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O bruxo das letras nacionais

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No universo da leitura existem dois mitos que, ao se mostrarem absolutamente infundados, mais confundem do que explicam suas origens. Na verdade, não são dois mitos. É apenas um, ora relacionado a um público, ora a outro. Falo do mito de que os jovens – quando a questão é do mercado globalizado dos consumidores de livros – e também os brasileiros – nos limites das editoras nacionais – não gostam de ler.

O sucesso mundial da série Harry Potter, criada pela inglesa J.K. Rowling e que já vai no sétimo volume, alguns deles com quase 700 páginas, desmente categoricamente o mito relacionado aos jovens. A carreira do autor, a aceitação do público e a sucessivas reedições dos livros de Paulo Coelho no Brasil – e em 150 países – se encarregam de desfazer a questão quanto aos brasileiros. Por que Harry Potter e Paulo Coelho? É o que se perguntam os críticos, alguns professores e todos os intelectuais preocupados com a constância e a qualidade da leitura de jovens e brasileiros. Ninguém parece ter encontrado, ainda, uma resposta satisfatória. Suspeito que uma resposta sequer é necessária. Já basta que jovens e brasileiros leiam mais e, entre uma aventura do bruxo adolescente e uns best-sellers do bruxo de Copacabana, peguem em um dia desavisado um volume de Machado de Assis, de Lima Barreto, de Balzac, de um outro autor qualquer ou mesmo um jornal, e descubram que já não podem mais viver sem leitura.

Sim, sei bem que a maioria da crítica nacional não se contenta com essa vã esperança. Crítica literária precisa ser objetiva, técnica e – preferencialmente – do contra. E a cada lançamento de Paulo Coelho, o letrista maluco barra pesada que fazia parceria com o maluco beleza Raul Seixas nos anos 60 e que em 2002 chegou à Academia Brasileira de Letras, tome pau sobre as qualidades dele como escritor, sobre a mistificação em torno da nova história, sobre a mercantilização do romance etc etc etc. A bruxa de Portobello (296 páginas. R$ 19,90) chega hoje às livrarias nacionais sob essa mesma chuva de impropérios e desconfianças. É o décimo primeiro livro de Paulo Coelho, o primeiro com o selo da editora Planeta. Não se sabe ao certo as somas envolvidas na negociação entre o autor e a nova editora. Mas, uma das cláusulas do contrato reza que a Planeta vai reeditar todos os 10 livros anteriores, “com novo conceito gráfico e ao preço de R$ 19,90”.

Eis a questão! Ou metade dela… Não sei se foi no caminho de Santiago ou em outro lugar qualquer, mas Paulo Coelho intuiu e comprovou que uma boa apresentação gráfica e um preço popular garante público até mesmo entre os “brasileiros que não gostam de ler”. Outra sacada dele: há algumas semanas os primeiros capítulos do novo livro vêm sendo postados no blog (www.paulocoelhoblog.com/bruxadeportobello). Paulo Coelho prometeu postar até hoje, data do lançamento, um terço do livro. Milhares de pessoas foram lá e já têm uma idéia da história que ele propõe contar sobre Athena, a protagonista. Essas pessoas deixaram comentários – que valem mais do que o rascunho de uma crítica aqui – e agora querem saber o final da história. Paulo Coelho até pode não ser um bom escritor, mas é um gênio em marketing pessoal.

Reedição de Kiefer

O gaúcho Charles Kiefer é um desses escritores que encantam pela força narrativa. Ganhador de vários prêmios nacionais, incluindo um Jabuti, e com 30 livros publicados, é também um nome pouco lembrado entre os leitores que não estão situados no eixo sul-sudeste do país. No Nordeste, então, pouco se sabe da sua prosa. Prosa de qualidade que a editora Record está reeditando por inteira. Valsa para Bruno Stein (238 páginas. R$ 35,90), o último volume lançado, conta uma história de amor impossível, mas nem por isso menos intenso e redentor.

Coluna relançada

Em plena Feira de Sebos, aberta ontem, Abmael Silva lançou Os Revoltosos em São Miguel (136 páginas), reedição póstuma de Raimundo Nonato, onde ele conta tintim por tintim a passagem meteórica da Coluna Prestes, em 1926, por uma banda do oeste potiguar. A edição do Sebo é fac-similar ao volume lançado em 1966 pela Coleção Mossoroense, do bravo Vingt-un Rosado, impresso na editora Pongetti (Rio de Janeiro). Para hoje (27), Abmael relança Glosa Glosarum, de Celso da Silveira.

Rubem Mauro revisado

A Idade da Paixão (288 páginas. R$ 39,00), de Rubem Mauro Machado, é mais um romance premiado. Ganhou o Jabuti de 1986 como “melhor romance”. O relançamento é da Bertrand Brasil. O livro estava fora de catálogo há uns 15 anos. A história – a trajetória de um jovem interiorano que em 1961 chega a Porto Alegre, às vésperas da renúncia de Jânio Quadros, e descobre o amor e as frustações da vida urbana – continua impactante. O autor reviu todo o texto e fez algumas mudanças para esta reedição. Admite que correu risco, de deformar o que estava bem acabado, mas também acredita que “o livro ficou melhor, sem deixar de ser o mesmo”.

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