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O ano da Copa do Mundo

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Ivan Maciel de Andrade                                                                                                           
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)   
               
Qualquer prognóstico sobre as próximas eleições precisa levar em conta que este é o ano da Copa do Mundo de futebol, a realizar-se na Rússia de 14 de junho a 15 de julho. O Brasil já é pentacampeão, tendo a nossa seleção vencido, invicta, em 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. E se for hexa? Haverá pessimismo de natureza política ou econômica que resista? O ufanismo chegará como um tsunami para exaltar a superioridade de nosso futebol e a grandeza do futuro que aguarda a “pátria amada, idolatrada, salve, salve”. Basta atuar com o talento e o amor à camisa dos novos campeões!

Esse passaria a ser o lema posterior à conquista do hexacampeonato. Com o significado de que – o mundo que se rendeu ao talento e à criatividade do jogador brasileiro também se renderá à nossa habilidade em dar a volta por cima. Transformando o limão das crises angustiantes e depressivas na limonada de um país que sabe escolher seus governantes, exorciza a corrupção endêmica da classe política e retoma o ritmo de crescimento com que se destacou no passado entre países emergentes.  

Ninguém subestime a força e o poder do impacto no estado de espírito dos brasileiros de um hexacampeonato mundial de futebol. Tiro por mim: será que não ficarei predisposto a aceitar uma visão colorida e enganadora da política e economia nacionais como projeção da autoconfiança adquirida nos estádios do país de Putin (que já foi de gênios como Dostoiévski e Tolstói)? E quem for sincero e não quiser posar de cerebral, avesso às paixões coletivas – de que o futebol é o fascinante exemplo – concordará comigo. Mesmo que se sentindo vítima de um ópio que conduz à insensatez.

Somos um país que vem sofrendo tantas decepções e amarguras que ficaria de bom tamanho para a nossa tristeza e desestima um fato como esse – um hexa surgido do recalcado e repugnante 7 a 1, que continua como pesadelo do qual ainda não conseguimos acordar. E não é tão difícil assim realizar esse sonho. Como observou recentemente Tostão, com sua autoridade de craque tricampeão mundial: “Temos o hábito de criticar muito os treinadores brasileiros e de elogiar bastante os da Europa. É o complexo de vira-lata. Eles não são tão bons, nem os do Brasil são fracos”. E agora, hein, que temos um excelente técnico na seleção! Afinal, Tite inspira confiança aos jogadores e à torcida.

Bom mesmo seria que o povão pudesse enxugar as lágrimas de tão longos e pesados sofrimentos através da vitória num evento esportivo dessa magnitude. E conseguisse (quem sabe?) acreditar em si mesmo. Porque é daí, da sociedade, da opinião pública, dos humilhados e ofendidos, que podem surgir – através dos processos democráticos de escolha dos titulares de mandatos eletivos – as mudanças fundamentais de que tanto necessitamos. E não da falsa e corrompida elite que finge governar e desgoverna a nação, jogando-a no caos político e econômico. Com agravamento da desigualdade social e sucateamento dos serviços públicos essenciais: saúde, educação, segurança.

E se o Brasil perder a Copa? Pouco importa se jogando bem ou mal. Já nos acostumamos a ser campeões. O que nos restaria de autoestima? Como isso influenciaria as eleições que se avizinham?

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