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“O Brasil continua isolado da América do Sul”, diz Rangel

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Isaac Ribeiro – de Porto Alegre-RS

Após um dia inteiro de intensos debates nos grupos de trabalho, os participantes do 8º Congresso Brasileiro de Cinema e Audiovisual reuniram-se para a realização do painel “O audiovisual no Brasil hoje: Políticas Públicas, Arranjos Produtivos e Ações Estratégicas”, em um dos auditórios do Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre (RS). Tendo como moderador o cineasta cearense Rosemberg Cariry, participaram da discussão Newton Cannito (Secretaria do Audiovisual, Manoel Rangel (Ancine), Paula Alves (Ministério das Relações Exteriores) e Jorge Moreno (Associação Brasileira de Produtos de Audiovisual).

O presidente da Agência Nacional de Cinema, Manoel Rangel, disse que o Governo saiu de um quadro onde a política era basicamente aprovar projetos de filmes e captação de recursos para a realização de festivais, para ações ampliadas, contando com uma Secretaria de Audiovisual articulada com outras instituições.

Ele listou algumas das principais políticas em curso, nos últimos dez anos, em âmbito federal, relativas ao cinema e ao audiovisual: ampliação ao apoio à produção; diversificação dos mecanismos de fomento;  aumento da produção cinematográfica; contemplar a produção para a televisão e novas mídias; expansão do parque exibidor; novos marcos regulatórios para atualizar os desafios rumo à convergência digital; esforço de interiorização da produção nacional; aumento no poder de consumo da sociedade, inclusive com relação a produtos culturais (maior acesso a salas de cinema e à tevê por assinatura); descentralização e maior transparência da política de editais e de seleção de projetos.

Banda Larga

Manoel Rangel também ressaltou a importância para o Plano Nacional de Banda Larga, a ser posto em prática pelo Governo Federal nos próximos meses, o que considera tão importante quanto direitos do cidadão tais como saneamento básico, água encanada ou luz elétrica. “Ainda há muito o que se fazer no campo da Comunicação Pública no Brasil.”

Ele também destacou a necessidade de um maior diálogo com os países sul-americanos para o fortalecimento de um mercado comum, em bloco. “O futuro do País está indissoluvelmente ligado ao destino da América do Sul. Para o audiovisual brasileiro isso é fundamental. Mas, no entanto, o Brasil se isola.”

Convergência Digital

O secretário do Audiovisual  Newton Cannito citou uma série de ações que ainda precisam ser implementadas no avanço à digitalização, e criticou a forma, ao seu ver, errônea de classificar as “novas mídias” de forma limitada, citando sempre apenas filmes celular e internet. Para ele, essa é uma forma analógica de se pensar o digital. O correto seria pensar em se produzir para todas as telas. “No digital, o processo não se diferencia do produto. À medida em que se produz, surgem outros produtos, como documentários e sites, por exemplo; enquanto o filme seria o produto final, a cereja do bolo.”

Cannito espera por em prática algumas ações como o lançamento de editais de curtas-metragens temáticos, algo que ainda não existe no Brasil. Seria editais específicos para filmes de curta duração em determinados assuntos, como o esporte e a ecologia, por exemplo; o que poderia, segundo ele, proporcionar a migração de verbas de outros ministérios.

“Até agora, o esporte é o que está mais conversado”, informa. Para ele, o cinema no Brasil ainda é pensado como economia industrial e não como uma economia criativa. “É isso que faz um diretor ter que se transformar em produtor para que consiga realizar seu filme. Ele não consegue ser chamado apenas para dirigir.” Ele acredita também ser necessária a ocupação da criação independente nos formatos existentes hoje na televisão brasileira, e também criar novos formatos. “Hoje a tevê brasileira compra formatos de fora, como o CQC, da Argentina. Temos que criar nossos próprios formatos e vendê-los”, analisa. Outra questão citada por Newton Cannito é a concentração de temas no Cinema Brasileiro e um certo preconceito com relação a outros assuntos. Ele cita como exemplo a falta de filmes de terror — exceto os de Zé do Caixão. “Tudo o que não for dito de ‘bom gosto’ no Brasil tem dificuldades de se concretizar. Almodóvar teria dificuldades de realizar filmes por aqui se estivesse no início de carreira. Isso porque ele fazia filmes com travecos; e isso não é visto como de ‘bom gosto’ no cinema produzido hoje no Brasil.”

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