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O Brasil mudou?

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Vicente Serejo

Olhando de perto, Senhor Redator, o Brasil não mudou tanto assim, desde as chanchadas que institucionalizaram o deboche como um traço permanente da cultura brasileira. Aliás, para ser justo, já fora bem retratado em 1928, por Mário de Andrade, em Macunaíma, aquele seu herói “sem nenhum caráter” que derrubou as prateleiras. De lá prá cá, salvadas as boas e raras exceções, o que temos é uma república mambembe, feita muito mais de malabaristas do que de líderes.
Andamos assim, desde os tempos de Zé Trindade. Lembram dele? Com o seu bigodinho bem aparado, a seguir com os olhos da malícia o andar sensual do corpo de violão das moças em flor? Depois, voltava-se para a câmera, e dizia: “O meu negócio, é mulher!”. Ou então, bem mais debochado – hoje seria crime inafiançável – quando caiava as moças da cabeça aos pés, como se dizia naqueles tempos, e exclamava, temperando a saliva com o desejo: “Ô bicho bem bolado!”. 
Outro dia, para mostrar o jeito inzoneiro de nunca ser claro nas posições, até diante das mais graves questões, o sociólogo Demétrio Magnoli advertiu: “Sempre que leio os argumentos dos que se opõem ao Projeto de Lei das Fake News, torço pela sua aprovação. Quando, porém, leio os argumentos defensores do PL, torço pela sua rejeição”. Significa dizer que nem mesmo o Congresso, o poder legislador, consegue ser claro na definição da culpa e dos seus responsáveis.
Uma coisa é incontestável: a pior posição, a mais jejuna, é usar o escudo da liberdade de expressão para defender a impunidade. Até por ser este o crivo inegociável do jornalismo. No frigir dos novos – saudade dos velhos clichês tão mais claros do que os manipuladores das redes sociais! – as plataformas defendem, em nome da falsa liberdade de expressão, que o autor pague, sozinho, sem a justa corresponsabilidade institucional, ficando as plataformas só com o lucro. 
Tem razão Magnoli quando identifica no modelo de negócio inventado pelas plataformas a ausência absoluta da chamada corresponsabilização. Como se no universo virtual, certamente por ser virtual, acusar com inverdades a dignidade das pessoas não fosse crime. É. Tipificado e passível de pesadas indenizações quando comprovados os delitos de calúnia, injúria e difamação. Não pode haver sociedade democrática sem normas de convivência. Não há democracia sem leis. 
 Para não falar da difamação difusa, tão destruidora quanto a assinada com a tinta do ódio e a pena da tirania, para tentar a paráfrase sobre a frase célebre de Machado de Assis. Defender a não regulamentação das plataformas, como veículos, é deixá-las sem um limite legal diante da cidadania, veiculando mentiras contra a dignidade humana. Como, se jornais, revistas, rádios e tevês respondem pelo que publicam? A liberdade de expressão tem compromisso com a verdade. 
PALCO
CLAREZA – De um ex-deputado com alguns anos de plenário: “Se a Assembleia não fosse tão governista já teria convocado um debate sobre as finanças do RN. Orçamento é peça de ficção”.
RETRATO – Quando o Legislativo cria dificuldades e, às escâncaras, troca por cargos, emendas e ministérios, sofre o mesmo desgaste do Executivo. Ninguém é inocente nesse mercado persa.  
COMO – Os mandatos federais viraram grandes empregos públicos.  As campanhas e as emendas impositivas financiam deputados federais e senadores. Como se eles fossem heróis do sacrifício.  
TACAPE – Foi dura e certeira a pancada de Ruy Castro em Lula por ter recebido com elogio o ditador Nicolás Maduro. E não se diga que Ruy Castro em alguma hora apoiou Jair Bolsonaro. 
VILA – A coluna errou na nota sobre o livro ‘Alecrim, chão sagrado’, com legendas, textos e fotos sobre o Cemitério do Alecrim. Patrocínio cultural da empresa Vila, de Magno e Nilo Vila. 
ALIÁS – Nesta cidade dos Reis Magos que foi a Aldeia Velha de Felipe Camarão e a Capitania Hereditária do mui lido senhor João de Barro, o Grupo Vila é exemplo de postura e ação cultural.  
POESIA – Do genial Paul Valéry, a frase quase verso de um dos seus ‘Fragmentos Narrativos’, batendo a poeira da vida aldeã: ‘Daí a estranha pergunta: perante coisas inúteis, em que pensar”.  
DESTINO – De Nino, o filósofo melancólico do Beco da Lama, olhado a precariedade de certas instituições: “É nelas que o compadrio legaliza os interesses, consagra o imoral e aplaude o falso” 
CAMARIM
CRIVO – Ainda bem que a UFRN só cassa título de doutor de teses apontadas e denunciadas pelo olho da Ouvidoria que antes analisa e propõe a cassação. Ou não. Foi assim que fez ao cassar o título de doutora de Ludmila Oliveira, nomeada reitora da Ufersa, Mossoró, por Jair Bolsonaro. 
RISCO – Quem navega pelo repositório de dissertações e teses das universidades locais, públicas e privadas – aqui há algumas impressas –  sabe que se fossem submetidas ao um crivo acadêmico, para valer, não teriam sido consideradas como teses. Enquanto outras, são revelações de grandes talentos.
HOJE – Já existem estudos acadêmicos sobre a bolha na qual se fechou a universidade pública no Brasil. Os títulos são indispensáveis à formação do professor, mas o vínculo à progressão salarial gerou uma fábrica de ‘doutores’. Doutor sem talento não é doutor. Mesmo com diploma. 
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