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O alto preço dos shows internacionais

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Por Jotabê Medeiros

A temporada de solos de guitarra e cifras financeiras é a mais pródiga dos últimos dez anos. A diversidade da programação na área de entretenimento no País só esbarra num obstáculo: o alto preço dos ingressos nas grandes cidades brasileiras, em especial no Rio e em São Paulo. Com o real forte diante do dólar (oscilando em torno de R$ 1,60; entre março de 2010 e março de 2011, o real teve uma valorização de 11%), o preço do ingresso de show no Brasil acaba se equiparando ou superando os internacionais. Há também uma carestia particular: na semana passada, levantamento da Fundação Getúlio Vargas (FGV), feito a pedido da Agência Estado, mostrou que os preços de serviços não prioritários no orçamento familiar, como espetáculos, já supera a inflação média em 12 meses, até junho. Shows de música ficaram 7,24% acima da inflação.
Tears for Fears é uma das atrações internacionais deste ano
O resultado é visível nas bilheterias: Rihanna entre R$ 150 e R$ 600. Limp Bizkit entre R$ 140 e R$ 300. Cirque du Soleil entre R$ 140 e R$ 395. Eric Clapton entre R$ 140 e R$ 650. Com alguns custos adicionais, como taxas de conveniência, transportes (táxis) e serviços (estacionar em torno do Estádio do Morumbi, durante megashows, chega a custar R$ 150, e no Credicard Hall estão cobrando até R$ 30), essas cifras sobem consideravelmente.

William Crunfli, empresário do setor, vice-presidente para a América Latina da XYZ Live (megapool de entretenimento que reúne as empresas Mondo Entretenimento, Maior, ReUnion Sports & Marketing; e parcerias com Paulo Borges, da Luminosidade, que realiza a SP Fashion Week, em moda; e Monique Gardenberg, Dueto Produções, em cultura), enumera os motivos do boom: “O Brasil está bem, o poder aquisitivo aumentou, consequentemente o mercado está receptivo. O dólar baixo aumenta nosso poder de compra comparado aos outros países, e o mercado internacional está em crise; com isso os artistas estão mais disponíveis. Os artistas estão fazendo mais shows, pois é uma fonte de renda importante, e a venda de discos está cada vez menor. E o Brasil já é rota dos grandes shows”.

O peso da meia-entrada

Os empresários colocam como vilão do preço alto dos ingressos o fato de que o Brasil é o único país no mundo que tem 50% de desconto para estudante – que, em alguns shows, é incorporado ao valor do ingresso (caso do show de Avril Lavigne, dias 27 e 28, no Credicard Hall, cuja meia-entrada de cara já custa R$ 175). O Custo Brasil também é um fator crucial, argumenta o mercado. O País mais caro para carga e logística, segundo William Crunfli. “Os valores de locação, impostos, custo de produção também estão altos; ou seja, tudo isso vai para o ingresso”, explica. Como exemplo, está o preço da locação de palco – US$ 30 mil nos Estados Unidos, e R$ 200 mil no Brasil, e a luz de palco, que custa US$ 30 mil nos Estados Unidos e entre R$ 180 mil a R$ 250 mil no Brasil.

Recentemente, show de Ozzy Osbourne, realizado pela empresa T4F (que controla 80% do mercado de megashows) pagou R$ 91 mil de Imposto Sobre Serviços (ISS) ante uma renda bruta declarada de R$ 6 milhões). A empresa questiona cobranças da Prefeitura de São Paulo na Justiça, mas não quis comentar as ações, nem o problema dos preços no mercado de shows – a Assessoria de Imprensa informou que a diretoria artística prefere manter em sigilo os custos, “até por questão de confidencialidade de contrato na negociação dos artistas”.

“O público que chega para assistir a um show internacional não tem ideia do trabalho e dos custos que estão por trás”, diz Edgard Radesca, do Bourbon Street Music Club, que realiza diversos eventos (como o Bourbon Street Jazz Fest, de 29 de julho a 7 de agosto). Segundo Radesca, sobre o cachê que paga ao artista internacional incidem os seguintes tributos: 33% de Imposto de Renda, 10% de taxa da Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), 3% de Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos. Fora isso, há os custos com o visto de trabalho (US$ 210 por músico, mais US$ 100 por música para os despachantes internacionais). Sobre a bilheteria, incidem de 5% a 10% de direito autoral para o Ecad, mais 5% de ISS, e mais PIS, Cofins e Imposto de Renda sobre o lucro presumido.

Sem considerar também o preço do aluguel do espaço – o Anhembi, por exemplo, pode sair por R$ 45 mil por dia, mas como leva um dia para montagem e outro para desmontagem do palco, pode sair por quase R$ 150 mil. Hoje em dia, caso o show seja em um parque, também há a Taxa de Emissão de Carbono. Em São Paulo, também se paga à CET para organizar o trânsito, entre outros custos.

Os preços dos ingressos estão desanimando os fãs? Muito pelo contrário. Há alguns dias, o publicitário Rafael Ziggy, pelo Facebook e pelo Twitter, lançou uma ideia ambiciosa: arregimentar 100 mil fãs para trazer o grupo Foo Fighters ao Brasil. Já tem 65 mil adesões, a R$ 50. “Já sabemos que eles sabem da iniciativa e gostaram muito da ideia, então seguimos em busca da confirmação da banda”, disse Ziggy. “Quanto mais pessoas engajadas na causa, menos é possível ficar indiferente ao movimento.”

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