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O cinema na balança

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Yuno Silva
* Enviado a São Paulo

A temporada de festivais de cinema no Brasil, que juntos contabilizam hoje mais de 230 eventos espalhados por todo o país, começa em São Paulo com o Festival Sesc Melhores Filmes. Há 40 anos em cartaz, o primeiro criado na metrópole paulista, o festival oferece além da oportunidade de ver e rever os filmes mais significativos que estrearam ao longo de 2013, momentos de reflexão sobre produção, distribuição e exibição no mercado nacional. A TRIBUNA DO NORTE foi convidada a participar do Seminário da Crítica – Balanço do Ano de 2013, cuja pauta girou em torno de temas como lançamentos programados, tempo de exibição no cinema, televisões pagas, previews, homevideo, pirataria e acesso e compartilhamento de filmes.
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Com mediação do cineasta e produtor paulista Francisco César Filho, o debate foi transmitido pela internet e reuniu os jornalistas André Miranda (RJ), Heitor Augusto (SP), João Sampaio (BA) e este repórter do VIVER.

“Lembro que na primeira metade da década de 1970, quando comecei a frequentar salas e me envolver com cinema, os filmes passavam semanas, até meses em cartaz, e a frequência de público era gradativa. Agora o parâmetro de êxito das produções está concentrado no primeiro final de semana”, disse o mediador logo no início do debate. O interesse do público aumentava de acordo com o boca a boca e a relevância dada pela crítica especializada. Chiquinho, como é tratado pelos amigos, destacou que o número de lançamentos daquela época é semelhante ao de hoje, e que o Brasil possuía mais que o dobro das atuais salas de cinemas – um tempo que os cinemas se concentravam nos centros das cidades, com salas grandes para até 4 mil pessoas.

Antes de partir para o debate propriamente dito, João Sampaio, crítico de cinema do jornal A Tarde (BA), abriu o seminário apresentando alguns números da Ancine: entre os dados da Agência Nacional do Cinema ele ressaltou a fatia abocanhada pelo cinema verde-amarelo em 2013, que alcançou 28 milhões de expectadores, de um total de 150 milhões de ingressos vendidos. Entre a dez maiores bilheterias nacionais (oito delas comédias com selo da Globo Filmes)  atraíram mais de 22 milhões de pessoas – “Minha Mãe é uma Peça”, “De pernas pro Ar 2” e “Meu Passado me Condena” foram os campeões de audiência com, respectivamente, 4,6; 3,7; e 3,1 milhões de expectadores. Os filmes “Faroeste Caboclo” e “Somos tão Jovens”, produções vinculadas ao universo da banda brasiliense Legião Urbana foram os dois ‘intrusos’ da lista. 

“Diante desse resultado”, ponderou Sampaio, “recorro ao texto do André Miranda (crítico do O Globo, RJ) que está no catálogo do próprio Festival, onde ele cita o (teórico de cinema) Jean-Claude Bernardet: será que podemos comparar essas comédias globais com as chanchadas dos anos 1950, que não recebiam a devida atenção da crítica na época?”, lançou a pergunta. Ele sabia que seu questionamento não teria uma resposta pronta, fechada, foi mais uma provocação levantada para reflexão geral, inclusive do público que acompanhou o debate pela internet ou esteve presente no auditório do espaço Cinesesc, na Rua Augusta, endereço que concentra toda a programação do evento até dia 30 de abril.

Educação do olhar
O jornalista Heitor Augusto, que atualmente vem se dedicando a ministrar cursos sobre cinema, bateu na tecla da necessidade de se pensar em ações conjuntas para formação de público. “A educação do olhar tem que começar desde a base, nas escolas, as pessoas precisam aprender a ler cinema e ter uma visão mais crítica diante do que está sendo exibido. Acredito que assim podemos vislumbrar um futuro mais interessante”, aposta.

Ampliação de salas
Como a pauta era extensa e cada assunto demandava desdobramentos mais aprofundados, temas como compartilhamento de filmes e pirataria, serviços online por demanda e o sumiço das locadoras do mercado acabaram sendo pouco explorados: o foco esteve mais voltado para questões igualmente importante como a impossibilidade do mercado exibidor absorver tudo o que é produzido pelo cinema nacional; a dificuldade dos pequenos exibidores promoverem a transição para o sistema digital; os planos do Ministério da Cultura para ampliar o número de salas (o MinC planeja chegar a 8 mil salas até 2020). Vale refletir sobre o papel dos ditos filmes piratas na difusão do cinema (que antes era missão dos cineclubes) e a cada vez menos relevante opinião da crítica especializada diante das astronômicas cifras de divulgação de um novo lançamento.

Panorama diferente
A presença potiguar durante o Seminário serviu para apresentar um panorama bem diferente da vista nos grandes centros urbanos do país, no caso, ali representados por Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. Natal possui atualmente 26 salas de cinema, aglutinadas em quatro shoppings da cidade, com programações semelhantes – esta semana em particular, com predomínio de sessões dedicadas aos filmes “Rio 2” e “Noé”, é um bom exemplo de como o público está refém da falta de diversidade. Óbvio que o mercado é regido por questões econômicas e comerciais, mas o modus operandi focado em blockbusters acaba privando expectadores interessados em ir além do trivial, por isso foi destacada a experiência da sessão Cine Cult em Natal, uma alternativa que se mostra viável ao promover sessões em salas com ocupação bem acima da média local.

Ainda sobre o RN, também foram elencadas durante o Seminário a recente produção de curtas-metragens potiguares; a busca por formação profissional na área; e as ações articuladas que visam organizar a cadeia produtiva do audiovisual potiguar. Outros assuntos citados foram as recentes negociações para se tentar garantir mais espaço e atenção dentro das instituições que conduzem a formatação de políticas públicas para o segmento (leia-se Funcarte) e o circuito de festivais, que inclui Mostra de Gostoso, Goiamum Audiovisual, FestNatal e o Festival Internacional de Baia Formosa.

Exposição e festa
Na abertura do Festival Sesc Melhores do Ano, ocorrida dia 2 de abril, foram entregues prêmios aos melhores de 2013. A produção pernambucana “O Som ao Redor” foi a grande vencedora, faturando Melhor Filme, Fotografia, Roteiro e Diretor para Kleber Mendonça Filho. Denise Fraga foi eleita Melhor Atriz pelo filme “Hoje”, da diretora Tata Amaral, e Irandhir Santos escolhido Melhor Ator pela atuação em “Tatuagem”.  Durante a abertura foi exibido em avant-première o filme “Hoje eu quero voltar sozinho”, de Daniel Ribeiro.

E para comemorar a 40ª edição, o Festival montou uma exposição fotográfica no hall do Cinesec com imagens em preto e branco de atores e atrizes premiados em versões anteriores do evento como Antônio Abujamra, Caio Blat, Carlos Vereza, João Miguel, Laura Cardoso, Matheus Nachtergaele, Othon Bastos, Paulo José, Ruth de Souza e Zezé Motta. Para completar, uma exposição hermila guedes, entre eles Antônio Abujamra, Caio Blat, Carlos Vereza, João Miguel, Laura Cardoso, Matheus Nachtergaele, Othon Bastos, Paulo José, Ruth de Souza, Sandra Corveloni e Zezé Motta. Completam a festa a “Seleção 40 Anos”, com exibição de nove clássicos do cinema brasileiro como “Eles Não Usam Black Tie”, “Memórias do Cárcere”, “Xica da Silva”, “O Beijo da Mulher-Aranha”, “Pixote – A Lei do Mais Fraco” e “A Hora da Estrela”.

Números
7% dos municípios brasileiros possuem ao menos uma sala de cinema
2.679 É a quantidade de salas no país
127 Lançamentos nacionais em 2013(quase a metade dos 270 títulos estrangeiros que aportaram no país ano passado)

(*) A reportagem do VIVER viajou a convite do SESC SP

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