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O ciclo do algodão no Seridó – I

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Tomislav R. Femenick – historiador e mestre em Economia

O Seridó é uma região que abrange parte dos estados do Rio Grande do Norte e da Paraíba. A sua porção potiguar ocupa 12.824,8 Km² e tem uma população em 322.453 pessoas, segundo estimativa do IBGE para 2008. É formada pelos municípios de Acari, Augusto Severo, Bodó, Caicó, Carnaúba dos Dantas, Cerro Cora, Cruzeta, Currais Novos, Equador, Florânia, Ipueira, Jardim de Piranhas, Jardim do Seridó, Jucurutu, Lagoa Nova, Ouro Branco, Parelhas, Santana do Matos, Santana do Seridó, São Fernando, São João do Sabugi, São Jose do Seridó, São Tome, São Vicente, Serra Negra do Norte, Tenente Laurentino Cruz, Timbaúba dos Batistas e Triunfo Potiguar. Sua característica climática é a escassez e instabilidade das chuvas, altas temperaturas e baixa umidade. Seu solo pedregoso é de baixa fertilidade (salvo alguns poucos aluviões) e a vegetação natural é preponderantemente de caatinga.

A efetiva colonização da região se deu no final do século XVII, após a expulsão dos holandeses e a chamada Guerra dos Bárbaros, guerra essa desencadeada pelos europeus contra a resistência dos índios Cariris à ocupação de suas terras; primeiro pelos portugueses, depois pelos holandeses e, novamente, pelos portugueses. Vencidos os nativos, ocuparam o Seridó povoadores de origem lusitana, vindos de Pernambuco (Goiana e Iguarassu) e da Paraíba. As primeiras concessões de terras na região datam de 1676 e 1679. Entretanto a emancipação administrativa do Seridó só ocorreu mais de um século após, em 1788, quando foi criado o Município de Vila Nova do Príncipe, hoje Caicó.

Segundo José Augustos Bezerra de Medeiros (Revista do IHGRN, 1948), “na zona do Seridó, certo e seguro é afirmar-se que todo o movimento povoador decorreu da necessidade econômica de encontrar lugar adequado à localização de fazendas de criação de gados. […] O gado foi, desse modo, ao começar o povoamento da terra seridoense, o elemento econômico fundamental, a fonte de riqueza natural de exploração comercial, o princípio de todo o processo da história do Seridó. […] Mas, estava escrito que o algodão seria, com o decorrer dos tempos, a dominante econômica do Seridó. Para isso concorreu decisivamente a qualidade da fibra do algodão preferentemente ali cultivado, melhor do que a de qualquer outro tipo brasileiro, e rival das melhores do mundo, prestando-se admiravelmente à confecção dos tecidos finos”.

O algodão mocó ou “algodão do Seridó” é uma variedade adaptada ao solo árido, resistente às secas e que produz fibras longas, de grande brancura e poucas sementes.  Foi na segunda metade do século XIX que a cotonicultura se expandiu no Seridó; de início como atividade paralela à pecuária e, depois, suplantando-a. A difusão do seu cultivo ocorreu a partir do vale do Rio Seridó, mais particularmente das vizinhanças de Acari. Plantava-se a mesma variedade selvagem cultivada pelos índios Cariris; depois outras já selecionadas. Porém era uma cultura doméstica, de subsistência. Só posteriormente é que foi trabalhado como produto voltado para o mercado. Seu destino primeiro foi à indústria têxtil inglesa, em seguida a nascente indústria de fiação e tecelagem do sul do país. Isso em grande parte foi uma decorrência da sua inquestionável qualidade, qualidade essa que lhe valeu o grande prêmio da Exposição Nacional de 1908, realizado na então capital federal, o Rio de Janeiro, para comemorar o primeiro centenário da abertura dos portos e fazer um inventário da economia do país.

O desenvolvimento da cultura do algodão no Seridó fez com que, em 1910 já existissem na região 171 máquinas beneficiadoras de algodão, sendo 124 bolandeiras (tracionadas por animais) e 47 locomoveis (movidas a vapor). Na década de 1920, a região do Seridó – acentuadamente os municípios Caicó e Jardim do Seridó – produziu mais de 40% de todo algodão exportado pelo Estado para o exterior e para outras regiões do Brasil. Todavia, as deficiências e as contradições internas da cotonicultura seridoense minavam a sua estrutura econômica e apresentava fortes traços de não sustentabilidade. Principalmente dois fatores se enquadram nessa situação: a) em virtude da escassez de solos propícios à agrícola, a cotonicultura desenvolveu-se em pequenas propriedades; b) para aproveitar o solo agrário, o plantio do algodão era consorciado com os de feijão, milho, mandioca ou batata-doce.

Se por outro lado esse tipo de plantio garantia o sustento do produtor e o emprego para o grande contingente de mão-de-obra disponível na região, ele impedia o desenvolvimento tecnológico, pois não permitia o uso intensivo de máquinas agrícolas nem o emprego adequado de defensivos contra as pragas que atacavam o algodoal. Embora presentes em outras áreas do Rio Grande do Norte e do Nordeste, esse sistema era mais acentuadamente característico do Seridó.

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