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O cunhado de Liliu

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Woden Madruga
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No meio da semana caiu  na minha bacia das almas nova crônica de Berilo de Castro,  que vai indo firme na arrumação do próximo livro. Conta uma das histórias fantásticas de Adail Loiola Barata, nome de embaixador, mas que era conhecido apenas pelo apelido de Liliu, uma das personagens mais ricas do folclore natalense, coisa aí do final dos anos 40 esticando até a década dos 60, um dos reitores da Universidade do Grande Ponto.  Bom, mas deixe o doutor Berilo, médico e também craque no futebol, contar esta história:

“Adail Loiola Barata (Liliu) figura folclórica, muito conhecida que marcou época em Natal nas décadas de 1950 e 60. Homem de média estatura, de boa conversa, sempre alegre, óculos caídos no nariz, verve privilegiada e um tanto relaxado com suas vestimentas.

Nunca levou a sério a responsabilidade com o trabalho formal. Mesmo assim, sempre se deu muito bem com a vida que levava, devido aos bons dotes a sorte que possuía como um grande e inveterado apostador.

Apostava e ganhava em tudo que era jogo. Apostava e ganhava até em jogo de biloca. Presença contumaz nos estádios de futebol, salões de sinuca, rinhas de galo de raça e de canários brigadores. Fino e experto jogador de sinuca. Exímio gozador.

Gostava (talvez tenha sido o primeiro) de usar a palavra “maracatu”, empregada para aquelas pessoas relegadas, que só merecem desprezo; sem importância, sem nenhuma expressão e valor.

Guardo sua lembrança na memória, nos jogos do Estádio Juvenal Lamartine, quando faturou muito dinheiro apostando no time do Alecrim Futebol Clube, nas conquistas dos títulos de 1963/64. Nunca dividiu com ninguém os seus ganhos. Era sovina, um verdadeiro mão de vaca.

Essas figuras nem sempre conseguem levar para sempre os seus planos e viver perenemente como desejam. “Como tudo na vida acontece” – já dizia o cancioneiro popular -, a vida sempre lhes apresenta surpresas, algumas não muito boas.

E assim aconteceu como o nosso grande e sortudo apostador. Entrou em sua vida, a figura de um cunhado. No começo, tudo às mil maravilhas: bem empregado, boa moradia, ganhando bem, sempre perguntando se o cunhado estava precisando de alguma coisa, pois estava pronto para ajudar.

Gabava-se Liliu, com um largo e infindável sorriso, que a sua irmã tinha acertado na milhar. Fora premiada com o cartão da sorte. Benza Deus!

O tempo foi passando, e o golpe do cunhado foi se manifestando: deixou o emprego, se achando muito cansando. Dizia que sentia muita dor nas costas e que o trabalho estava acabando a sua coluna, já se pronunciando, quem sabe, uma bela hérnia de disco lombar, dizia ele.

Abandou o emprego. A casa começou a cair: o dinheiro desapareceu, o aluguel ficou atrasado (e muito atrasado). Perdeu a moradia. Saída imediata. Morar com quem? Lógico, com o cunhado querido. Passava o dia todo em casa de ventilador ligado; dormia tarde vendo televisão e, ainda por cima, não desligava o aparelho, o qual passava a noite toda ligado. A conta de energia começou a subir. Acordava tarde, já na hora que o cunhado vinha chegando, suado e cansado na busca dos provimentos para o lar.

O cunhado bocejando, ainda com cara de sono, não dava nem um bom dia e perguntava:

– Seu Liliu, trouxe o jornal?

De cara fechada, respondia Liliu: Trouxe! Qual? A República! Não gosto, só leio a Tribuna. Na hora do almoço era o primeiro a sentar à mês, sem camisa, e na cabeceira, o lugar por respeito reservado somente para o dono da casa. Muito exigente, comia muito e rápido. Era também o primeiro a pedir a sobremesa:

– Tem doce, seu Liliu? Tem!

Respondia Liliu. Qual? Bananada Potiguar! Não gosto, só como goiabada cascão Cica. Enquanto isso, ficava palitando e chupando os dentes. Liliu suava frio e os óculos já não se sustentavam sobre o nariz. Às três da tarde, depois da sesta profunda e demorada, sentava à mesa, já perguntando pelo lanche:

– Tem abacatada com uma torradinha quentinha com queijo de Minas?

– Não, só tem mariola.

-Não conheço, não me cheira bem, não faz parte do meu cardápio. Embrulha o meu estômago.

No jantar, era novamente o primeiro a chegar a mesa: – Tem uma sopinha de legumes com frango desfiado e uma torradinha com manteiga Itacolomy? Não, só pão com mortadela e manteiga de lata grande, misturada com banha de porco.

– Não como nada disso, me dá azia. Liliu enfezado e p. da vida, explodiu. Disse não! Mandou o mala, o folgado e o exigente cunhado pentear o macaco, procurar e juntar batata podre na feira, uma lavagem de roupa, passar o tempo se divertindo enxugando barras de gelo com a língua e, ainda ir olha de ele (Liliu) estava na esquina.

E num grito de liberdade, com os óculos espedaçados no chão, esbravejou: desapareça da minha vida e da minha casa, já. Não volte mais nunca seu MARACATU PALOMBETA!!!”

Do cangaceiro
Na gaveta dos papéis desarrumados encontro um bilhete de Enélio Petrovich, datado de 7 de julho de 1984:

“Caro Woden:

O Cangaceiro Raimundo Nonato está publicando outro livro de memórias. Pediu-me para dizer a você.

Olhe, já estou no final da gestão à frente da Governadoria do Lions – Distrito L-25. Anteontem, participei da solenidade conjunta da posse dos cinco clubes desta cidade. Belíssima.

Hoje, é a assembleia solene, em João Pessoa, dos Lions Clubes daquela valorosa cidade. Também estarei presente. São os espinhos e as flores da missão gratificante. Um ano de trabalho desinteressado em benefício dos menos afortunados da sorte. É isto que o Lions vem fazendo, graças a Deus.

Enélio”

Poesia
“Nua, às três da madrugada, / ainda escavo minas / instaladas em minha alma. ” (Do poema Predestinada, de Marize Castro, em seu livro “Esperando Ouro”).

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