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“O Brasil é ambiente inóspito para o setor produtivo”

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O RN registra uma das melhores médias de crescimento do comércio em relação ao Brasil. Somente em 2013, o estado registrou aumento de 8,8% nas vendas – o maior do Nordeste. O que embasa esse crescimento?
O ano passado foi de retomada dos investimentos públicos no nosso estado, sobretudo através das prefeituras das maiores cidades. Em Natal, por exemplo, somente no segundo semestre, foram investidos mais de R$ 500 milhões em obras. Isso aquece a economia e cria um círculo virtuoso nos segmentos de Comércio e Serviços. Além disso, claro que também contamos com algumas medidas do governo federal, como o Minha Casa Melhor – que injetou recursos no setor de móveis e eletrodomésticos – e a redução de IPI para alguns segmentos.

Quais atividades estão em expansão?

Hoje, o setor com maior expansão é o de Serviços. Na esteira das contratações para o início do ano letivo e da profusão de concursos públicos (que aquece o segmento de cursinhos específicos), o segmento de Ensino, dentro do setor de Serviços, foi um dos motores da geração de novos empregos formais. Outros estratos que emplacaram saldo positivo relevante foram os de corretagem e hospedagem e alojamentos. Juntos, estes três estratos foram determinantes para o saldo final de 1.669 novos empregos formais.

Uma matéria publicada pela TRIBUNA DO NORTE no ano passado, com base em estudo da Geoimóveis, apontou a desaceleração da atividade imobiliária. O estoque contava com mais de três mil unidades. Quais os fatores que levaram a esse encolhimento da atividade? Quais impactos trazem para o comércio e os serviços?
O setor Imobiliário tem um peso considerável no segmento de Serviços. A questão é que, quando este setor está desaquecido, isto normalmente é reflexo de um quadro semelhante na atividade de construção civil que, por sua vez, tem o poder de movimentar diversas engrenagens da nossa economia, incluindo o estrato de Comércio de material de construção, que é um segmento que tem um peso grande no nosso varejo. Mas o ano passado, de uma maneira geral, não foi ruim e nem mesmo de desaceleração para o nosso setor. Crescemos nossas vendas em 8,8%, acima dos 7,6% que havíamos crescido em 2012.

Apesar de ser o maior gerador de emprego do estado, o comércio tem participação de 13,5% no PIB do estado. O que deve ser feito para aumentar essa participação?
Entendo que isso (a baixa participação) decorre do fato de as nossas empresas comerciais serem, em sua grande maioria, micro e pequenos empreendimentos. Além disso, esse setor hoje está muito atrelado à área da prestação de serviços (que compõe 26,39% do PIB). A meu ver, um dos fatores que poderiam ensejar uma maior participação do comércio na formação das nossas riquezas está no incentivo ao ingresso de novas empresas no nosso mercado, que poderia decorrer da redução da carga tributária hoje imposta às empresas, bem como da simplificação da terrível burocracia que também impera no país.

Durante palestra na reinauguração do prédio da Fecomercio, o economista Carlos Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio, apontou que a atual conjuntura econômica do país atuará como freio no crescimento do comércio. O senhor concorda? Quais impactos a política econômica do país está trazendo para o comércio e os serviços?

Concordo com o posicionamento. O governo vive um dilema entre estimular o consumo, para manter a economia aquecida, ou freá-lo, para segurar a inflação. Na realidade, o que o governo deveria fazer era reduzir o seu tamanho, seus gastos com custeio.  Além disso, realmente preocupa a redução do consumo das famílias. Vivemos, nos últimos dez anos, um boom das classes C e D, que foram, literalmente, às compras. Este movimento manteve nosso setor de Comércio e Serviços em alta. Mas, claro, ele é finito e esta saturação dá mostras de estar chegando. Além disso, eu ainda citaria como um grande freio ao nosso crescimento o contexto fiscal e tributário deste país. Nossa carga tributária e o emaranhado burocrático instalado no Brasil fazem com que nossas empresas sejam verdadeiras sobreviventes em um ambiente cada vez mais inóspito.

No final de março, as empresas varejistas do país lançaram uma campanha para reduzir “O Custo Brasil”. Que custo seria esse? E que tipo de “reforma” deve acontecer?

O Brasil é um ambiente inóspito para o setor produtivo. Não há como manter a competitividade das empresas em um país onde, por exemplo, chegamos a gastar 2.600 horas apenas para atender questões de ordem burocrática. É o maior tempo gasto com este assunto no mundo.  Somos os campeões da tributação dentre os BRICS (Rússia, 23%; China, 20%, Índia, 13%; e, África do Sul, com 18%). Desde 1988,  foram publicadas 4,7 milhões de normas legais voltadas ao ordenamento jurídico do país; dessas, 309.147 se referem à legislação tributária. Ou seja, vivemos num ambiente de insanidade tributária e fiscal que obriga o contribuinte brasileiro a trabalhar mais de quatro meses por ano somente para pagar. As reformas constitucionais, tão debatidas e cobradas, precisam, urgentemente, sair do papel.

Outra matéria publicada pela Tribuna, em outubro passado, mostrou que, apesar do crescimento, o comércio do RN cresce menos em número de empregados do que estados vizinhos, como a Paraíba. O que causa esse descompasso?
Precisamos olhar esta questão com outros olhos, muito mais positivos.  Mantemos, podemos dizer, um ritmo quase linear de abertura de empregos. Além disso, segundo dados do IBGE, o desemprego no Rio Grande do Norte está na casa dos 4,5%, ou seja, muito próximo do que os economistas costumam chamar de “pleno emprego”, que é aquela situação na qual as pessoas que realmente estão procurando emprego e são qualificadas para isso, estão todas empregadas. O que estou dizendo é que é um movimento natural que cada vez mais tenhamos um número menor de novos empregos sendo gerados, até atingirmos o ponto de equilíbrio desta balança. Ora, em três anos, abrimos, somente no segmento de Comércio e Serviços, 33.247 novos empregos. É um número considerável.

O ano de 2014 traz dois marcos importantes para o estado: a Copa do Mundo e a inauguração do aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Como a Fecomércio avalia esse momento do estado?
Temos boas expectativas para este ano. Recentemente a Confederação Nacional do Comércio divulgou um estudo que mostra que somente no turismo, a Copa vai gerar cerca de 1.300 novos empregos no RN. Isso sem contar o impacto em outros segmentos, como o próprio comércio e a indústria. A exposição que sediar uma Copa do Mundo de Futebol traz para a cidade é sempre positiva. Teremos turistas na cidade, teremos todo um clima propenso ao consumo. A inauguração do novo aeroporto complementa este quadro. Teremos um terminal pronto para se transformar em um hub. Efetivar este potencial do novo terminal dependerá, ainda, de algumas ações de governo, como debater a questão do incentivo fiscal ao querosene de aviação de modo a fomentar a ampliação de nossa malha aérea, entre outras coisas.

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