Londres (AE) – O Brasil ocupa uma constrangedora 83ª posição no Índice Global de Paz (GPI, em inglês), divulgado ontem em Londres. Trata-se do primeiro estudo que classifica países – 121 ao todo – pelo “grau de paz”. Enquanto os gastos militares puxaram para baixo a avaliação de nações desenvolvidas, o País perdeu pontos por causa da violência urbana. Quase no mesmo horário do anúncio do ranking, cerca de 15 mil lenços brancos foram colocados no gramado da Esplanada dos Ministérios, em Brasília, pedindo o fim da violência nas cidades. A manifestação foi organizada pela ONG Rio da Paz.
Elaborado pela consultoria britânica Economic Intelligence Unit (EIU), o levantamento internacional foi monitorado por um conselho de personalidades que incluiu o Dalai Lama, o arcebispo sul-africano Desmond Tutu, o ex-presidente americano Jimmy Carter e o economista Joseph Stiglitz, todos ganhadores do Prêmio Nobel. O índice deverá servir como referência para os debates da cúpula dos países desenvolvidos (G-8), que ocorre na próxima semana, na Alemanha.
O ranking é liderado pela Noruega. O grupo dos dez países mais pacíficos tem ainda Nova Zelândia, Dinamarca, Irlanda, Japão, Finlândia, Suécia, Canadá, Portugal e Áustria. O último colocado no levantamento é o Iraque. E os Estados Unidos (96º) ficaram em pior colocação que o Brasil. Com 2.173 pontos, o País é considerado menos pacífico do que México, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina, mas supera a Venezuela (102º lugar). Na América Latina, o Chile é o mais bem colocado, na 16ª posição.
O GPI é composto por 24 indicadores, que incluem gastos militares, relações com países vizinhos, ação do crime organizado, número de homicídios e grau de respeito aos direitos humanos. Segundo a EIU, também foram levados em conta o nível de democracia, transparência, educação e distribuição de renda. “Países pequenos, estáveis, que integram blocos regionais, como a União Européia, tendem a ocupar as melhores posições no ranking”, admitiu a consultoria. “Os principais determinantes de paz interna são renda, grau de escolaridade e nível de integração regional.”
“O Brasil tem problemas estruturais sérios e uma imagem terrível lá fora”, disse o cientista político Rubens Figueiredo, diretor do Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação (Cepac). “Cada turista que é assaltado por aqui vira manchete de jornal americano e europeu.” “Nossa situação interna é de conflito constante”, emenda Para o advogado Carlos Malheiros, da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo.