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O Bar do Pedrinho completa 50 anos

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Tádzio França
Repórter
Mesmo quando têm vida curta, os bares deixam muita história pra contar. Imagine quando o lugar em questão está em ativa e na área há cinco décadas. O Bar do Pedrinho completou 50 anos em 2020. A pandemia não deixou que houvesse a festa grande que deveria ter, mas o bar instalado no prédio 540 da rua Vigário Bartolomeu segue existindo como uma parte viva do centro histórico natalense. Pelo balcão da casa passam projetos, causos do passado da Cidade Alta, ações culturais, biritas rápidas, e papos do dia a dia. Coisas de bar.
Nélio Costa mantém a memória do pai, que abriu o bar há 50 anos
O Bar do Pedrinho conserva a própria história de forma evidente. Basta atravessar as duas portas em arco para ver suas paredes com pé direito alto repletas de quadros, estandartes de blocos carnavalescos, camisetas de futebol, fotos de ídolos, caricaturas de clientes, cenários do bairro, e até exposições temporárias de arte. O prédio, mais antigo que o bar, foi vizinho de parede com o histórico Cinema Royal, uma das jóias desaparecidas da Cidade Alta.
Nélio Pedro da Costa cresceu no bar, mas demorou bastante a embarcar no sonho do pai, Pedro Faustino, o Pedrinho “original”. “Eu confesso que nunca pensei em trabalhar com o bar. Vim só passar uma chuva e acabei ficando de vez”, brinca, lembrando que até meados dos anos 90 trabalhou com serviços petrolíferos em Mossoró. Pedrinho faleceu em 2008, mas durante o tempo em que trabalhou junto com o pai, Nélio implantou mudanças ao mesmo tempo em que fez questão de conservar sua história.  
Pedro Faustino trabalhou por anos na Confeitaria Royal, um estabelecimento na subida da avenida Rio Branco que marcou a época de ouro do chamado “Grande Ponto” – como ficou conhecida a área de bares e cafés entre a Princesa Isabel, João Pessoa e Rio Branco. Pedrinho queria ter seu próprio negócio, então pediu as contas e em 1968 abriu um bar na avenida Junqueira Aires. Após dois anos, se mudou para a Vigário Bartolomeu, onde ficou de vez e marcou sua história. O Bar do Pedrinho é o mais antigo em atividade no centro de Natal.
O local também recebe manifestações da cultura popular da cidade
Pedrinho levou muito cliente da confeitaria para seu novo bar. Culpa de sua simpatia e eficiência no servir. “Era uma pessoa que sabia e gostava de lidar com o público. Um cara que tinha só até o 4º primário, mas sabia conversar de qualquer assunto, principalmente história e geografia, os favoritos dele”, conta Nélio. O patriarca trouxe muito do que aprendeu na confeitaria pro bar, aprimorando a venda de bebidas quentes e petiscos.
O público do bar começou a se formar na década de 70 e segue com um perfil parecido até hoje. O picado de carneiro era o prato mais popular da época, ao lado do guisado, bife de panela, e da panelada. Nélio conta que quando começou a trabalhar no bar, foi cuidando de criar novos pratos, acrescentar novidades. Foi numa dessas que surgiu o baião de dois com sardinha e molho de tomate, iguaria que foi destaque na revista Veja Natal e deliciou os festivais de gastronomia do centro. É o prato oficial da quarta-feira.
Pedrinho era da ‘velha escola’, gostava de atender os clientes no balcão, servir a bebida e jogar aquela conversa fora. Nélio aproveitou a parceria com o pai para fazer o bar participar mais da vida cultural do centro. Durante 11 anos promoveu um projeto badalado de samba e chorinho, e desde 2009          transformou as paredes do salão numa galeria para artistas locais exporem suas obras. “Quando não tem quadros, faço exposições de vinis. E boto pra tocar também”, ressalta.
 Causos de balcão
 Nélio se orgulha de dizer que em 50 anos o bar nunca teve uma briga – o que não significa que não tenha havido muitos causos. Um deles remonta ao tempo do caderninho de fiado. Época em que o bar abria aos domingos. Um cliente ligou imitando a voz de outro dizendo a Pedrinho que o autorizava a pôr cinco cervejas e 50 reais na caderneta de certa pessoa, que logo depois apareceu pra receber a “encomenda”. Pedrinho acreditou. Na segunda-feira, o dono real da voz apareceu e desfez a lorota. Apesar do rebuliço, tudo foi resolvido na diplomacia, sem confusão.
O perfil da clientela se formou nos anos 70 e é parecido até hoje. “A velha guarda e os jovens se encontram aqui e convivem numa boa. Vem de político a publicitário, escritor, artista, etc. Aqui não tem essa história de VIP, todo mundo é tratado igual”, afirma Nélio. O bar acabou também fazendo sua história no carnaval do centro. É de lá que partem os blocos Nazi Vai à Ribeira, Manicacas do Frevo, e Me Enrola que eu tô com frio. No som ambiente, tem blues pra relaxar. Uma vez por mês tem a Invisible’s Band, uma banda de rock de um homem só, bem ao estilo dos tempos pandêmicos.
A pandemia também foi uma provação para o Bar do Pedrinho. Nélio conta que foi preciso vender todo seu estoque para a clientela, de forma que ela pudesse receber as bebidas em casa. “Foi o que nos salvou de um prejuízo ainda maior. Sorte que temos uma clientela fiel. Estamos voltando aos poucos e com todos os cuidados”, diz. Além de espaçar as mesas, usar máscaras e álcool em gel, o bar também pôs um alambrado na calçada, para ajudar na organização das mesas.
A pandemia é mais um desafio pelo qual o bar vai passar. Há outros no dia a dia, como a falta de visão do poder público para o potencial cultural dos bares do centro. “Passei onze anos fazendo um evento, e nunca me cederam um banheiro químico. O bar é um ponto cultural da cidade como qualquer outro, mas os gestores ainda não viram isso. Seria ótimo um apoio de verdade”, conclui. 
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