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“O Brasil tem de ficar atento para não ser superado “

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Vicente Estevam – Repórter de Esportes

Destaque da Seleção Brasileira na última Copa do Mundo, onde foi eleito o segundo melhor jogador da competição além de ficar com a artilharia isolada, o potiguar André Nascimento adverte para a qualificação dos países europeus no esporte e diz que o Brasil deve trabalhar mais para se desenvolver dentro da modalidade, sob pena, de em muito pouco tempo, acabar sendo superado. Ele disse que o título da última competição ficou em boas mãos, até por quê os russos se organizaram e estão realizando um grande trabalho. André também fala de sua tentativa falha de jogar futebol profissional, reclama da falta de espaço nos nossos clubes para jovens revelações potiguares e afirma que mesmo se recebesse um convite hoje, não trocaria mais o futebol de praia pelo profissional. O jogador também fala sobre o projeto social “Meninos na areia, homens na rua” que pretende lançar nos próximos meses e conta um pouco mais de sua vida nessa entrevista à TRIBUNA DO NORTE.

André Nascimento, jogador da seleção de Beach SoccerO título mundial não veio, mas pelo menos você teve uma vitória pessoal na última Copa, satisfeito?

Graças a Deus, né. O mais importante para mim era conquistar mais um título para o Brasil. Porém infelizmente não foi possível, mas tive a felicidade de sair como artilheiro e como o bola de prata da competição.

Podemos dizer que você está vivendo hoje a melhor fase de sua carreira?

Desde o final da temporada passada eu venho fazendo muitos gols, já havia sido artilheiro na disputa do Mundial de Clubes, já havia batido na trave para ser artilheiro nas Eliminatórias para a Copa, fiquei a um gol do artilheiro no Mundialito de Portugal e graças a Deus agora tive a felicidade de sair de outra competição como artilheiro.

A Rússia, pouco conhecida no cenário do Beach Soccer foi campeã mundial. Qual o segredo desse time?

Não sei qual é o segredo dessa equipe, mas posso falar que na final eles fizeram uma bela partida, estavam num dia feliz; ao contrário do Brasil onde nada dava certo. Não temos nem que tentar explicar essa derrota, nossa obrigação é assimilar o mau resultado e verificar aonde erramos para que na próxima competição possamos dar a volta por cima.

Mas de certa forma o que aconteceu no Mundial surpreendeu vocês?

Certamente que sim, o Brasil foi para competição em busca de conquistar o pentacampeonato, estávamos concentrados para isso, fizemos boas partidas, mas infelizmente acabou não sendo possível. Mas isso é coisa do esporte, é do futebol, um dia a gente ganha em outro perde. Se o Brasil só ganhasse também esse esporte não teria a menor graça.

A diretoria da confederação não entende bem assim, essa derrota era suficiente para promover uma mudança de comissão técnica? Ocorreram problemas extra-campo?

A gente que é jogador não sabe muito daquilo que ocorre nos bastidores da seleção. Creio que deveriam estar ocorrendo alguns tipos de problemas antes dessa Copa, que não era para ter ocorrido, mas aconteceram e deve ter abalado o grupo de alguma forma. Como disse eu não sei de muita coisa, mas se alguém ficou sabendo pode ter afetado sim no rendimento.

O grupo vem há muito tempo junto, é normal existir crise de relacionamento. Você chegou a presenciar fatos desse tipo?

Não, eu não cheguei. Eu sou um jogador bem tranquilo e costumo ficar muito dentro do quarto quando não estou treinando. Graças a Deus não presenciei contra-tempo algum. A derrota foi fruto das coisas que ocorrem no esporte mesmo. Nós metíamos uma bola na trave, eles vinham fazia um dos gols, nós descontávamos, eles abriam vantagem de novo, Simplesmente não era o nosso dia. A Rússia foi mais competente.

Qual foi o jogo marcante para você dentro da Copa do Mundo?

Contra a Nigéria, que fez uma partida bastante equilibrada com o Brasil levando o confronto para prorrogação. Depois eu tive a felicidade de marcar alguns gols importantes e garantir a classificação brasileira semifinal.

Você está desde 2000 na seleção, nesse tempo qual a seleção que evoluiu mais em sua opinião?

A Rússia. Há dois anos que ela vem ganhando a Eurocopa, realizando boas campanhas no continente, eles agora possuem calendário para o ano inteiro e o beach soccer europeu está evoluindo muito. Todas as seleções estão crescendo bastante, porém os russos estão se destacando. Eles investiram no esporte, fizeram quadras cobertas para não interromper a temporada no inverno e creio que pelo trabalho que estão realizando, mereceram o título. Estão de parabéns!

Então os russos podem ser encarados como o novo Portugal, país que primeiro arranhou a soberania brasileira neste esporte?

Acredito que sim, já são três vezes que a gente encontrou a Rússia dentro de um Mundial, nas duas primeiras nós tivemos bastante dificuldade para vencer e, agora, na primeira vitória deles, quis Deus que fosse numa final e eles se sagraram campeões mundiais.

Você é um jogador de 34 anos, como é que você acompanha esse trabalho de renovação da Seleção Brasileira?

Com muita tranquilidade, todo esporte para se manter competitivo exige renovação. Já passou o tempo de alguns craques e um dia vai passar o meu também. Mas enquanto esse dia não chegar pretendo me dedicar ao máximo para conquistar ainda mais títulos pelo Brasil. Isso é consequência da própria vida.

Como um dos três jogadores mais experientes da nossa seleção, passa pela sua cabeça assumir o papel de comando desse grupo a partir de 2012?

Isso não passa pela minha cabeça, posso te confessar isso. Sou um jogador de grupo e quero ajudar o Brasil em qualquer situação que ele estiver, seja vencendo ou perdendo estarei sempre disposto a dar minha parcela de contribuição. Quero continuar defendendo a seleção durante um bom tempo ainda, é o que eu gosto de fazer.

Você pode ter uma companhia potiguar na seleção, uma vez que Andrey Valério está cotado para assumir o grupo de novo, o que você acha disso?

Eu acredito que é o esporte do Rio Grande do Norte que vai sair ganhando com tudo isso. Se outros atletas forem também como o Alessandro, o Dunga. Na verdade quem vai tirar proveito de tudo isso é o esporte potiguar, que a gente sempre tenta levar o nome dele aos lugares mais altos.

As seleções de beach soccer são bastante regionalizadas, foi difícil para você quebrar essa espécie de lacre?

Antes era muito difícil entrar no grupo, o esporte foi criado lá no Rio de Janeiro onde eles jogavam o ano inteiro e aqui nós tínhamos um evento ou outro apenas. Então nós tínhamos  de aparecer na disputa do Brasileiro. Muitos foram convocados algumas vezes e não conseguiram permanecer, mas Graças a Deus meu trabalho foi reconhecido e estou completando 12 anos de seleção. Com isso sei que as portas se abriram para atletas de outros centros, temos muitos jogadores baianos no grupo e torço que futuramente o nordeste divida espaço com o Sul nas convocações.

Qual o segredo para um atleta ter uma longevidade como a sua dentro de uma seleção?

Se dedicar, treinar, fazer as coisas com seriedade que Deus vai ajudar quem trabalha sério. Já estive na beira da praia treinando em baixo de chuva, em baixo de sol, sempre em busca de me aprimorar para render cada vez melhor dentro do esporte. Eu sempre tive essa preocupação se algum dia fosse servir de exemplo para alguma coisa, meu filho é meu maior fã, chora todas as vezes que me vê jogando na televisão. Do outro lado também fico emocionado, quando estou em campo penso nele, em minha família, nas dificuldades que enfrentei para chegar até ali. Sei que muitas pessoas em Mãe Luiza têm orgulho de mim assim como os meus pais e não desejo acabar com essa imagem.

Como você classifica o nível do beach soccer potiguar, é bom? Você roda o mundo e conhece vários centros e pode dar uma opinião abalizada.

O futebol que nós praticamos aqui posso dizer que é muito forte. Já fomos campeões brasileiros, ficamos em terceiro em outra edição e a própria condição natural da cidade ajuda. O Potiguar joga muito futebol na praia por estar muito próximo a elas, isso facilita muito já que praticamente aprendemos a jogar futebol na areia.

O André chegou a tentar fazer carreira no futebol profissional?

Tentei, joguei pelo ABC e pelo América na categoria juvenil, tive também uma passagem rápida pelo profissional da Emserv, mas eu era Júnior, cheguei a jogar dois estaduais pelo Força e Luz, mas não deu para estender muito essa minha aventura.

Porque o André que faz sucesso no beach soccer, não deu certo no futebol profissional?

Acredito que tenha mais falta de oportunidade mesmo. No beach soccer, assim quando iniciei, me deram um espaço bom, fui logo convocado para Seleção do Rio Grande do Norte, em seguida fui logo para Seleção Brasileira e como não tinha tido muita chance no futebol de campo, coloquei na cabeça que aquela seria minha última chance de ser um jogador e agarrei a oportunidade de transformar meu sonho em realidade.

Você acredita que existam muitos “Andrés” sem oportunidade nos clubes potiguares?

Certamente que sim, já participei de muitas competições no interior do RN e dá para perceber que existem muitos jogadores bons de bola e jovens que não têm a oportunidade de treinar em nenhum dos nossos clubes. Infelizmente os nossos principais clubes preferem dar oportunidade aqueles que vêm de fora, com a idade mais avançada. Acredito que essa cultura deva ser modificada para o bem dos nossos próprios clubes.

Se convidado para atuar profissionalmente por ABC ou América, o André se arriscaria nessa nova empreitada?

Não, futebol de campo não me arriscaria novamente. Muito obrigado se existe alguém que pensa dessa forma, mas estou muito bem resolvido no beach soccer.

Hoje um jogador pode viver bem, apenas com o que ganha no beach soccer?

Acredito que sim, mas a pessoa não vai ter um alto padrão de vida, dá para viver de forma razoável. Graças a Deus tudo o que conquistei até hoje foi fruto da minha participação no esporte e não posso reclamar. O esporte está crescendo, não tenho nada a reclamar, apenas agradecer as oportunidades que tive e volto a dizer que mesmo podendo ganhar bem mais no futebol profissional, não trocaria o beach soccer pelo futebol de campo.

Soube que você pensa em desenvolver um projeto social com crianças, como estão esses planos?

Se Deus quiser pretendo ajudar a tirar as crianças das ruas, onde elas estão expostas a várias coisas erradas como o álcool, as drogas, a uma vida marginal. Quero trazê-las para o lado do esporte, uma vez que nas comunidades muitas almas se perdem por falta de uma boa oportunidade. É justamente isso que pretendo propiciar aos jovens de Mãe Luiza, quero dar uma ocupação a eles e levá-los para o lado bom, de acordo com aquilo que aprendi com meu pai.

Na verdade você será mais um na luta para mudar a imagem do morro de Mãe Luíza?

É já existe um excelente trabalho realizado pela Casa do Bem e com a minha escolinha, que é um sonho antigo, desde que comecei a seguir carreira no beach soccer tinha planos de implantar um trabalho desse tipo e agora ele está perto de ser realizado. Quero retribuir a minha comunidade o que ganhei no esporte.

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