terça-feira, 30 de abril, 2024
27.1 C
Natal
terça-feira, 30 de abril, 2024

O bisneto de Madame Curie e Paul Langevin

- Publicidade -
Carlos Alberto dos Santos
Professor aposentado pelo Instituto de Física da UFRGS / Professor Visitante da UFERSA / [email protected]
O nome de batismo, Marya Salomea Sklodowska, não é tão popular quanto o de casada, Marie Curie. Quase todo mundo sabe que ela foi a primeira mulher a ganhar o prêmio Nobel, e a primeira pessoa a ser premiada duas vezes em duas áreas diferentes. Dividiu o de física em 1903, com seu marido, Pierre Curie, e com Henri Becquerel, e ganhou sozinha o de química em 1911. O que pouca gente sabe é o que aconteceu com ela entre a morte do marido, em 1906, e a premiação em 1911. 
Exatos sete meses após a morte de Pierre, Marie ocupa seu lugar na Sorbonne, tornando-se a primeira mulher a ter esse cargo naquela gloriosa universidade. Seu cargo na École Normale Supérieure de Jeunes Filles, em Sèvres, é ocupado por Paul Langevin ex-aluno e brilhante colaborador de Pierre. Langevin ajuda Marie a preparar suas aulas, e Marie ajuda-o nas atividades na escola de Sèvres. Os dois são físicos com uma fonte inspiradora comum, Pierre, e compartilham posicionamentos políticos de esquerda. É nesse caldo cultural que reacende a chama do amor em Marie. Ela tem 42 anos de vida e faz quatro que ficou viúva. Paul é cinco anos mais novo e se corrói com a infelicidade em um casamento com uma esposa que nada tem a ver com seu horizonte cultural. Tem aventuras extraconjugais que Jeanne, sua esposa, suporta olimpicamente.
Em julho de 1910, Paul e Marie alugam um apartamento a duas quadras da Sorbonne, que nos bilhetes entre eles denominam de “nossa casa”. Poucos meses depois Jeanne descobre a traição do marido. Ninguém sabe como ela descobriu. O fato é que, ao contrário de outros casos, neste ela não suportou o envolvimento do marido com uma mulher tão importante como Marie. Tudo indica que na páscoa de 1911, passados oito meses do início do romance, Jeanne contratou um detetive que invadiu o apartamento da rue du Banquier e roubou toda a correspondência que lá estava. A partir de então, Jeanne ameaça fazer um escândalo com as cartas se eles não terminarem a relação amorosa. Começa o pesadelo para Marie e Paul. 
São mais de seis meses de ameaças judiciais, entre a páscoa e o outono de 1911, até que no final de outubro Marie e Paul, provavelmente com o relacionamento amoroso já rompido, participam da primeira e importante Conferência Solvay, em Bruxelas, o que deixou Jeanne muito irritada. Um dia depois do final da conferência, o Le Journal distribui mais de 75 mil exemplares na França, com uma matéria de duas colunas na primeira página e uma grande fotografia de Madame Curie. O título preconceituoso já denotava o tom da matéria: UMA HISTÓRIA DE AMOR. A SENHORA CURIE E O PROFESSOR LANGEVIN. Marie Curie, professora da Sorbonne e prêmio Nobel de física era simplesmente MADAME CURIE. Já Paul Langevin, era o PROFESSOR. 
A matéria foi feita a partir de uma entrevista dada pela mãe de Jeanne. Na sequência, muitos jornais sensacionalistas exploram o tema, classificando Marie Curie com uma megera polonesa que destruiu um lar de franceses. Isso mesmo, na visão xenofóbica da imprensa parisiense Langevin, um contumaz infiel, era agora a vítima, e Madame Curie a predadora.
Antes que o noticiário se espalhasse pela Europa, exatamente no dia 7 de novembro, a Reuters divulgou um boletim informando que a Real Academia de Ciências da Suécia concedera o prêmio Nobel de química de 1911 a Marie Curie. Quando os membros da Academia souberam do escândalo, tentaram impedi-la de ir à solenidade da entrega do prêmio, mas Marie não concordou, debateu com os organizadores e foi a Estocolmo receber sua honrosa medalha, em 11 de dezembro. 
Se a relação amorosa entre Marie e Paul não teve um final feliz, se eles não tiveram filhos, como desejava Marie em declaração que fizera em um dos bilhetes descobertos por Jeanne, o destino encarregou-se de unir as duas árvores genealógicas por meio de um bisneto, anos depois da morte dos dois. O destino foi auxiliado pelo fato de que as duas famílias sempre estiveram ligadas à ciência.
Marie e Pierre tiveram duas filhas, Irène e Ève. A primeira era física e casada com Frédéric Joliot, também físico. Irène e Frédéric tiveram um casal de filhos: Hélène Gabrielle Joliot (física) e Pierre Joliot (bioquímico). Paul e Jeanne tiveram cinco filhos, entre os quais dois físicos, Jean e André. Este teve um filho, Michel, que também era físico, e que se casou com Hélène Joliot. Michel Langevin e Hélène Langevin-Joliot tiveram um filho, o astrofísico Yves Langevin, bisneto de Madame Curie e Paul Langevin.
* Os artigos publicados com assinatura não traduzem, necessariamente, a opinião da TRIBUNA DO NORTE, sendo de responsabilidade total do autor.
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas