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O “dom” da vida

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INCLUSÃO SOCIAL - Jonas da Silva mostra intimidade e postura correta na hora de rebater a bolinha do tênis e sonha com uma carreira vitoriosa

Para muita gente o talento, principalmente, no campo esportivo é um ‘dom’ divino e natural. Quem nunca ouviu a famosa frase popular: “Esse menino nasceu com o ‘dom’ para isso ou para aquilo!”. Com o avanço da ciência e da tecnologia, no entanto, os cientistas atribuem tal ‘dom’ ao DNA. Seja sob o brilho da luz divina ou pela herança genética, o potiguar Jonas Jerônimo da Silva, de 9 anos, já é considerado uma revelação no tênis.

Filho de empregada doméstica, o garoto tímido do bairro de Santarém, localizado na zona Norte de Natal, jamais teria tido contato com o tênis – ainda considerado esporte de elite -, salvo por um convite de parentes para exercer a já tradicional função de “boleiro” – espécie de ‘gandula’ do tênis – nas quadras do Aeroclube, onde tudo começou.

“Ele começou aqui como boleiro. Mas, numa simples brincadeira fiquei impressionado com a desenvoltura dele, o jeito de pegar na raquete, já no primeiro contato, como batia na bola…”, disse Fernando Ricco, professor de tênis do Aeroclube, contando como foi o primeiro contato com a nova revelação do esporte no Estado. Mas, como ainda é considerado um esporte caro, o tênis estava longe da realidade do “boleirinho” do Aeroclube.

É aí que entra Fernando Ricco. Apostando na nova promessa, o professor começou a correr, literalmente, em busca de recursos para manter uma estrutura básica de treino que fosse para “lapidar” o garoto. “No começo, há poucos meses, contamos com a ajuda de um e de outro que freqüenta o Aeroclube. Ainda contamos com muitos deles. Mas, quem resolveu ‘adotar’ o menino foi o empresário Fernando Veríssimo, através do Shopping Cidade Jardim, estabelecimento de sua propriedade”, revelou Ricco.

“Hoje, ele (Jonas) já conta com nutricionista, auxílio de uma psico-pedagoga, acompanhamento médico e tudo mais. O básico, pelo menos do que um atleta precisa para começar uma carreira”, completou o professor, que também dá sua parcela de contribuição ao ensinar o garoto a jogar tênis gratuitamente. “É uma aposta. É muito difícil um garoto de baixa renda se destacar num esporte como o tênis, mas ele tem futuro e quero colocá-lo entre os dez melhores do ranking brasileiro na faixa etária dele, já no próximo ano”, disse, otimista.

O primeiro grande teste de Jonas foi o torneio do último fim semana em Recife. “Lá, ele enfrentou três jogadores pernambucanos de ponta e conseguiu vencer os dois mais fortes. Era o teste que precisava para ter uma idéia melhor do potencial dele. A resposta dele foi muito boa”, comemorou Fernando Ricco.

“Quero ser jogador de tênis”

“Quero ser jogador de tênis”. Simples assim. Essa é a aposta do próprio ex-boleiro Jonas, que, apesar de toda timidez aparente, fala com a segurança de um campeão. Estudante do 4° ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Professora Zuleide Fernandes, o aprendiz de tenista já começa a viver novas experiências fruto do seu talento.

Da família de cinco filhos, Jonas é o único dos irmãos Silva que já conta com algumas horas de vôo no currículo. Horas que ele sonha que sejam ampliadas, apesar do frio que sentiu na barriga ao entrar pela primeira vez num avião. “Senti um pouco de medo no começo, mas depois passou. Gostei de andar de avião”, disse, mais descontraído. 

“Fomos para Recife no último fim de semana de avião, porque conseguimos recursos com Fernando Veríssimo e as passagens estavam baratas”, contou Ricco. Outra conquista no tênis é a bolsa de estudos que deve ganhar do Instituo Maria Auxiliadora.

Para se transformar em atleta de ponta no tênis, Jonas terá que superar muito mais do que as adversidades físicas naturais que exige o esporte de alto rendimento. “Sem intercâmbio o atleta não vai muito longe no tênis. E para isso, precisamos mantê-lo em torneios regulares pelo Brasil, o que vai ter custo com passagens e hospedagem”, disse Ricco.

Mas, parece que, além do talento, Jonas também conta com a sorte, outro ingrediente importante para o sucesso no esporte. Fernando Ricco já tem a promessa do recém-patrocinador, Cidade Jardim, que deve investir na carreira do atleta, custeando as passagens e hospedagens necessárias para a disputa dos torneios.

“Sem disputar torneios com outros atletas pelo Brasil e até fora do país, não há chance. Mas, se conseguirmos viagens regulares para disputar os torneios da Confederação Brasileira de Tênis, pelo menos, já será um grande passo”, destacou Ricco.

Tênis como ferramenta de inclusão

Coordenador do projeto “Adote um tenista”, que acolhe 50 crianças na faixa etária dos 8 aos 14 anos da favela do Maruim, Brasília Teimosa e Praia do Meio, e que também é realizado nas quadras de saibro do Aeroclube, Fernando Ricco abriu às portas do esporte de elite, transformando o tênis numa poderosa ferramenta de inclusão social.

“É impressionante a disposição desses meninos e meninas para vir para as aulas gratuitas do projeto. Na verdade, as crianças vêm para cá para ter o prazer de ser criança. Você ver o sorriso dessas crianças, o brilho nos olhos. É muito gratificante”, comentou Fernando Ricco.

Segundo o professor, além de “brincar” de tênis, os meninos têm acompanhamento do comportamento em casa e na escola. “Todas as cinqüenta crianças têm a mesma atenção e é um forma de deixá-las distante das ruas, das drogas…”, avaliou Ricco, que conta com o apoio da Amatra.

O material esportivo – raquete e bolas – é doado pelos próprios tenistas que freqüentam o Aeroclube. “Com a ajuda de um e de outro vamos conseguindo manter o projeto”, emendou Ricco. O projeto “Adote um tenista” conta com aulas nas terças e quintas-feiras, das 9h às 11h. A seleção das crianças fica à critério da Semtas – Secretaria Municipal de Trabalho e Ação Social.

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