quinta-feira, 28 de março, 2024
24.1 C
Natal
quinta-feira, 28 de março, 2024

O doce mel das abelhas mansas

- Publicidade -
Elas não ferroam, são  brasileiras legítimas, e produzem um mel suave, saboroso, e que tem estimulado as ideias gastronômicas de muita gente. As abelhas Jandaíra produzem o mel que é um dos produtos de maior identidade em território potiguar. Apesar de ainda não ser tão difundido quanto o mel das abelhas africanas e europeias, o produto regional segue procurando seu espaço no mercado através de variadas iniciativas.

A jandaíra vive há milhares de anos na região semiárida. A espécie está ameaçada pelo desmatamento da Caatinga e a seca


A jandaíra vive há milhares de anos na região semiárida. A espécie está ameaçada pelo desmatamento da Caatinga e a seca

O livro “A abelha Jandaíra: no passado, no presente e no futuro” (Ed. EduFERSA), organizado pelos professores Vera Lúcia Imperatriz-Fonseca, Dirk Koedam e Michael Hrncir,  a partir de estudos realizados na Universidade Federal Rural do Semi-Árido desde 2010, é um documento que pode levar a cultura do mel potiguar para outros níveis de conhecimento. O livro foi indicado para uma categoria científica da 60ª edição do Prêmio Jabuti, um dos maiores reconhecimentos literários do país.

“O livro foi uma tentativa de juntar diversas formas de conhecimento, popular e científico, sobre essas abelhas. Acredito que a combinação de conhecimentos é fundamental para entender melhor esses animais e poder conservá-los frente às ameaças ecológicas atuais”, afirma Michael Hrncir, um dos organizadores. A publicação combina textos de pesquisadores universitários e textos de meliponicultores – alguns  conviveram com o padre Huberto Bruening, criador da abelha jandaíra em Mossoró na segunda metade do século passado.

Em um ano de chuva e florada, a colônia produz apenas 2 litros de mel


Em um ano de chuva e florada, a colônia produz apenas 2 litros de mel
Os professores elaboraram  textos científicos em uma linguagem não-científica para deixá-los mais acessíveis a universitários, estudantes, criadores de abelhas, e pessoas apaixonadas pela natureza e sua conservação em geral. As abelhas jandaíra são parte de uma categoria “sem ferrão”, diferente das abelhas africanas e italianas, as mais trabalhadas pelo mercado produtor. O mel da jandaíra também tem propriedades diferentes. O sabor é bastante diferenciado, menos doce, mais líquido e muito mais suave.

A jandaíra vive há milhares de anos na região semiárida, muito antes dos primeiros seres humanos. Devido a esse tempo longo, ela se adaptou bem à situação climática e ecológica. Mesmo assim, o maior desafio para os meliponicultores ainda é a seca. Pelo fato de a produção ser menor, o mel da jandaíra costuma ser mais caro que o das abelhas africanizadas. “Em um bom ano de chuva com floradas, podemos extrair em volta de 2 litros de mel de uma colônia de jandaíra, enquanto as abelhas africanizadas produzem em torno de 50 litros ou mais. Elas também são menos populosas”, diz. O RN e o Ceará lideram a produção.

A Rota do Mel de Jandaíra
As abelhas também enfrentam a redução do ambiente natural. “As abelhas gostam das plantas nativas da caatinga. Porém, essas plantas são reduzidas dramaticamente para a produção de carvão, lenha ou simplesmente porque crescem em áreas destinadas à agricultura. Sem essas plantas, não há como manter as abelhas no ambiente e muito menos criá-las para a produção de mel”, explica.
Mel Joca faz parte de ação entre meliponicultores e Ministério da Integração. Eles também tem apoio do movimento Eco Chefs, do qual participa Alex Atala

Mel Joca faz parte de ação entre meliponicultores e Ministério da
Integração. Eles também tem apoio do movimento Eco Chefs, do qual
participa Alex Atala
O município de Jandaíra tem uma relação tão íntima com as abelhas, que tomou o nome delas para si. Em conjunto com o Ministério da Integração Nacional,  foi criado o programa Rota do Mel, que integra meliponicultores, universidades e instituições de pesquisa para desenvolver ações que invistam no mel de jandaíra. “Essas ações se tornam cada vez mais necessárias devido as ameaças que elas sofrem pela seca e o desmatamento da caatinga”, afirma Francisco Melo Medeiros, coordenador dessa rota potiguar.
O mercado do mel de jandaíra tem dois caminhos distintos, segundo Francisco: o consumo medicinal, que é o mais tradicional, ligado às raízes regionais, e aquele do incipiente mercado saudável/gourmet, de pessoas que apreciam o conceito slow food do produto “saboroso, limpo e justo”. Francisco destaca a presença dos chamados “eco chefs”, que procuram produtos naturais e que contribuem para a manutenção ambiental. O renomado Alex Atala é um dos fãs ilustres desse mel.

Francisco Melo ensina as crianças a manipulação das abelhas


Francisco Melo ensina as crianças a manipulação das abelhas
A Rota do Mel reúne atualmente 11 municípios do estado. Além de Jandaíra, que é o pólo e berço genético, segundo Francisco, se destacam ainda João Câmara, Bento Fernandes, Parazinho, Mossoró, e Açu. Pode-se encontrar o mel no Espaço Terroir da Festa do Boi, e em breve, na Central de Agricultura Familiar.
- Publicidade -
Últimas Notícias
- Publicidade -
Notícias Relacionadas