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O dia em que a terra tremeu

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Yuno Silva
Repórter

No raiar do dia 30 de novembro de 1986, pontualmente às 5h19min48s, moradores de João Câmara acordaram assustados com o estrondo vindo das entranhas da terra. O mais forte dos abalos, registrados na região desde 1904, sacudiu a cidade com 5.1 pontos na escala Richter (medida utilizada para quantificar a magnitude de um sismo) e conferiu destaque ao município no noticiário nacional. A repercussão do acontecimento não se deu pela intensidade do tremor, mas sim pelo efeito social que o terremoto causou: na época, dos mais de 20 mil habitantes, cerca de 12 mil pessoas abandonaram suas casas (no mesmo dia dos tremores) com medo do que poderia vir.
Há 30 anos, 12 mil moradores de João Câmara deixaram a cidade por medo em novos tremores
A feira deixou de acontecer, o comércio quase se extinguiu e os que ficaram tiveram que acampar na rua até que os imóveis fossem reparados pelo Exército. A situação só foi se normalizar seis meses depois.

#SAIBAMAIS#Não faltaram teses mirabolantes para tentar explicar os motivos dos abalos. Muitos pensaram que o fim do mundo se aproximava; outros até hoje garantem que quando a baleia gigante, que entrou pelo Rio Ceará Mirim e foi parar embaixo da Serra do Torrião, se mexe balança tudo em volta. Alguns dizem se tratar de uma cobra gigante!

Agora, 30 anos depois, João Câmara ainda convive com tremores pequenos e periódicos, mas nada comparado ao “enxame” de abalos em 1986. O episódio continua nítido na memória de quem viu a terra tremer, ao contrário da nova geração que desconhece os detalhes.

Os primeiros terremotos registrados na então Baixa Verde datam de 1904, quando um balde de leite virou com a sacudida que a terra deu em uma fazenda próxima da Serra do Torrião.

“Ali na região há uma falha geológica, a falha de Samambaia, a maior falha ativa do Brasil com 40 km de extensão, epicentro do terremoto de 1986 há 10 km de distância do centro de João Câmara. A falha é do tipo transcorrente como a de San Andreas, na Califórnia, com movimentação lateral”, ensina o professor Joaquim Mendes Ferreira, geofísico e sismólogo do Departamento de Geofísica da UFRN. Joaquim faz pesquisas na área desde 1983 e acompanhou de perto as consequências dos abalos de 1986.

“A pressão na falha geológica de Samambaia é constante, e a energia liberada na época está se acumulando novamente, por isso é possível termos outros tremores grandes. Ninguém sabe como vai se processar esse desacumulo de energia, não temos como afirmar se teremos o que a gente chama de ‘enxame’, quando tem vários abalos concentrados em um curto período de tempo, ou se será um mais forte isolado”, explicou o geofísico, descartando a teoria de colapso de cavernas calcárias subterrâneas.

Essa teoria foi elaborada por um geólogo alemão que visitou a área na década de 1930, à convite do empresário e político João Câmara (1895-1948).

Sobre o “enxame” de abalos captado pelos quatro sismógrafos instalados na região, Ferreira contou que “tiveram pelo menos outros 20 tremores no período de 1986 e 1989 acima de 4 pontos na escala Richter”. Os equipamentos foram trocados por duas estações digitais: uma fica na fazenda Arizona, em João Câmara, e a outra em Riachuelo, esta interligada a uma rede mundial de monitoramento sísmico. O professor garante que quem estava em Natal também ouviu e sentiu o terremoto de 1986. “Estava acordado na hora, parecia um caminhão que não parava de passar. Minha televisão andou na estante”.

Abalos em João Câmara
Saiba detalhes ocorridos há 30 anos

Maiores abalos registrados (em pontos na escala Richter):
4.3 em Parazinho (1972)
5.1 em João Câmara (1986)
5.0 em João Câmara (1989)
4.3 em Taipu (2010)

40

quilômetros é a extensão da falha geológica de Samambaia, a maior falha ativa do Brasil, que fica na região de João Câmara

20

Tremores acima de 4 pontos na escala Richter sacudiram a região entre 1986 e 1989

3
quilômetros era a profundidade do epicentro do terremoto de 1986

Sobre o terremoto de 1986

3.569
Casas foram danificadas na área urbana de João Câmara

488
Casas foram interditadas e tiveram de ser desocupadas até que fossem reconstruídas

229
Casas ficaram danificadas na zona rural e 62 foram interditadas

19.855
Pessoas foram afetadas, cerca de 12 mil deixaram a cidade na época

9.617
Abrigos de lona foram montados para abrigar a população durante a reconstrução das casas

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