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O caso Marielle

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Ivan Maciel de Andrade                                                                                                           
Procurador de Justiça e professor da UFRN (inativo)                                       

Um grande suspense paira sobre a sociedade brasileira. Há quem ache que o assassinato de Marielle Franco e de seu motorista (Anderson) – que causou grande comoção nacional e internacional – ou vai demorar muito a ser esclarecido ou jamais será (inteiramente) desvendado, com a identificação dos executantes e dos que tramaram e encomendaram o crime. E há quem acredite que a apuração dos fatos é uma questão de tempo: está em jogo a própria credibilidade da intervenção federal no Rio – que exige eficiência e rapidez na resposta ao desafio das organizações criminosas.

O modo como o crime foi arquitetado, seu bem urdido planejamento, mostra que havia um objetivo a ser alcançado com a morte de Marielle. Que objetivo seria esse? Para boa parte da mídia, foi um aviso. As pessoas por trás da mão que disparou a arma estariam dizendo: “O Rio é nosso, continuaremos agindo aqui da forma como quisermos, matando e traficando como sempre fizemos”.

 Um aviso, obviamente, para as tropas da intervenção. Mas por que foi escolhida como alvo Marielle Franco? Por suas bandeiras de luta: a defesa dos direitos humanos, o respeito às minorias e a redução das desigualdades sociais? Ou por suas reiteradas denúncias contra a chamada “banda podre da polícia”, os “milicianos” – que já dominam extensas regiões das favelas e tendem a se expandir? Essas denúncias, feitas durante a intervenção federal por uma jovem líder que tivera a quinta maior votação para vereadora do Rio, teriam incomodado esses grupos que agiam com total impunidade.

Os executantes do crime deixaram, por outro lado, a sua assinatura: trata-se de profissionais que sabiam que arma usar (calibre 9mm), como usá-la (dada a precisão dos tiros), em que momento (ao emparelhar o seu carro, em movimento, com o da vítima) e disparando na direção do lado do banco traseiro em que estava Marielle. Uma ação que foi simplificada pela premeditação e surpresa do ataque. E nada foi deixado ao acaso. Até o local escolhido proporcionava duas vantagens para os facínoras: não tinha câmeras e oferecia, em caso de algum contratempo, várias alternativas de fuga. 

Foi lamentável, além do mais, a divulgação de informações falsas que atentavam contra a dignidade de Marielle por uma desembargadora do Rio e um deputado federal do DEM. Uma tentativa de enodoar sua memória e responsabilizá-la, indiretamente, pelo crime de que fora vítima. Ambos se retrataram, admitindo terem veiculado inverdades, levianamente. Com evidente intenção de denegrir. Um jornalista, ao comentar o episódio, usou uma metáfora candente que retrata a impressão que ficou em todos nós: “Os que propagaram essas mentiras sujaram suas mãos com o sangue de Marielle”.

Incumbe, em última análise, à intervenção federal supervisionar as investigações destinadas a esclarecer o assassinato de Marielle Franco. Afinal, é sua a responsabilidade pela área de segurança no Rio de Janeiro. É preciso identificar os autores intelectuais e materiais do crime e descobrir as suas motivações. Quanto mais cedo isso acontecer, melhor será naturalmente para a política de segurança no Rio. Pelo exemplo, para a política de segurança nos demais Estados e, portanto, em todo o país.

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