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O abstrato e o concreto

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Ivan Maciel de Andrade     
Advogado          
            

Qual a importância da filosofia? Muitos resistem em admitir a utilidade dessa área do conhecimento. “Primo vivere, deinde philosophari”. Primeiro viver, depois filosofar. Ortega y Gasset, entretanto, diz que as coisas da vida aparentemente inúteis são as mais importantes (entre as quais, a especulação filosófica). Enquanto isso há um velho provérbio norte-americano: “Philosophy makes no bread”. Literalmente: a filosofia não faz pão, ou seja, não enche o estômago de ninguém. Mas a verdade é que cada vez mais se questiona, hoje, sobre temas como: a) os limites do conhecimento humano; b) os valores éticos que devem orientar o comportamento das pessoas e dos grupos; c) as doutrinas estéticas, abrangendo as diferentes manifestações de arte; d) a função da internet num mundo em que as pessoas interagem em grande parte através das redes sociais; e) a essencialidade do poder e as funções do Estado diante da economia de mercado e do apelo onipresente à redução das desigualdades sociais; f) os direitos e prerrogativas da cidadania, tais como o acesso aos serviços que garantem a educação de boa qualidade, a saúde e a segurança dos cidadãos. São temas com visível complexidade teórica e filosófica que têm provocado as maiores e mais acirradas discussões.

2. Considero inadmissível: a) a supervalorização das delações premiadas – até mesmo porque os próprios delatores se contradizem e às vezes se retratam – para efeito de condenação de quem quer que seja; b) preterir ou atropelar formalidades legais – o “due process of law” – para apressar decisões condenatórias; c) extinguir políticas sociais, sobretudo nas áreas de saúde e educação, em favor da austeridade fiscal, atendendo a interesses de investidores, bancos e especuladores internacionais; d) a posição inflexível e intransigente do Governo Federal no tocante à quebradeira de Estados e Municípios – que repercute na prestação dos serviços públicos essenciais, na manutenção da máquina administrativa e, portanto, na população, criando perigoso clima de instabilidade social.

3. Não é segredo que a forma de fazer política no Brasil sempre teve como praxe o uso e abuso do caixa dois, alimentado por contribuições obtidas de empreiteiras. Geralmente, através de licitações fraudulentas e obras superfaturadas. Um jogo de “toma lá, dá cá”: as vantagens ilícitas concedidas às empresas retornavam sob forma de mega-propinas. Uma prática ilegal aparentemente tolerada. Então, a verdade última é que poucos políticos, de maior ou menor projeção, escapam do envolvimento nesse tipo de falcatrua que vem sendo objeto de investigação – como nunca se fez antes – pela Lava Jato.

4. De Jorge Luis Borges, no ensaio “El libro” – breve, erudito, apaixonante –, incluído no quarto volume de suas obras completas: “Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso, sem dúvida, é o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O livro, porém, é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação”. Quanto à palavra oral: “Todos os grandes mestres da humanidade, curiosamente, foram mestres orais. Tais como Pitágoras, Sócrates, Cristo, Buda.” Lembra Borges: Cristo escreveu uma só vez – “algunas palabras que la arena se encargó de borrar”.

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