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“O artista não deve esnobar o passado”

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Se os escritores trabalhassem em serviços burocráticos, cercados de colegas enfadonhos, talvez sua labuta literária fosse muito mais leve. Ele escreveria com mais honestidade, aproveitando o tempo e se vendo serenamente na presença de si mesmo. É o que parece acontecer com o contista e poeta Antônio Mariano, autor de “Gozo Insólito” (1991), “Te Odeio com Doçura” (1995), “Imensa Asa do Dia” (2005) e “Guarda-Chuvas Esquecidos” (2005), além de funcionário do INSS. De semblante dócil, olhar agudo, simpatia certeira, o paraibano desfruta de uma boa reputação crítica, sendo elogiado tanto pela prosa como pela poesia. Idealizador do projeto Tome Poesia, que apresentou durante anos vários poetas num evento que teve repercussão bacana, ele é um dos convidados do I Encontro Natalense de Escritores (ENE). Nesta entrevista fala sobre o seu ofício poético, sobre a crítica literária e revela seus projetos.

Você escreve para responder perguntas que às vezes não têm respostas?

Antônio Mariano: Eu diria que escrevo mais para ter perguntas do que respostas. Escrevo para descobrir que tenho perguntas, muitas para as quais não tenho a menor vontade de respondê-las pois no dia que tiver mais respostas que perguntas paro de escrever. Os questionamentos é que são os combustíveis da boa literatura. Não convém ao escritor responder nada diretamente, mas provocar o leitor a encontrar essas respostas.

Vale a pena escrever poesia? Não seria melhor transformar a vida em poesia do que fazer poesia com a vida?

AM: A vida via de regra é prosaica. A graça está exatamente em extrair poesia daí, dessa matéria bruta que são as coisas que nos rodeiam. A poesia tem que ser exceção para que as pessoas dêem conta da sua importância. Se o contrário prevalecer perderemos a noção do que é poesia, tudo se tornará muito chato. Então nos deixem na nossa eterna busca de poesia.

Ainda hoje nascem poetas simbolistas e saudosistas, soneteiros e regionalistas. Se pelo menos fossem repentistas…

AM: Se pelo menos soubessem dialogar com essas expressões estéticas e trazê-las para uma linguagem de seu tempo… Acho que o artista jamais deverá esnobar o passado desde que tenha a postura de pensar essa herança contemporaneamente. Mas as escolas dão a entender aos alunos que a literatura ficou no século XIX, que poesia é rima e derramamento. Grande falha essa.

Poeta é aquele que sobrevoa o abismo?

AM: Poeta subvoa, principalmente. Os subterrâneos, no mais das vezes, têm mais a mostrar que os céus de brigadeiro. O poeta não é superior ao abismo. Ao contrário, o contempla de baixo ou caminha lado a lado com ele, tomando continuamente suas lições.

Como foi a repercussão de sua mais recente publicação?

AM: A minha mais recente publicação é o livro de contos “Imensa asa sobre o dia” que tem distribuição limitada às escolas estaduais do estado da Paraíba. Foi assim que constou do projeto do editor para ser distribuída na Coleção Tamarindo (em homenagem ao pelo poema de Augusto dos Anjos) ao lado de outros nove autores. Estou distribuindo lentamente os exemplares que me couberam entre leitores e autores de fora. Mas estão chegando algumas apreciações. Já o meu livro de poemas, “Guarda-Chuvas Esquecidos”, que foi publicado ao mesmo tempo, tem logrado uma melhor divulgação, já que foi editado e distribuído pela Lamparina Editora do Rio de Janeiro. E a obra tem sido bem acolhida entre os poetas de minha geração, o que muito me agrada.

Qual o diferencial da poesia paraibana?

AM: O diferencial da poesia paraibana é representado por vozes contemporâneas como Sérgio de Castro Pinto, Jomar Morais Souto, Lúcio Lins, José Antônio Assunção, Lau Siqueira, André Ricardo Aguiar, Braulio Tavares, José Neummane Pinto, Astier Basílio, Águia Mendes, Lenilde Freitas, Amneres e Saulo Mendonça, para citar os primeiros nomes que me ocorrem e correndo o risco das prováveis injustiças que acontecem quando citamos. São autores que nada ficam a dever ao que é feito de bom em experiência poética no cenário nacional.

O que seria preciso para os novos poetas nordestinos atravessarem fronteiras?

AM: Não se isolar, buscar pares com idênticas necessidades, como estão fazendo os editores da revista Crispim de Pernambuco. Com o surgimento da Internet, das listas de discussão, das cibercomunidades está mais fácil encontrar pessoas com iguais incômodos e objetivos. Se conversarem, se promoverem encontros, as soluções, por mínimas que sejam, virão. Assim penso, assim procuro agir.

PROGRAMAÇÃO DE HOJE

16h

Tema: Qual é o texto novo?
Debatedores: Cristina Tinôco, Marize Castro, Carmem Vasconcelos e Antônio Mariano

17h25

Palestra de Lívio Oliveira, presidente da UBE/RN, sobre a revitalização da entidade

17h35

Tema: A importância da Academia de Letras na vida literária
Debatedores: Evanildo Bechara, Murilo Melo Filho e Arnaldo Niskier
Convidado especial: Nilson Patriota

19h

Jornalismo político e seu parentesco com a literatura
Debatedores: Zuenir Ventura e Villas Bôas Corrêa

*Lançamento do livro “O sétimo livro de Elegias”, de Márcio Dantas

20h30

Tema: Poesia e Música
Debatedores: Antônio Cícero e Nelson Motta

*Lançamento do livro “Ao som do mar e à luz do céu profundo”

22h

show de André Mehmari e Ná Ozzeti – piano e voz

Sábado

16h

Tema: Literatura potiguar – história e futuro
Debatedores: Manoel Onofre Jr., Diva Cunha e Abimael Silva

*Lançamento de seis títulos da editora Sebo Vermelho

17h30

Tema: A escritura epistolar de Câmara Cascudo
Debatedores: Humberto Hermenegildo, Marcos Morais, Emerson TIN e Constância Lima Duarte

Convidada especial: Ana Maria Cascudo

*Lançamento da 6a edição da Revista Brouhaha

19h

Tema: Entre a poesia e o poema – a poeticidade
Debatedores: José Carlos Capinan e Jomard Muniz de Britto

*Mostra do DVD “Aquarelas do Brasil”

20h30

Tema: Processo de criação. O Romance. A crítica
Debatedor: Ignácio de Loyola Brandão

22h

Apresentação do “Grupo Araruna – Sociedade de Danças Antigas e Semi-desaparecidas”

22h30

Show de Roberta Sá

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