim como o estado de espirito dos personagens.

Entretanto, como em tantos outros musicais, o que menos importa em “Núpcias Reais” não é a história em si, mas o esquema de produção, este assegurado por Arthur Freed, e, também, pelos números, as canções e os intérpretes. Fred Astaire, impecável, tem outro solo antológico no qual a sua parceira é um cabide! Se o número do quarto, onde dançou nas paredes e no teto é um prodígio de criatividade coreografica, este, em seu singular despojamento, espelha e agiganta a criatividade individual de Fred Astaire.

O trabalho artesanal de Stanley Donen possui a fluência rítmica da atraente da linguagem padrão da MGM dos anos 50. Utilizando imagens dos cinejornais, misturando-as as de ficção, a montagem é tecnicamente perfeita. Somente quem possui olho cinematográfico distinguirá umas das outras. Jamais os noivos  aparecem, mas sabemos que estão dentro da carruagem, desfilando pelas ruas, aplaudidos pela multidão. Perpetuadas na ficção, temos nessas cenas o documento de um acontecimento histórico, ajustado a um filme de ficção.

O elenco de apoio é bom, mas, entre os participantes, seria injusto omitir o nome do versátil Keenan Wynn, que em duplo papel e caracterizações físicas diferentes – diferença extensiva ao sotaque – faz os papeis dos irmãos e empresários Irving e Edgar Klinger, um americano, outro ingles.

Apesar de ter sido obscurecida por outras parceiras, Jane Powell, contudo, jamais compromete a performance de Fred Astaire. Quanto ao papel em si, este exigia uma mocinha bonitinha, simpática, saudável, segundo o perfil das heroinas tipicamente americanas, daquele tempo. Em “Núpcias Reais”, Jane Powell representa esse ideal cênico e fisico – e, mesmo não sendo Ginger Rogere, faz bem e é graciosa em tudo o que faz.

V de Vingança

Essa aventura futurística, situada na Inglaterra, paradoxalmente, tem como herói um personagem herdeiro dos heróis do passado. É uma mistura de Zorro, o Fantasma da Opera e o Conde de Monte Cristo. A sua causa, a despeito de ser movida pelo desejo pessoal de vingança, torna-se socialmente justificado por ser direcionado contra o poder tirânico de um ditador.

A fonte do roteiro é uma dessas modernas e sofisticadas histórias em quadrinhos, que, refletindo os novos tempos, diferem substancialmente na clareza temática das produzidas nas décadas de 30 e 40. Combater o Mal, é a missão tradicional dos defensores da Democracia, mas eles agiam de acordo com o código de ética pessoal. Esse código, porém, inexiste no herói, ou melhor, no anti-herói do filme.

A sua vingança torna-se socialmente injustificável e inaceitável quando assume a conduta e a tática dos terroristas. Ele não seleciona os alvos da vingança e para executá-la não leva em consideração a multidão e o sacrifício de vida inocente. Justificar uma ação terrorista é o mesmo que apresentar o seqüestrador como herói – ou, pior ainda, como uma “vítima” do sistema social.

Dizer que “V de Vingança” é  bem feito, é, no mínimo, cair num clichê crítico. Qual o filme americano que não é tecnicamente bem feito? Há muito, porém, que no cinema americano ser bem feito deixou de ser sinônimo de qualquer artística.

Tematicamente, “V de Vingança” é inaceitável – é melhor, mais seguro para todos, que a Sociedade permaneça defendida pelo Super-Homem & Cia. E que o ato de vingança seja praticada pela espada do Conde de Monte Cristo, jamais por um vingador usa um trem cheio de explosivos, tal qual ocorreu na realidade, em Madri.

- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas