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“O Brasil tem aeroportos bem ruinzinhos”

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Andrielle Mendes
repórter

A TAP Portugal inaugurou, na última semana, uma agência de viagens em Natal especializada em seus produtos. Serão 20 em todo o Brasil até o final de 2012. Por se tratar de uma parceria – no caso da capital potiguar, com a Arituba Turismo – o investimento, segundo Mário Carvalho, diretor da TAP para a América Latina, não pode ser quantificado. O objetivo é expandir a operação no País. Os números, por si só, justificam a estratégia. Em 2010, o lucro da TAP foi de 62,3 milhões de euros, 8,7% maior que o obtido no ano anterior. Com o incremento, a companhia, que enfrentava dificuldades, voltou a ‘uma situação líquida positiva’, como informou a assessoria de comunicação. As vendas em 2010 subiram em 2,2 milhões de euros. “O aumento no mercado brasileiro contribuiu decisivamente para este quadro”, acrescentou a assessoria. Em entrevista à TRIBUNA DO NORTE, Mário, entretanto, evitou falar de negócios. Não comentou a privatização da TAP, esperada para 2012, nem confirmou o interesse da Latam (empresa formada com a fusão da Lan com a Tam) na privatização. A negociação, segundo o executivo, está sendo conduzida pelo governo português, que detém 100% de participação na companhia. Extremamente objetivo, Mário comentou a situação dos aeroportos brasileiros e descartou a possibilidade da TAP disputar as próximas concessões. Ele também comentou que o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante poderá atrair grandes companhias aéreas. Mas isso dependerá exclusivamente do mercado. Enquanto companhia aérea, a TAP liga o Brasil e a Europa, partindo de 10 cidades brasileiras: Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Fortaleza, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo para Lisboa. A malha da companhia compreende 50 destinos em toda a Europa e 14 na África. Confira a seguir os principais trechos da entrevista:
Mário Carvalho, diretor da TAP para a América Latina
A TAP está ampliando a rede de agências de viagens especializadas em seus produtos. Na semana passada inaugurou mais uma – a primeira do Nordeste. Pergunto: por que Natal?

Natal era o único ponto onde operávamos desde 1999 sem contar uma presença física. Com exceção do guichê no aeroporto, não tínhamos nada na cidade.

O Rio Grande do Norte é um Estado promissor em relação ao fluxo de passageiros?

Acreditamos que sim. A prova é que operamos aqui há 12 anos. O estado já teve uma procura maior. Hoje nós temos quatro voos semanais. Mas acreditamos que a demanda pode aumentar. A recessão econômica na Europa reduziu um pouco o fluxo de passageiros. Porém, conseguimos compensar a redução com a nossa abertura para outros mercados.

A TAP espera abrir 20 agências especializadas até o fim de 2012. Investimento de quanto?

Não tem um investimento específico.

Não saberia precisar o valor?

Não, porque não se trata de um investimento direto, mas de uma parceria entre as agências e a TAP. Não há nada quantificado.

O objetivo da parceria seria ampliar a operação da TAP nos mercados onde atua?

É. Isso pode vir a ocorrer.

Há planos de expandir a operação no Estado?

O nosso objetivo é sempre ampliar nossa operação. Isso em mercados aquecidos e em mercados nem tão aquecidos assim. O Rio Grande do Norte deu uma aquecida, mas depois houve uma queda nessa demanda.

A expansão da operação estaria ligada apenas à demanda?

Exatamente.

Há poucos meses o Aeroporto de São Gonçalo do Amarante foi leiloado. Pergunto: o aeroporto pode atrair o interesse de grandes companhias aéreas e se tornar um centro de distribuição de cargas e passageiros?

É um pouco difícil, mas obviamente um aeroporto com uma grande estrutura vai acabar por atrair grandes companhias aéreas. Tudo, porém, depende sempre de mercado.

Mas, o Estado pode fazer algo para atrair essas companhias?

As autoridades responsáveis pelo turismo não só do RN, mas de todos os estados precisam ter uma atitude proativa e procurar novos mercados. A TAP, por exemplo, está sempre em busca de novos nichos. Porque é preciso chegar ao público final. E tudo isso demanda investimento.

A TAP tem interesse em operar no Aeroporto de São Gonçalo?

Vamos ter que operar, porque já operamos no Aeroporto Internacional Augusto Severo.

Desculpe, acho que não fui clara. Não me refiro a ter um guichê, mas a construir terminais próprios de cargas e passageiros.

Isso faz parte do jogo.

A TAP tem interesse em integrar um consórcio e disputar as próximas concessões dos aeroportos brasileiros?

Não.

Por quê?

Essa não é a nossa área de atuação. Trabalhamos com transporte, não com operação de aeroporto.

Essa posição, entretanto, pode mudar?

Pode. Mas dependerá do mercado.

De qualquer maneira, o Governo Federal estuda reduzir ainda mais a participação de companhias aéreas, sobretudo estrangeiras, nos consórcios que disputarão as próximas concessões. O senhor já me disse que a TAP não tem interesse. No entanto, gostaria de saber se essa redução, ao limitar a entrada de novos atores no mercado brasileiro, não prejudica o crescimento do setor.

Prefiro não responder. Não se aplica a nós. Esse não é o nosso negócio.

A privatização da TAP deve ser concluída em 2012. Em que pé está o processo?

Não posso responder. Esse é um assunto tratado exclusivamente pelo governo (português), que detém 100% de participação na TAP. Eu realmente não posso responder esta pergunta.

Após a privatização, o senhor permanece como diretor para a América Latina?

Ainda não sei se continuo.

Li recentemente que a Latam (fusão entre as companhias Lan e Tam) estaria interessada na privatização da TAP. O senhor, que ainda é diretor da companhia, confirma essa informação?

Nós diretores não participamos das negociações, mas eu acompanhei pela imprensa.

Como enxerga o processo de privatização do setor aéreo?
Acho que o processo é válido.

Mas, válido em que sentido?

O setor privado tem uma visão mais mercantilista. Obviamente que o mercado aberto gera competição.

E competição pode melhorar infraestrutura, reduzir tarifas…

Pode ser que aconteça.

É adepto da filosofia, segundo a qual, a privatização melhora estruturas e processos?

Acredito que sim, pelo que tenho visto ao longo dos anos.

Como o senhor avalia os aeroportos brasileiros?

Bens ‘ruizinhos’, não é? O fluxo de passageiros cresceu muito e infraestrutura não acompanhou.

A privatização do setor aeroportuário brasileiro pode mudar esse cenário?

Acredito que sim. Haverá um aporte de capital. Serão investimentos altos.

A transferência dos voos comerciais do Aeroporto Augusto Severo para o de São Gonçalo atrapalha a operação da TAP de alguma maneira?

Conheço o projeto, mas não sei onde o aeroporto fica. É muito distante?

Uns 10 km a mais do aeroporto para a Via Costeira, onde estão concentrados os hotéis…

Não é tanto assim…

A transferência da operação comercial do Augusto Severo para o aeroporto de São Gonçalo pode beneficiar o estado?

Sem dúvida. Uma melhor estrutura atrairá mais voos.

Fala-se que reduzir o ICMS do querosene de aviação no Estado atrairia grandes companhias para São Gonçalo. Essa seria uma forma de fisgar os grandes e transformar o Aeroporto de São Gonçalo num centro de distribuição, se não de passageiros (o Estado é próximo dos outros continentes, mas fica distante de todas as regiões brasileiras), mas num de cargas?

O combustível para empresas estrangeiras não pesa tanto.

Não, por quê?

Porque os países fazem acordos bilaterais e as empresas estrangeiras não pagam impostos. Desta forma, dar este tipo de incentivo não traria tanto resultado.

Se não pode contar com esta isca, o Estado enfrentará ainda mais dificuldade para atrair as companhias e desenvolver o mercado local…

Não, acho que não. O aeroporto tem uma localização boa e pode se tornar um centro de distribuição de cargas. Esta pode ser a sua vocação.

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