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O Brasil do Silva

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Ramon Ribeiro
Repórter

Completar 30 anos é como uma virada de chave. É entrar num novo ciclo de vida, só que com muito mais certezas sobre si mesmo e sobre seu lugar no mundo. Para gente como o cantor, compositor e músico capixaba Silva, que trintou neste ano, chegar a essa marca passa um pouco por aí mesmo. Mas no caso específico dele, passa também por algo mais. É momento de se reencontrar com a música nacional, como se pode ver na turnê do seu mais recente disco, “Brasileiro” (Slap, 2018), que o artista traz para Natal. A apresentação será na próxima sexta-feira (9), às 21h, no Teatro Riachuelo.

Silva se apresenta em Natal no próximo dia 9,com o novo álbum Brasileiro


Silva se apresenta em Natal no próximo dia 9,com o novo álbum Brasileiro

“Sou um cara que valoriza muito a coisa do autoconhecimento”, diz Silva em entrevista por telefone ao VIVER. Sua voz calma, baixinha, afinada sempre no mesmo no mesmo tom, condiz com o trabalho que faz nos palcos e que tem agradado plateias Brasil afora. “Quando comecei na música sabia que seria um grande desafio. E me ver agora, com 30 anos, num momento tão bom, me deixa muito feliz. Eu já me aventurei em muita coisa. Agora acho que me encontrei musicalmente”.

Em “Brasileiro” Silva se dedica em construir  intensamente novos caminhos entre tempos e estéticas diferentes. As características que colocam o artista entre os mais criativos da MPB atual estão lá nas 13 canções autorais que compõem o disco: melodias e harmonias elegantes, canções românticas e ensolaradas, música refinada e ao mesmo tempo acessível. Mas agora essas características aparecem combinadas à fortes referências da música brasileira. Silva bebe em João Gilberto, na MPB clássica, no axé de Daniela Mercury, Banda Mel e Cheiro de Amor, no pagode romântico de Só Pra Contrariar e Raça Negra, na poesia de Adriana Calcanhotto, em Marina Lima, em Marisa Monte. Em resumo, na canção radiofônica que marcou sua  infância nos anos 90.

Do indie eletrônico de sua estreia em 2012 com “Claridão” até “Brasileiro”, a transformação foi grande, mas serena, feita aos poucos, aos ouvidos do público, dentro do próprio amadurecimento do artista. No meio do caminho, a aproximação com Marisa Monte foi fundamental. Vê-la se dedicar à pesquisa em cima da música brasileira o despertou para  algo que ele sentia que faltava em si mesmo. Faltava uma identidade mais brasileira para aquele que cresceu assistindo MTV e ouvindo bandas eletrônicas da gringa.

Em “Brasileiro” Silva supre essa carência de brasilidade, reconstrói sua identidade e oferece tudo isso na forma de música para seus fãs – boa parte deles potiguares. É isso que o artista mostrará no palco em Natal e que ele conta um pouco nesta entrevista.

Como é sua relação com o público potiguar? Você está retornando à Natal depois de estar aqui no ano passado com o elogiado show “Silva canta Marisa”.
Natal era uma cidade que eu não conhecia, nem como turista. E hoje tenho uma relação muito boa. Rolou uma conexão. Estou muito feliz em voltar. É um lugar distante onde o público me recebeu muito bem. Estou indo com um show alegre, brasileiro, onde levo muitas das minhas referências.

No começo do disco você solta a pergunta “Como a gente vai ser brasileiro?”. Tem reposta para essa questão?

No disco tem perguntas que eu mesmo me faço. São reflexões que buscam me entender como músico brasileiro. Sou da geração MTV, que ouviu pouca música brasileira. Em casa tocava muita MPB clássica, Tom Jobim, Chico Buarque. Mas mais novo, imaturo, eu valorizava mais o que era de fora. Morei na Irlanda dois anos. Me influenciei muito pelas bandas eletrônicas. O disco novo surge para mostrar como é bom ser brasileiro. Somos referência para muitas culturas.

Silva supre essa carência de brasilidade, reconstrói sua identidade e oferece tudo isso na forma de música para seus fãs


Silva supre essa carência de brasilidade, reconstrói sua identidade e oferece tudo isso na forma de música para seus fãs

A aproximação com Marisa Monte tem a ver com essa sua preocupação sonora?
Com o projeto em que canto Marisa eu me aproximei muito dela. Nos tornamos amigos. Eu ia na casa dela. Ela pesquisa muito. Isso me influenciou também. E na turnê que canto Marisa eu também cantava Caetano, Tim Maia, adorei a experiência. Encontrei coisas que combinavam com minha voz.

No disco você toca piano elétrico, piano acústico, sintetizador, programações, violão, baixo, violino e percussão. É muita coisa! Como você é no palco?
No show eu toco piano, mas fico mais com o violão. Tenho focado muito no violão. Representa bem o Brasil que ficou conhecido no mundo. No show, eu estou acompanhado de uma banda ótima.

As músicas de “Brasileiro” são todas recentes ou você usou alguma composição antiga? Outra coisa, do disco, qual a canção que você mais está curtindo no momento?
Tenho muitas músicas guardadas. Mas não usei nada antigo. Todas são do momento. Só “Prova dos nove” que não. É uma composição de Dé Santos. Tive a felicidade de fazer parcerias com gente que admiro muito, como Arnaldo Antunes [na música “Milhões de vozes”] e Ronaldo Bastos [em “Ela voa”]. Sobre a música que gosto mais no momento, é “Duas da tarde”.

Você parece ser um cara bem aberto para parcerias. Já foi de Marisa Monte, Fernanda Takai e Anitta, por exemplo. Como é isso pra você? E pra completar, como foi o contato com Anitta, que canta contigo na música “Fica tudo bem”?
Sou bem aberto, zero preconceituoso. As pessoas me tem como um cara ligado à MPB, ao que alguns chamam de “música boa”, sempre achei esse rótulo ultrapassado. Gosto de brincar com a ideia do que as pessoas esperam da minha música. De tirar do lugar as espectativas. E com Anitta foi um pouco assim. Ela é uma artista que admiro muito, é visionária. Veio da periferia e tem um objetivo muito claro de ser grande. Eu arranjei o contato da produção dela e mandei uma versão da música para ver se dava certo uma parceria. Cara, olha o tamanho da Anitta, eu não tinha nada a oferecer em troca a não ser a própria música. A Anitta me respondeu no mesmo dia, por direct no Instagram, bem no jeito dela, furação. Disse que adorou a música. Percebi que ela não chegou aonde está à toa. Ela foi bem rápida, gravou a parte dela em uma semana.

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